ALGUÉM
DEFECOU
João Eichbaum
“Nenhuma baderna, ninguém defecou e nem urinou
em público, não rolou maconha e nenhuma mulher mostrou os peitos caídos e nem o
suvaco cabeludo.” É o que diz um texto jocoso, que circula nas redes sociais,
celebrando a posse de Jair Messias Bolsonaro como presidente da república.
Sim, na verdade, ao que se tenha visto,
“ninguém defecou e nem urinou em público”. Mas, na parte privada do Palácio do
Planalto, acontecia algo que exalava a dejeto jurídico, enquanto lá fora o povo
festejava o novo presidente, sem a presença de baderneiros profissionais
movidos a pão com mortadela e xixi em qualquer parte.
Vocês se lembram de um tal de Marun, Carlos
Marun? Um gordinho de olhos atônitos e cabelo espetado de gambá, deputado do
MDB, que está sendo processado por improbidade administrativa, que fez de tudo
para melar o processo de cassação do Eduardo Cunha, que usou dinheiro público
para visitar o dito Eduardo na cadeia de Curitiba, que teve o mandato suspenso
pelo STF, por obstrução às investigações contra si?
Pois, no currículo desse tal de Carlos Marun,
Temer não viu obstáculos de índole moral, para tê-lo como braço forte do
Executivo. Ao assumir a presidência, após a defenestração da Dilma, nomeou-o
ministro da Secretaria do Governo.
Marun então desocupou sua cadeira no Legislativo
para o bumbum do suplente. Como não se candidatou à nova eleição, agora, no fim
do governo Temer, perdeu o mandato.
Mas Temer não deixou o amigo na mão. No dia 31
de dezembro, ao se descerrarem as cortinas da pantomima que se iniciara com a
Dilma e terminava com o Temer, o diário oficial publicava dois atos: o da
exoneração de Marun como Secretário de Governo, e o de sua nomeação para o
cargo de conselheiro da Itaipu. Por essa função tão espinhosa, que consiste em
duas reuniões mensais, e para cujo exercício só é necessário ter padrinho,
Marun vai amealhar vinte e sete mil reais por mês.
Nas solenidades de posse do Presidente da República,
cheias de pompas e circunstâncias, a Constituição federal é idolatrada, como se
fosse um tabernáculo que abriga divindades. O presidente estende a mão e jura
que vai defendê-la. Senão, nada feito.
Mas isso não passa de um ato da farsa
democrática. Se assim não fosse, a Constituição
não se prestaria como penico para dejetos jurídicos, proibidos expressamente no
seu artigo 37. Ao aparecer em público pela última vez, recebendo seu sucessor, Temer,
que jurou defendê-la, foi ruidosamente vaiado. Dessa vez deve ter pensado:
agora estão me vaiando com razão. E, com o sorriso macilento de quem sabe que
pisou em merda de gato, saiu andando...
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