QUEM PAGOU A CONTA, SENHOR TOFFOLI?
João Eichbaum
O ministro Dias Toffoli fez
o que qualquer um faria pelo próprio ou suposto pai. Por certo encomendou
fatiota nova, com caimento perfeito em todos os lados. O espelho lhe reproduziu
uma bela e elegante figura, quando lhe foi apresentada aquela meritíssima
pessoa em passos de balé, virando para um lado e para outro. Visando a apurar
melhor tão distinta figura, o senhor ministro certamente enfileirou vários fios
de cabelo aos quais destinou uma posição estética para a vistoria do espelho.
Como todo mundo sabe, o espelho é um crítico implacável, não deixa passar nada
em branco, sempre encontra defeito nas criaturas de Deus. Não é para qualquer
alinhamento de cabelo que se presta uma imensa varanda esvaziada pela falta de
produção capilar, a partir da testa. Mas, no final das contas, o ministro deve
ter se recheado de satisfação com essa performance diante do espelho: a imagem
combinava com aquilo que seu ego exigia.
Tinha que ser assim. Seu pai
ia receber nome de Forum, numa cidadezinha chamada Ribeirão Claro, no Paraná.
Forum Eleitoral Luiz Toffoli. Isso: forum eleitoral. Uma coisa que não existe.
A denominação forum, ou foro, é a da repartição pública destinada ao julgamento
de litigâncias judiciais em primeira instância. Zona eleitoral é a sede da
circunscrição de eleitores. Mas, Ribeirão Claro é o único lugar neste Brasil,
onde existe essa coisa chamada Forum Eleitoral. A arte de espichar saco
escrotal é uma das mais antigas fontes
de criatividade.
Dias Toffoli nada tem a ver
com a Justiça Eleitoral. Nunca foi juiz eleitoral. Exerceu, sim, a presidência do Tribunal Superior Eleitoral,
não por méritos, nem por especiais conhecimentos de Direito Eleitoral, mas para
cumprir a norma constitucional movida por rodízio entre ministros do STF.
Entre as atribuições da
presidência do STF não consta a de inaugurar foruns ou zonas eleitorais. Embora
tenha comparecido ao evento como filho do homenageado – marca pessoal que o
artigo 37 da CF alija dos atos de ofício - Toffoli requisitou avião da FAB, no
qual acomodou um séquito de príncipe: onze pessoas. Depois da cerimônia, ele e
seu séquito se estabeleceram num resort de luxo, o Tayayá Aquaparque, onde
espicharam um fim de semana digno da rainha da Inglaterra.
Pode até ter sido cortesia
do resort, pela conversa que corre, segundo a qual um dos sócios do estabelecimento seria primo
do ministro. Mas se Toffoli requisitou
uma aeronave oficial, a tripulação faz jus a diárias pagas pelos contribuintes,
nos dias em que esteve à disposição de
sua excelência e de seu séquito. Quem pagou a conta o povo quer saber, e Dias
Toffoli tem a obrigação de esclarecer.
Nenhum agente público
encarna o poder: ele é apenas um instrumento a serviço do poder, que emana do
povo. Uma exegese honesta do art. 37 da CF ordena renúncia a proveitos e
deleites pessoais. E o presidente do STF é como a mulher de Cézar: não basta
ser honesto, tem que provar essa honestidade, submetendo até as mais íntimas intenções à vigilância do
art. 37.
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