O BANDEIRINHA
João Eichbaum
Quem nasceu ontem talvez
não saiba o que é um bandeirinha. Bandeirinha era chamado o sujeito que corria
pelas laterais do campo de futebol, de bandeira na mão, vestido de preto, calça
curta, salientando as montanhas glúteas, mesmo que não fosse maricas. Quando
ele levantava a bandeira, era sinal de offside. Hoje os bandeirinhas não são
mais bandeirinhas, mas auxiliares do árbitro. E quando eles levantam a
bandeira, não é mais offside, mas impedimento.
Esses caras – ai deles e
de quem os pariu!- recebem nos ouvidos as ferroadas dos xingamentos de mais
baixo quilate, que atingem os úteros de suas genitoras, quando um impedimento,
que era offside, não é impedimento e, muito menos, offside. Ou quando um
impedimento legítimo não é considerado impedimento, nem offside.
Agora o coronavirus
trouxe mais um tipo de bandeirinha para o Rio Grande do Sul. É o senhor
governador do Estado, um pelotense escolhido por seus admiradores de Pelotas e
mais boa parte dos eleitores desses imensos rincões gaúchos, onde antigamente
se falava grosso, com tom e jeito de macho.
É de retrato ostentoso o
atual governador dos pampas: bem apessoado, tipo cavaleiro de bons modos, fala
fofa, cabelo, barba e bigodinho nos trinques por arte de estilistas capilares, unhas
feitas como em mão de noiva. Nada nele lembra seus antecessores, vinhos de
outras pipas, como Júlio de Castilhos, Cordeiro de Farias, Silveira Martins,
Borges de Medeiros, que já foram levados deste mundo.
Apanhado de surpresa por
uma palavra de etimologia grega, a tal de pandemia, da qual de certo nunca ouviu
falar, o governador trocou o timão do
navio gaúcho por paus de segurar bandeira.
Assim: essa pandemia, espalhada
pelos chineses em todo mundo, começou aos poucos, como quem não quer nada.
Parecia até ter medo de gaúcho macho. Mas, devagar foi tomando conta, porque
aqui, como no resto do mundo, ninguém estava preparado para tanta urucubaca de
uma vez só. E começou a finar gente de Covid 19, e gente lotando hospitais.
Aí o governador resolveu ser
bandeirinha, para dominar a situação. Assim como no futebol, levantando a bandeira para dar impedimento, o perigo de gol se
resolve, o único jeito de conter os
avanços do coronavirus, para ele, é sacudindo bandeiras. Então foram criadas
três bandeiras com os respectivos paus, para serem levantadas, segundo o andar
do coronavirus. A bandeira amarela, uma coisa maravilhosa que lembra buquê de
crisântemo, anuncia quase normalidade. A bandeira vermelha, de assustar, trava
grande parte da economia produtiva, permitindo algumas atividades, proibindo
outras. E a bandeira preta, a do luto, a que indica morte próxima, pavores
eternos, fecha quase tudo, derreando a economia.
E assim, nesse balanço,
vai sendo “administrado” o Rio Grande. Das bandeiradas do governador depende hoje
aquela economia que outrora não parava nem para a cavalhada refrescar os cascos,
e exportava até façanhas, na falta de outra coisa.
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