sexta-feira, 6 de março de 2020


O BRASIL NOS TEMPOS DO CORONAVIRUS

João Eichbaum

O coronavirus tem feito gato e sapato da humanidade. Começou na China e, num piscar de olhos, já pulou as fronteiras do oriente, se esparramando pelo mundo. A cada dia, novas pessoas são infectadas pelo arrastão do vírus. Não há manchete, no mundo inteiro, que não se ocupe dessa desgraça, não há notícia em rádio, jornal e televisão que faça esquecer a escalada assustadora da doença. É quase impossível fugir da pressão que gera temor, trazida pelos noticiários. É a notícia mais nefasta que se espalha, depois das safadezas dos políticos.

Doença nenhuma faz bem à saúde, mas o tal de coronavirus traz padecimentos de maior conta, faz o diabo com a pessoa: bota tosse, esquenta de febre e tira a respiração. Aparece do nada, com uma tossezinha de cachorro e deixa os padecentes num vai-não-vai. Uns acabam indo.

A Itália é o país europeu onde o vírus botou mais presença, principalmente na região da Lombardia. O pânico toma conta de todo o mundo. O povo, despossuído de fastio e com um estômago que não dispensa comida, primeiro corre ao mercado e junta tudo o que pode, como se estivesse se preparando para a guerra. Depois não arrisca mais pé para fora da porta.

Igrejas fecham, missas são sustadas, escolas e universidades suspendem as aulas, espetáculos de grande porte são cancelados, como o carnaval de Veneza, que tem fama em todo o mundo. Ruas se esvaziam, não se vê viva alma em parte alguma. Até Roma, de noite, parece um deserto de pedra e cimento.

Quem achava que o papa não era gente como a gente, se enganou. Com sintomas de gripe, o chefe da Igreja Católica requereu ausência dos serviços de missas e audiências, se recolheu, e não mais foi visto nem ouvido. Sumiu dos altares. Nem reza em proveito dos doentes praticou. Depois, passou por vistoria de sangue e ficou fora da lista de suspeitos. Mas, continuou longe dos olhos do mundo.

No Brasil, o primeiro paciente picado pelo vírus não pertencia ao povinho do SUS. Era vinho de outra pipa. Tomou rumo do Hospital Albert Einstein, que não conhece pobre, e lá encontrou porta facilitada, tanto para a entrada, como para a saída. O hospital despachou o homem para o confinamento. Mas depois se aprumou, como quem levanta duma escorregada no sabão, explicando que tanto suas dependências, como a equipe que havia lidado com o padecente, estavam resguardadas contra a contaminação.

A par do acontecido, o povão passou a exagerar na prudência, para não dar franquia à doença. Se ficarem sem os pacientes ricos, os donos do hospital vão entregá-lo para o SUS...

Outro dia entraram no trem dois homens, com o rosto protegido por máscaras cirúrgicas. Os passageiros, em pânico, se olharam uns para os outros, com ares de sonsos. Aí os dois homens, sacaram os revólveres, berrando: “é um assalto”. Foi um alívio geral. Fato corriqueiro. Com a alma em paz, os passageiros puseram à disposição dos assaltantes suas carteiras e celulares.


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