sexta-feira, 6 de setembro de 2019


                                        A CNBB E A AMAZÔNIA

João Eichbaum

Antigamente, durante a missa rezada em latim, o silêncio do templo só era quebrado pelas súplicas e glórias a Deus, entoadas pelo celebrante e pelos sussurros quase inaudíveis dos coroinhas. O rito inspirava fé na presença de Deus. A pompa litúrgica representava a grandeza divina, inacessível à pobreza da imaginação humana. Com a inspiração de seus doutores e artistas, a Igreja enriquecia essa imaginação. Assim, com a razão subjugada pela emoção, se fortalecia a crença na divindade.

Mas, como o mundo é redondo e se sustenta dando voltas no universo, as coisas não ficam sempre no mesmo lugar. Com a Igreja não foi diferente. Os padres desaprenderam latim, tiraram a batina, passaram a se vestir como qualquer um. Os ritos perderam a grandeza, perderam o mistério, deixaram pelo caminho a aura celestial. O canto coral, embelezado pelo órgão, foi substituído por toadas rústicas, tipo músicas sertanejas acompanhadas de violão. A liturgia cedeu lugar para a coreografia das mãos dadas, das mãos para o alto, das mãos batendo palmas.

E parece que até o evangelho está sendo destorcido. A Comissão Episcopal Especial para a Amazônia, da CNBB, divulgou carta do “Encontro de Estudo do Instrumento de Trabalho do Sínodo da Amazônia” na qual, depois de afirmar que a Igreja Católica desde o século XVII está presente na Amazônia, preocupando-se com a “evangelização e a promoção humana”, se exalta: “defendemos de modo intransigente a Amazônia e exigimos medidas urgentes dos Governos frente à agressão violenta e irracional à natureza, à destruição inescrupulosa da floresta que mata a flora e a fauna milenares com incêndios criminosamente provocados”.

Bem. Noves fora o dilúvio, o fogo e o enxofre sobre Sodoma e Gomorra, a única notícia que se tem no evangelho, relativa ao meio ambiente, é a que conta um desentendimento do Cristo com uma figueira. O Nazareno estava com fome. Quando viu uma figueira, esfregou as mãos e foi até ela. Mas, a figueira não tinha frutos. Jesus ficou pê da cara e aniquilou a pobrezinha com uma praga. Essa história é contada por Marcos (11: 12, 14) e Mateus (21:18,22). Se fosse hoje o Cristo seria, no mínimo, multado pelo Ibama, e processado por abuso de poder.

A exigência de pedir providências dos governos com relação aos crimes ambientais também não é nada evangélica. Os fariseus, que queriam armar um flagrante de crime fiscal contra Jesus Cristo, mandaram lhe perguntar o que ele achava sobre o imposto pago pelos judeus a Roma. Cristo, que não tinha nascido ontem, mas no dia 25 de dezembro, tirou de letra a armadilha: “dai a Cézar o que é de Cézar, e a Deus o que é de Deus”. Quer dizer: não me meto em política. Vocês, que são brancos, que se entendam.

Então, se a missão da CNBB é a evangelização, ela deve se limitar ao evangelho, e não exigir do governo o que é do governo. A menos que o Edir Macedo tenha ensinado para o Bolsonaro o truque aquele de secar figueiras.



Nenhum comentário: