O GOLPE DO NAMORO
A malícia e a ingenuidade,
embora tenham sentidos antagônicos, são propensões que podem coexistir em cada
indivíduo da espécie humana. Em intensidade variável, claro, uma sobrepujando a
outra. Não há maliciosos que não tenham seus momentos de bobeira. Não há
ingênuos que uma hora ou outra não deixem de se antenar na bobagem que estão
fazendo.
Uma coisa esse raciocínio
revela: ninguém é completamente imune à bobeira das ilusões. As ilusões
embriagam facilmente. São armadilhas que as pessoas armam para si mesmas, sem
se darem conta disso. Não há estelionatário que não tenha atrás de si uma
mulher que, por uma razão ou outra, o seduziu. E, por ela, ele faz qualquer
coisa. Não há mulher estelionatária que não pratique suas fraudes, por estar
perdidamente apaixonada por um homem que tem maior poder de sedução do que ela.
Mesmo que seja só sobre ela.
A internet ou, mais
precisamente, as redes sociais foram uma descoberta e tanto para os
estelionatários, e uma armadilha facílima de pegar ingênuos – para usar o adjetivo
menos pejorativo. E há estelionatários com uma facilidade tal para enganar e
ingênuos com uma capacidade infinita de se deixar enganar, que nem Freud
explica.
Depois do roubo mundial de
dados pessoais, tudo ficou mais fácil para os estelionatários, na proporção do
grau de ingenuidade de muitas pessoas. Principalmente mulheres idosas, viúvas
ou separadas. Essas facilmente caem nos contos de namoro, se deixam seduzir
pela ilusão de que encontraram seu príncipe sonhado, aquele que vai acabar com
a solidão delas, transformando a vida num paraíso. A solidão as ensinou a
navegar na internet. O ócio da aposentadoria ou da pensão lhes proporciona
horas incontáveis para procurar um príncipe. Viúvo é o que morre, como diz o
ditado popular. E quem procura, acha. Afinal, a internet está aí para isso
mesmo, servindo de armadilha para os otários.
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