ELEIÇÕES
João
Eichbaum
Arrogando-se
a qualidade de elite intelectual com competência para julgar a aptidão dos
outros, cronistas da grande mídia e palpiteiros de menor porte têm encarado
maldosamente o resultado do primeiro turno das eleições. A conclusão deles,
resumindo, é essa: os brasileiros escolheram os piores.
Mal
se dão conta de que desceram ao nível do “analista” Pelé, para quem “brasileiro
não sabe votar”. Com a diferença de que Pelé não recorreu a termos rasteiros, frivolidades, vocabulário baixo, como estão fazendo alguns palpiteiros, que se dizem
professores e escritores.
Seu
lúdico rancor contra o povo os levou a criar um vocábulo sem graça, que recende
a humor bilioso: “classe mérdia”. Chulo, o neologismo acaba atraindo a paródia
produzida pelo velho, mas sempre atual latim: “ex abundantia animi, os
loquitur”.
Vejam
a contradição, na qual desemboca o indigente raciocínio desses doutores. Eles
enchem a boca para falar de democracia, mas insultam o povo, que dispensou
tutelas para escolher seus candidatos. Que espécie de democracia conhecem esses
senhores? O que significa democracia para eles? Só representam a democracia os
candidatos que lhes calham no gosto? Os candidatos dos outros, não?
Até
aqui, jamais se havia praticado a democracia, no seu lídimo sentido. Nessas
eleições, foi o povo que, com independência, desdenhando do poder da imprensa e
da sedução da propaganda milionária, mandou seu recado: chega de políticos
profissionais, chega de coronéis, desterrem-se os vícios da república, revelados por
arreglos com JBS, por encontros furtivos em porões e lancherias, fugas com
malas cheias de dinheiro, dinheiro em cuecas e apartamentos.
Realmente,
foi a classe média que deu o tom nesse pleito, elegendo candidatos de seu
estrato social: Haddad, professor, e Bolsonaro, militar reformado. Foram
banidos os viciados em politicagem Alkmin e Ciro Gomes, assim como a candidata
profissional Marina, e ignorados os ricaços Amoedo e Meirelles – para ficar só
nesses, que poderiam ter alguma chance.
Sim,
senhores, o povo mostrou, pela primeira vez, fanática e freneticamente, o que é
democracia: o direito de desafiar o destino, escolhendo livremente seus
governantes. Quem pretender uma democracia na qual não se inclua o povo e,
notadamente, a classe média, tem que voltar aos bancos escolares, para estudar história
e uma coisa chamada etimologia.
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