sexta-feira, 25 de janeiro de 2019


ERA UMA VEZ
João Eichbaum

Parece que a, assim chamada, “grande imprensa” brasileira está abandonando definitivamente o jornalismo. Desde que foi anunciada a candidatura de Jair Bolsonaro à presidência da república, os jornais de maior circulação começaram a se despir de seu status de “imprensa”. Deixaram de ser veículos de notícias, para assumir feições inconfundivelmente panfletárias.

Essa postura foi tomando corpo à medida que as redes sociais engrossaram a voz. Então, vendo que não poderia suplantar as concorrentes com a força do nome, da tradição e da história que a fez crescer, a “grande imprensa” apelou para a mesma arma cujo emprego condenava nos adversários: a mentira.

Não. Mentira, não. Mentira é coisa feia, abjeta. Então, importaram do inglês a expressão “fake news”, como se não houvesse no vocabulário português, termos adequados para disfarçar a feiúra da mentira.

E haja “fake news”. A cada dia apareciam novos resultados dos institutos de pesquisa, com a nítida intenção de desestimular, de desestabilizar o ânimo dos eleitores de Bolsonaro. Não podendo mascarar os números que o apontavam como franco favorito no primeiro turno, inventavam “projeções”, nas intenções de votos do segundo turno.

Bolsonaro venceu. Mas, essa realidade soou brutal para a “grande imprensa”: foi uma verdade maior do que suas manchetes e projeções. Por isso o espírito de panfleto raivoso permaneceu nas páginas daqueles jornais. As manchetes então passaram a servir de espaço para picuinhas, para maliciosas ou infantis distorções de sentido, em tudo o que diz respeito aos Bolsonaro.

Depois que um dos filhos do presidente eleito teve a vida vasculhada no beco escuro das alcovas, a grande manchete de agora é a conta bancária de outro rebento, que tem como pano de fundo a mãe e a ex-mulher de um investigado. Nunca a fábula do Lobo e do Cordeiro esteve tão presente nas notícias: se não foi você, foi seu filho...

A grande imprensa, na realidade, está respirando por aparelhos de informática. O que sobrou dela está servindo para a definitiva desmoralização do jornalismo. Ela já não se expressa com beleza e equilíbrio, mas vocifera, nas entrelinhas, como um energúmeno, porque não encontra outro jeito de combater a força das redes sociais.

A falta de qualificação de cronistas e redatores, enfim, está levando aquilo que se chamava de jornalismo para o mesmo estrato cultural das postagens de facebook.  Triste estertor do jornalismo aristocrático, perdendo o poder que tinha dentro do poder.



Nenhum comentário: