ERA
UMA VEZ
João
Eichbaum
Parece
que a, assim chamada, “grande imprensa” brasileira está abandonando
definitivamente o jornalismo. Desde que foi anunciada a candidatura de Jair Bolsonaro
à presidência da república, os jornais de maior circulação começaram a se
despir de seu status de “imprensa”. Deixaram de ser veículos de notícias, para
assumir feições inconfundivelmente panfletárias.
Essa
postura foi tomando corpo à medida que as redes sociais engrossaram a voz.
Então, vendo que não poderia suplantar as concorrentes com a força do nome, da
tradição e da história que a fez crescer, a “grande imprensa” apelou para a
mesma arma cujo emprego condenava nos adversários: a mentira.
Não.
Mentira, não. Mentira é coisa feia, abjeta. Então, importaram do inglês a expressão
“fake news”, como se não houvesse no vocabulário português, termos adequados
para disfarçar a feiúra da mentira.
E
haja “fake news”. A cada dia apareciam novos resultados dos institutos de
pesquisa, com a nítida intenção de desestimular, de desestabilizar o ânimo dos
eleitores de Bolsonaro. Não podendo mascarar os números que o apontavam como
franco favorito no primeiro turno, inventavam “projeções”, nas intenções de
votos do segundo turno.
Bolsonaro
venceu. Mas, essa realidade soou brutal para a “grande imprensa”: foi uma
verdade maior do que suas manchetes e projeções. Por isso o espírito de
panfleto raivoso permaneceu nas páginas daqueles jornais. As manchetes então
passaram a servir de espaço para picuinhas, para maliciosas ou infantis distorções
de sentido, em tudo o que diz respeito aos Bolsonaro.
Depois
que um dos filhos do presidente eleito teve a vida vasculhada no beco escuro
das alcovas, a grande manchete de agora é a conta bancária de outro rebento,
que tem como pano de fundo a mãe e a ex-mulher de um investigado. Nunca a
fábula do Lobo e do Cordeiro esteve tão presente nas notícias: se não foi você,
foi seu filho...
A
grande imprensa, na realidade, está respirando por aparelhos de informática. O
que sobrou dela está servindo para a definitiva desmoralização do jornalismo. Ela
já não se expressa com beleza e equilíbrio, mas vocifera, nas entrelinhas, como
um energúmeno, porque não encontra outro jeito de combater a força das redes
sociais.
A
falta de qualificação de cronistas e redatores, enfim, está levando aquilo que
se chamava de jornalismo para o mesmo estrato cultural das postagens de
facebook. Triste estertor do jornalismo
aristocrático, perdendo o poder que tinha dentro do poder.
Nenhum comentário:
Postar um comentário