O BRASIL NOS TEMPOS DO CORONAVIRUS
João Eichbaum
O coronavirus tem feito gato e sapato da humanidade. Começou
na China e, num piscar de olhos, já pulou as fronteiras do oriente, se
esparramando pelo mundo. A cada dia, novas pessoas são infectadas pelo arrastão
do vírus. Não há manchete, no mundo inteiro, que não se ocupe dessa desgraça,
não há notícia em rádio, jornal e televisão que faça esquecer a escalada
assustadora da doença. É quase impossível fugir da pressão que gera temor,
trazida pelos noticiários. É a notícia mais nefasta que se espalha, depois das
safadezas dos políticos.
Doença nenhuma faz bem à saúde, mas o tal de coronavirus traz
padecimentos de maior conta, faz o diabo com a pessoa: bota tosse, esquenta de
febre e tira a respiração. Aparece do nada, com uma tossezinha de cachorro e
deixa os padecentes num vai-não-vai. Uns acabam indo.
A Itália é o país europeu onde o vírus botou mais presença,
principalmente na região da Lombardia. O pânico toma conta de todo o mundo. O
povo, despossuído de fastio e com um estômago que não dispensa comida, primeiro
corre ao mercado e junta tudo o que pode, como se estivesse se preparando para
a guerra. Depois não arrisca mais pé para fora da porta.
Igrejas fecham, missas são sustadas, escolas e universidades
suspendem as aulas, espetáculos de grande porte são cancelados, como o carnaval
de Veneza, que tem fama em todo o mundo. Ruas se esvaziam, não se vê viva alma
em parte alguma. Até Roma, de noite, parece um deserto de pedra e cimento.
Quem achava que o papa não era gente como a gente, se
enganou. Com sintomas de gripe, o chefe da Igreja Católica requereu ausência
dos serviços de missas e audiências, se recolheu, e não mais foi visto nem
ouvido. Sumiu dos altares. Nem reza em proveito dos doentes praticou. Depois,
passou por vistoria de sangue e ficou fora da lista de suspeitos. Mas,
continuou longe dos olhos do mundo.
No Brasil, o primeiro paciente picado pelo vírus não
pertencia ao povinho do SUS. Era vinho de outra pipa. Tomou rumo do Hospital
Albert Einstein, que não conhece pobre, e lá encontrou porta facilitada, tanto
para a entrada, como para a saída. O hospital despachou o homem para o
confinamento. Mas depois se aprumou, como quem levanta duma escorregada no
sabão, explicando que tanto suas dependências, como a equipe que havia lidado
com o padecente, estavam resguardadas contra a contaminação.
A par do acontecido, o povão passou a exagerar na prudência,
para não dar franquia à doença. Se ficarem sem os pacientes ricos, os donos do
hospital vão entregá-lo para o SUS...
Outro dia entraram no trem dois homens, com o rosto protegido
por máscaras cirúrgicas. Os passageiros, em pânico, se olharam uns para os
outros, com ares de sonsos. Aí os dois homens, sacaram os revólveres, berrando:
“é um assalto”. Foi um alívio geral. Fato corriqueiro. Com a alma em paz, os passageiros
puseram à disposição dos assaltantes suas carteiras e celulares.
Nenhum comentário:
Postar um comentário