A
CNBB E A AMAZÔNIA
João Eichbaum
Antigamente, durante a
missa rezada em latim, o silêncio do templo só era quebrado pelas súplicas e
glórias a Deus, entoadas pelo celebrante e pelos sussurros quase inaudíveis dos
coroinhas. O rito inspirava fé na presença de Deus. A pompa litúrgica
representava a grandeza divina, inacessível à pobreza da imaginação humana. Com
a inspiração de seus doutores e artistas, a Igreja enriquecia essa imaginação.
Assim, com a razão subjugada pela emoção, se fortalecia a crença na divindade.
Mas, como o mundo é
redondo e se sustenta dando voltas no universo, as coisas não ficam sempre no
mesmo lugar. Com a Igreja não foi diferente. Os padres desaprenderam latim,
tiraram a batina, passaram a se vestir como qualquer um. Os ritos perderam a
grandeza, perderam o mistério, deixaram pelo caminho a aura celestial. O canto
coral, embelezado pelo órgão, foi substituído por toadas rústicas, tipo músicas
sertanejas acompanhadas de violão. A liturgia cedeu lugar para a coreografia
das mãos dadas, das mãos para o alto, das mãos batendo palmas.
E parece que até o
evangelho está sendo destorcido. A Comissão Episcopal Especial para a Amazônia,
da CNBB, divulgou carta do “Encontro de Estudo do Instrumento de Trabalho do
Sínodo da Amazônia” na qual, depois de afirmar que a Igreja Católica desde o
século XVII está presente na Amazônia, preocupando-se com a “evangelização e a
promoção humana”, se exalta: “defendemos de modo intransigente a Amazônia e
exigimos medidas urgentes dos Governos frente à agressão violenta e irracional
à natureza, à destruição inescrupulosa da floresta que mata a flora e a fauna
milenares com incêndios criminosamente provocados”.
Bem. Noves fora o
dilúvio, o fogo e o enxofre sobre Sodoma e Gomorra, a única notícia que se tem
no evangelho, relativa ao meio ambiente, é a que conta um desentendimento do
Cristo com uma figueira. O Nazareno estava com fome. Quando viu uma figueira,
esfregou as mãos e foi até ela. Mas, a figueira não tinha frutos. Jesus ficou
pê da cara e aniquilou a pobrezinha com uma praga. Essa história é contada por
Marcos (11: 12, 14) e Mateus (21:18,22). Se fosse hoje o Cristo seria, no
mínimo, multado pelo Ibama, e processado por abuso de poder.
A exigência de pedir
providências dos governos com relação aos crimes ambientais também não é nada
evangélica. Os fariseus, que queriam armar um flagrante de crime fiscal contra
Jesus Cristo, mandaram lhe perguntar o que ele achava sobre o imposto pago
pelos judeus a Roma. Cristo, que não tinha nascido ontem, mas no dia 25 de
dezembro, tirou de letra a armadilha: “dai a Cézar o que é de Cézar, e a Deus o
que é de Deus”. Quer dizer: não me meto em política. Vocês, que são brancos,
que se entendam.
Então, se a missão da
CNBB é a evangelização, ela deve se limitar ao evangelho, e não exigir do
governo o que é do governo. A menos que o Edir Macedo tenha ensinado para o
Bolsonaro o truque aquele de secar figueiras.
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