sexta-feira, 24 de janeiro de 2020


IGNORÂNCIA FAZ MAL
João Eichbaum

Arte é uma coisa. Cultura é outra.  Arte é a projeção da criatividade na expressão do pensamento e dos sentimentos. Cultura é o acervo de conhecimentos, o patrimônio intelectual que revela sabedoria ou pleno domínio de determinadas áreas do conhecimento.

Para a expressão do pensamento existem a poesia, o romance, as exibições cênicas e as mais variadas espécies de comunicação escrita. Para a expressão dos sentimentos servem a música, a pintura,o desenho, o esporte, a escultura.

A arte serve apenas como entretenimento, como passatempo, e até como desculpa para comer pipoca ou ficar agarradinho no escuro do cinema. Mas pode servir também como móbil para a violência nas disputas, mormente no futebol. Para quem não sabe: o esporte, desde que não exija violência, é arte. É a arte que expressa o sentimento de hegemonia, a impulsão para a vitória, através do talento.

Artista é aquele que tem talento para expressar e despertar sentimentos. Ele não precisa ter cultura. Basta saber o que faz e como fazê-lo. O verdadeiro artista tem talento nato. Pode não dispensar opiniões, pode aceitar sugestões que enriqueçam sua criatividade. Mas o elemento essencial para desenvolver sua arte, seja ela qual for, está nele mesmo, na sua essência como criatura inteligente ou simplesmente habilidosa.

O mesmo não acontece com a cultura. Ninguém nasce sabendo. Ninguém dispensa o aprendizado para ler e, com isso, adquirir  conhecimentos. Culta é a pessoa que conhece e domina vários idiomas, a que conhece e domina a matemática, a álgebra, a geometria, enfim, a ciência dos números. Ou tem pleno domínio sobre a química, a física, a mineralogia, a fauna, a flora, a biologia, a astronomia.

A diferença fundamental entre a arte e a cultura reside em que essa última é a que contribui para o aperfeiçoamento das condições de vida da criatura humana, em todos os sentidos. A partir do conhecimento, as pessoas cultas se entregam à pesquisa, no ramo que dominam, enriquecendo, avolumando esse conhecimento. Desse trabalho advirá algum proveito para a humanidade.

Já da arte, salvo o pasmo e a admiração que suscita o talento do artista – e isso pode acontecer por séculos sem fim – nada mais se colhe em favor dos seres humanos. Com exceção, é claro, dos espertalhões. Há quem, para exibir riqueza, pague milhões de dólares, libras esterlinas, ou qualquer que seja a moeda mais valiosa, pela obra do artista, comercializada por gananciosos. O artista pode ter morrido pobre, sem ter onde cair morto. Mas sua obra servirá para enriquecer a inescrupulosos.

Há quem se ache culto porque frequenta teatro, ouve música erudita, detesta música sertaneja; mas é incapaz de tirar um dó maior no violino. A incapacidade de elaborar conceitos, fortificada pela ignorância, se alastra pelo país, nivelando governantes e governados, pobres e ricos. Eles ignoram a diferença: arte é manifestação de talento; cultura, a acumulação de conhecimentos. E brigam por causa de uma repartição mal chamada de “cultura”, que só serve para empregar alguns amigos e favorecer a outros, com o dinheiro público.


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