IGNORÂNCIA FAZ
MAL
João Eichbaum
Arte é uma
coisa. Cultura é outra. Arte é a
projeção da criatividade na expressão do pensamento e dos sentimentos. Cultura
é o acervo de conhecimentos, o patrimônio intelectual que revela sabedoria ou
pleno domínio de determinadas áreas do conhecimento.
Para a
expressão do pensamento existem a poesia, o romance, as exibições cênicas e as
mais variadas espécies de comunicação escrita. Para a expressão dos sentimentos
servem a música, a pintura,o desenho, o esporte, a escultura.
A arte serve
apenas como entretenimento, como passatempo, e até como desculpa para comer
pipoca ou ficar agarradinho no escuro do cinema. Mas pode servir também como
móbil para a violência nas disputas, mormente no futebol. Para quem não sabe: o
esporte, desde que não exija violência, é arte. É a arte que expressa o
sentimento de hegemonia, a impulsão para a vitória, através do talento.
Artista é aquele
que tem talento para expressar e despertar sentimentos. Ele não precisa ter
cultura. Basta saber o que faz e como fazê-lo. O verdadeiro artista tem talento
nato. Pode não dispensar opiniões, pode aceitar sugestões que enriqueçam sua
criatividade. Mas o elemento essencial para desenvolver sua arte, seja ela qual
for, está nele mesmo, na sua essência como criatura inteligente ou simplesmente
habilidosa.
O mesmo não
acontece com a cultura. Ninguém nasce sabendo. Ninguém dispensa o aprendizado
para ler e, com isso, adquirir
conhecimentos. Culta é a pessoa que conhece e domina vários idiomas, a que
conhece e domina a matemática, a álgebra, a geometria, enfim, a ciência dos
números. Ou tem pleno domínio sobre a química, a física, a mineralogia, a
fauna, a flora, a biologia, a astronomia.
A diferença
fundamental entre a arte e a cultura reside em que essa última é a que
contribui para o aperfeiçoamento das condições de vida da criatura humana, em
todos os sentidos. A partir do conhecimento, as pessoas cultas se entregam à
pesquisa, no ramo que dominam, enriquecendo, avolumando esse conhecimento.
Desse trabalho advirá algum proveito para a humanidade.
Já da arte,
salvo o pasmo e a admiração que suscita o talento do artista – e isso pode
acontecer por séculos sem fim – nada mais se colhe em favor dos seres humanos.
Com exceção, é claro, dos espertalhões. Há quem,
para exibir riqueza, pague milhões de dólares, libras esterlinas, ou qualquer
que seja a moeda mais valiosa, pela obra do artista, comercializada por gananciosos.
O artista pode ter morrido pobre, sem ter onde cair morto. Mas sua obra servirá
para enriquecer a inescrupulosos.
Há quem se
ache culto porque frequenta teatro, ouve música erudita, detesta música
sertaneja; mas é incapaz de tirar um dó maior no violino. A incapacidade de elaborar
conceitos, fortificada pela ignorância, se alastra pelo país, nivelando governantes
e governados, pobres e ricos. Eles ignoram a diferença: arte é manifestação de
talento; cultura, a acumulação de conhecimentos. E brigam por causa de uma
repartição mal chamada de “cultura”, que só serve para empregar alguns amigos e
favorecer a outros, com o dinheiro público.
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