ESPELHO
MEU, EXISTE ALGUÉM MAIS PODEROSA DO QUE EU?
João
Eichbaum
Dono
de uma folha corrida carregada de malfeitos e condenado por homicídio, o
sujeito foi poupado da cadeia, por falta de “vaga” no sistema prisional. O juiz
ou a juíza lhe permitiu ficar em casa, como um vagabundo decente, de digestão
perfeita e consciência limpa, aguardando a tornozeleira eletrônica.
Mas,
ao invés de ficar bonzinho no seio do lar, esperando o castigo, sentadinho na
frente da televisão e olhando a Ana Maria Braga, o cara foi para a rua, como se
nada houvesse acontecido, procurar a turma dele. Numa refrega, matou mais um,
mas foi ferido e levado para o hospital.
Com
medo da vingança, o protegido da justiça pediu para trocar de leito e foi
atendido. Para o lugar dele foi um jovem trabalhador, que convalescia, depois
de um acidente de moto. O jovem inocente morreu: tendo sido transferido para o
quarto antes ocupado pelo criminoso, foi cravejado de tiros. Isso aconteceu em
novembro último.
Semana
passada, pai e filho foram executados durante assalto à sua joalheria. Dos
bandidos que praticaram o crime, um era foragido da justiça, e o outro estava
no gozo de seus privilégios de bandido: por não haver “vaga” no sistema
prisional, sua “pena” devia ser cumprida em casa, aguardando a tornozeleira
eletrônica.
Para
a Justiça parece que não há outra sociedade, senão aquela feita ou concebida
por ela: a dos bandidos bons. Depois de consultar o espelho para saber se
alguém há com mais poder, ela se paramenta como entidade destinada a corrigir
desígnios e a montar enredos, por sua absoluta vontade. Longe dos juízes a
ideia de que são servidores públicos, e que o serviço público deve ser prestado
em favor da sociedade, da sociedade que lhes paga os polpudos salários, e não
em benefício dos indivíduos que vivem à margem das regras, convulsionando o
grupo social.
A
administração da justiça, antes de ser um poder, é um dever. Mas, embriagados
por teorias que transformam bandidos em coitadinhos, há juízes que deixam a
conta da ressaca para sociedade. Botam asas em porcos, torturando premissas,
para que elas desemboquem na negação da realidade, que é um dos efeitos da
embriaguez do poder.
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