A PANTOMIMA
João Eichbaum
A decisão individual da
senhora Carmen Lúcia sobre o “direito de expressão” nas universidades está
comprometida por falhas rudimentares na construção do juízo preliminar. O
supedâneo que leva à sentença é o processo. Não pode haver sentença sem prévio
comando do rito processual. E esse rito foi ignorado por Carmen Lúcia: em sua
decisão não há a mínima alusão à Lei 9.882/99, que regula a “arguição de
descumprimento de preceito fundamental”.
Para legitimar a
concessão da liminar, que era da competência do Tribunal, ela devia ter
coletado nos autos os qualificativos da urgência, que lhe permitiria a
prestação jurisdicional, ou assinalado os males que o adiamento do ato
impugnado poderia causar. Mas não o fez.
Do seu texto, trançado a repuxos literários para dar sentido a palavras mal
escolhidas, não transparece essa exigência processual. Tal como decidiu, seu
ato seria anulado, submetido que fosse a recurso e examinado por outro juiz –
desde que esse não fosse um analfabeto funcional.
O resultado do erro da
ministra foi uma pantomima, para cujo elenco se apresentaram como personagens,
vestidos de toga, todos os ministros do Supremo que referendaram sua decisão.
Para ficar claro: a liminar de Carmen Lúcia permitira a realização de uma “aula
pública” sobre fascismo. Realizada a aula, consumou-se liminar, se estabeleceu
juízo definitivo. Não tinha mais volta. Ao que se saiba, ninguém aprendeu com
Jesus Cristo o truque de ressuscitar mortos.
Os ministros do STF então
se reuniram para um faz de conta ridículo, para encenar a jurisdição do nada, o
juízo sem efeito nenhum. Entre eles não houve quem, mostrando conhecimento
suficiente da Lei 9.882, se desse um tapa na testa, ao deparar com os erros de
Carmen Lúcia. E todos foram obrigados a participar de uma encenação que
dispensa fala, pela primária razão de que “contra facta non sunt argumenta”.
Não se tem notícia de que
alguma vez, em sua história, o Supremo Tribunal Federal se haja submetido ao
papel de mero figurante de uma peça teatral de tal qualidade. Já houve ministro
sacudindo na cara dos brasileiros seu bilhete aéreo, e pedindo encerramento da
sessão, para ver a família. Já houve ministros em rusgas pueris, disputando
quem era a melhor “excelência”. Já houve ministro votando meio deitado, entupido
de analgésico, por causa de dor na coluna.
E depois de todas essas,
para nos matar de rir, aparece o Dias Toffoli - aquele que tentou ser juiz, mas
só o foi pelas mãos do PT – de viva voz e de corpo presente, com a convicção de
quem tem em seu poder as aldravas da honra de uma virgem, proclamando: “os
brasileiros devem ter orgulho de seu Supremo Tribunal Federal”...
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