GIGOLÔS DE GALINHEIRO
João Eichbaum
As dissensões políticas,
que se alastram pelo bulício das redes sociais, ignoram um ponto em que Lula e
Bolsonaro já afinaram. Que o povo ignore ou esqueça, tudo bem. O povo é
levado pelo impulso, pela paixão que cega, pelo fanatismo que bloqueia o
raciocínio. Mas essa ignorância não se perdoa dos – assim chamados – analistas
políticos, uma casta de profissionais especializados numa coisa que é chamada
de ciência, mas não tem lógica, e não passa de um caldeirão de ganância,
vaidades, egoísmo, traições, imoralidade e apetites desmesurados pelo poder. Também
da imprensa agrilhoada a proveitos de que se sustenta com serviços prestados a
poderosos, não se perdoa a omissão de um pensamento que foi comum aos dois
personagens da política brasileira.
Sim: Lula e Bolsonaro já afinaram
pelo mesmo diapasão, em seu conceito de política. Há mais de vinte anos, quando
estreava nesse campo, eleito deputado federal, o então torneiro mecânico Lula
Inácio Lula da Silva, saiu-se com essa, referindo-se ao Congresso nacional: são
quinhentos picaretas. Semana passada foi a vez de Jair Messias Bolsonaro abrir
a boca: o problema do país são os políticos.
Lula, astuto
sindicalista, com uma história de liderança como a de poucos personagens da
política, sentiu-se mero garnisé, no meio de galos safados, mancomunados com
raposas. Bolsonaro, com mais de vinte anos de exercício parlamentar, só agora
veio a descobrir que o mal do Brasil são os políticos.
Para chegar à presidência
da República, Lula teve que gramar mais de uma dezena de anos, aparando seu
caminho e sendo repudiado pelas elites, como ele dizia. Só depois que a
sociedade brasileira, como um todo, cansou de políticos profissionais, tipo
José Sarney, Collor de Melo e Fernando Henrique Cardoso, abriu-se o espaço para
Lula.
E aí, na liderança, ele botou
a funcionar seu faro de matreiro sindicalista, chuleando e costurando alianças.
Sua convivência com empresários, junto aos quais sentava na mesa de negociações
para solucionar greves, lhe rendeu certa intimidade com as raposas. Os
Odebrecht e outros, por conta dos quais foi parar na cadeia ou ainda está
enrascado em processos, lhe mostraram o ninho onde galinhas chocam ovos de ouro.
Desde então, deixou de haver “picaretas” no congresso e ele só teve aliados
para se reeleger e dominar na política.
Como Lula, Bolsonaro
também foi a opção dos contribuintes, cansados da exploração das raposas que
devastam esse galinheiro chamado Brasil. Mas, oriundo daquela camada que a
imprensa chama desdenhosamente de “baixo clero”, e com formação castrense, não
tinha jogo de cintura para manobrar políticos. Agora que lhe entregaram o
poleiro, se deu conta de que, para botar ordem no galinheiro, precisa primeiro
dar um jeito nas raposas.
Lula, enquanto não
ajeitou as raposas sem rejeitá-las, foi olhado com desconfiança. Bolsonaro
recebe tratamento diferente: é apedrejado pela grande imprensa para que dê
jeito logo. E essa parte da imprensa tem pressa porque, atreita a velhos
costumes, não saberá o que fazer sem os gigolôs de galinheiro, aqueles galos
safados que, mancomunados com raposas, impedem as galinhas de cacarejar, quando
botam ovos de ouro.
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