O
INCRITICÁVEL
João
Eichbaum
“Antequam
de jure loquare, supremam legem lege”*. Ao proferir palestra na Uninove em São
Paulo, Dias Toffoli ensinou coisa errada aos alunos: “eu, como chefe do Poder
Judiciário da nação, não aceito as críticas
que são feitas. Porque as críticas que são feitas ao Poder Judiciário não são
em razão da nossa demora ou eventuais problemas. São em razão da nossa
efetividade em garantir, em um país desigual, os direitos e garantias da
liberdade”.
Donde
ele tirou que é o chefe do Poder Judiciário da Nação, ninguém sabe. Da
Constituição Federal é que não foi. E quem conhece um pouco de Direito sabe que
a estrutura do Estado é definida pela Constituição. O substantivo “chefe” não é
usado por ela, para estabelecer qualquer relação de subordinação na organização
dos Poderes.
Ao
se referir aos Poderes que constituem a coluna dorsal do Estado, a Constituição
só usa o verbo apropriado: exercer. O Poder Legislativo “é exercido pelo
congresso nacional” (art. 44). O Poder Executivo é exercido pelo Presidente da
República (art. 76). Com relação ao Poder Judiciário nem esse verbo ela
emprega, pois se limita a enumerar os órgãos que o compõem (art.92).
São
sete os órgãos do Poder Judiciário. O Supremo Tribunal Federal é apenas um
deles, o primeiro da lista, por ser a última instância jurisdicional e nada mais.
Cada órgão, na função de julgar, é dono de si mesmo, não tem chefe.
Do
ponto de vista administrativo, os tribunais têm autonomia e são fiscalizados
pelo Conselho Nacional de Justiça. O Supremo só se pronunciará sobre temas
pertinentes a essa área, se for acionado. E não se pronunciará como “chefe”,
mas como órgão julgador. Então, senhores, Dias Toffoli não passa de um
transitório, volante e circunstancial presidente de um dos órgãos do Poder
Judiciário.
Quem
tem argumentos fracos e telhado de vidro está sujeito a críticas e pedradas. Toffoli
não tem licença da Constituição Federal (art. 5º, inc. IX) para emudecer os
cidadãos, coibindo-lhes críticas. Seu instituto da “invulnerabilidade judicial”
é tão pífio quanto o disparate da “infalibilidade papal”, que lhe fornece rima
pobre. E, para municiar seus críticos, basta que ele esqueça a “fala” que lhe
cabe pelo “script” da Constituição Federal.
*Traduzindo para
os sábios que não conhecem latim: “antes de falar sobre o direito, lê a lei
suprema”.
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