LAVA JATO X LAVA TOGA
João Eichbaum
Depois daquele futebol
miúdo que deu em 7x1 para o time da Alemanha, chegou a vez do Peru se servir. Então já que
tirar glória desse negócio de requebrar o organismo atrás duma bola está meio
em desuso, o povo agora se volta para outro campo. Nesse, a bola é chamada democracia e todo
mundo quer ser dono dela, para mandar no jogo, no juiz, fazendo golo com a mão
e de impedimento.
A coisa é mais complicada
que suruba de minhoca. Quem é acusado de falcatruas e vai preso, diz que a
bola, isso é, a democracia, está murcha e jogo jogado com bola murcha não tem
valor. Tem que ser anulado, jogado de novo, se der empate tem prorrogação, e se
continua empatado vamos para os para os pênaltis.
Aí vem o juiz e manda
soltar o preso. Pronto: a mãe dele cai na boca do povo como uma dessas que
qualquer um bota em estado de nove meses. Mas, o juiz não ta nem aí, empina o
nariz e o umbigo, olha com jeito de deboche pra torcida, como quem não tem mãe,
anula o jogo, bota a bola no centro e começa tudo de novo.
Quem não é preso, não
vive de expedientes, não tem a língua enrolada e está na torcida xingando o
juiz, diz que a bola sempre esteve cheia, não é caso de ser anulado o jogo
porque, na verdade, quem não joga nada é o time das falcatruas, que não está
acostumado a jogar com bola redondinha, rechonchuda, apanha dela e põe a culpa
no adversário.
Claro, quem está preso
também xinga a mãe do juiz, se o jogo não for anulado, se não houver
prorrogação, nem pênaltis. E a torcida acompanha no xingamento, grita,
esbraveja, bufa e clama por uma bola moldável, quer dizer uma que se ajeite no
pé, sem precisar de técnica, nem esforço.
O time que prende leva o
nome de Lava Jato. Pegou a lei 12.850, de 2 de agosto de 2013, cruzada com o
Decreto-Lei 2.848 de 7 de dezembro de 1940 e fez malha de jurisprudência,
botando gente metida a boa a purgar no xilindró. Sua imensa torcida conseguiu
eleger o presidente da Federação. Aí houve gente que não gostou e começou a
insuflar a torcida contra o time Lava Jato.
Foi fundado então um time
contrário, o CPI, para derrotar o Lava Jato. É um time que tem torcida mais
organizada, porque se manteve na liderança durante mais de uma década e
aproveitou a oportunidade para compor um quadro de juízes e bandeirinhas de sua
confiança.
O Lava Jato também, para
reforçar o time, resolveu criar um departamento chamado CPI da Lava Toga.
Embora não tenha jogadores muito experientes, nem muito jogo de cintura,
malandragem de vender a mãe sem entregar, o CPI da Lava Toga, se não perder por
WO, quer mostrar que, muito pior do que levar 7x1, é esconder a bola debaixo da
toga, sem mostrar futebol de jogo limpo.
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