quinta-feira, 9 de julho de 2020


O BANDEIRINHA
João Eichbaum

Quem nasceu ontem talvez não saiba o que é um bandeirinha. Bandeirinha era chamado o sujeito que corria pelas laterais do campo de futebol, de bandeira na mão, vestido de preto, calça curta, salientando as montanhas glúteas, mesmo que não fosse maricas. Quando ele levantava a bandeira, era sinal de offside. Hoje os bandeirinhas não são mais bandeirinhas, mas auxiliares do árbitro. E quando eles levantam a bandeira, não é mais offside, mas impedimento.

Esses caras – ai deles e de quem os pariu!- recebem nos ouvidos as ferroadas dos xingamentos de mais baixo quilate, que atingem os úteros de suas genitoras, quando um impedimento, que era offside, não é impedimento e, muito menos, offside. Ou quando um impedimento legítimo não é considerado impedimento, nem offside.

Agora o coronavirus trouxe mais um tipo de bandeirinha para o Rio Grande do Sul. É o senhor governador do Estado, um pelotense escolhido por seus admiradores de Pelotas e mais boa parte dos eleitores desses imensos rincões gaúchos, onde antigamente se falava grosso, com tom e jeito de macho.

É de retrato ostentoso o atual governador dos pampas: bem apessoado, tipo cavaleiro de bons modos, fala fofa, cabelo, barba e bigodinho nos trinques por arte de estilistas capilares, unhas feitas como em mão de noiva. Nada nele lembra seus antecessores, vinhos de outras pipas, como Júlio de Castilhos, Cordeiro de Farias, Silveira Martins, Borges de Medeiros, que já foram levados deste mundo.

Apanhado de surpresa por uma palavra de etimologia grega, a tal de pandemia, da qual de certo nunca ouviu falar,  o governador trocou o timão do navio gaúcho por paus de segurar bandeira.

Assim: essa pandemia, espalhada pelos chineses em todo mundo, começou aos poucos, como quem não quer nada. Parecia até ter medo de gaúcho macho. Mas, devagar foi tomando conta, porque aqui, como no resto do mundo, ninguém estava preparado para tanta urucubaca de uma vez só. E começou a finar gente de Covid 19, e gente lotando hospitais.

Aí o governador resolveu ser bandeirinha, para dominar a situação. Assim como no futebol, levantando a bandeira para dar impedimento, o perigo de gol se resolve, o único jeito de conter os avanços do coronavirus, para ele, é sacudindo bandeiras. Então foram criadas três bandeiras com os respectivos paus, para serem levantadas, segundo o andar do coronavirus. A bandeira amarela, uma coisa maravilhosa que lembra buquê de crisântemo, anuncia quase normalidade. A bandeira vermelha, de assustar, trava grande parte da economia produtiva, permitindo algumas atividades, proibindo outras. E a bandeira preta, a do luto, a que indica morte próxima, pavores eternos, fecha quase tudo, derreando a economia.

E assim, nesse balanço, vai sendo “administrado” o Rio Grande. Das bandeiradas do governador depende hoje aquela economia que outrora não parava nem para a cavalhada refrescar os cascos, e exportava até façanhas, na falta de outra coisa.


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