STF: UM BATEL À MERCÊ DA
TEMPESTADE
João Eichbaum
Lula tem a língua presa.
Por isso não dá com ela nos dentes. Sabe, porém, usá-la. Não que sua cultura
lhe permita rasgos egrégios. Mas o povão vê nele um líder fascinante, um guia,
um taumaturgo, desses que transformam pobres em ricos, arrastam multidões atrás
de si e, mesmo com discursos para boi dormir, mantém os bois acordados.
Ora, um tipo assim serve
como objeto de cobiça para a imprensa. Mesmo detrás das grades, ele pode servir
como tema de eletrizante reportagem. Todo mundo sabe que, de dentro da cadeia,
Lula comanda seu partido, o PT, na marcha das eleições. Ele dá o toque, as
dicas, as ordens, os rumos, diz quem é quem, quem faz o quê, manda e desmanda,
faz tricô e chuleia.
A Folha de São Paulo, que
não esconde seus amores pelo PT, resolveu aproveitar todo esse material, às
vésperas do pleito nacional e quis entrevistar o preso mais falado no Brasil.
Mas esbarrou na proibição da juíza de Execuções Penais, sob cuja jurisdição se
encontra Lula. E esse, mais uma vez, causou rebuliço na insegura nau do
Judiciário.
Contra a decisão da
magistrada, jornalistas daquela empresa ingressaram com Reclamação, perante o
STF e o ministro Lewandowski deferiu liminar, autorizando a entrevista.
Certamente não leu, ou não entendeu o que está escrito no inciso II do artigo
989 do Código de Processo Civil: o relator pode ordenar “se necessário, a
suspensão do processo ou do ato impugnado para evitar dano irreparável”.
Quem conhece o vernáculo
sabe que dano significa estrago, prejuízo, deterioração de algum bem, material
ou moral. E que “dano irreparável” é um prejuízo que não tem mais volta, pois
não há preço que o recomponha, nem milagre que o indenize. Ora, entrevista de
preso para jornal nunca foi coisa necessária. Se deixar de se realizar, ou se
for adiada, não causará “dano” a quem quer que seja. Muito menos “dano
irreparável”. Se fosse pedido de padre para extrema-unção, tudo bem: do inferno
ou do céu ninguém volta.
Enfim, a confusão da
letra da lei com sopa de letrinhas só podia dar rebu. Fux cassou a liminar do
Lewandowsi, Lewandowski cassou a liminar do Fux e Dias Toffoli fez papel de
diretora de escola, terminando com rusgas de crianças por causa do alfabeto:
nem um, nem outro, o Tribunal é que vai ler.
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