ENFIM, MARTE
João Eichbaum
Nada a ver com aviões de
carreira, cujas truculentas aterrissagens, às vezes, são de arrepiar fantasmas:
a sonda “InSight” pousou suavemente sobre o solo de Marte, vencendo os 485
milhões de quilômetros que nos separam daquele planeta. Basta essa distância,
que desafia qualquer destino, para atestar o sucesso do empreendimento.
Equipada com aparelho
para medir a temperatura interior de Marte, e sismógrafo para avaliar
convulsões e movimentos outros, provocados por choques de meteoritos, a sonda
está apta a fornecer inúmeros conhecimentos sobre o planeta vermelho.
A partir de tais
informações, será possível investigar como surgiram os planetas rochosos do
nosso sistema solar, e porque se desenvolveram de formas diferentes uns dos
outros. “Vênus tem um calor suficiente para derreter chumbo. A superfície de
Mercúrio é de uma temperatura incandescente. Marte é muito frio. Mas a terra é
um belo lugar para se gozar férias” – diz o cientista americano Bruce Banerd,
chefe das operações de pesquisa da “InSight”.
Está dado o primeiro
passo, para que o homem se enriqueça com conhecimentos sobre o universo. Até
aqui vivemos de conversas para crianças dormirem, contadas na bíblia. Filósofos
e teólogos aproveitaram a ignorância da plebe para fantasiar um mundo à parte,
desligado de todo o sistema planetário. Nele estabeleceram uma relação única
entre esses bípedes falantes chamados homens e uma constelação de divindades.
Era como se todos os
demais planetas não existissem, porque essa relação entre homens e deuses
excluía a consideração do universo. A divindade é que teria criado a noite e o
dia, as águas, as estrelas, o céu e a terra. Gerações e gerações, séculos e
séculos se passaram, enquanto a humanidade vivia esse enredo de ficção e
poesia, para disfarçar os temores da morte. Galileo Galilei, que teve o primeiro
lampejo de inteligência sobre o sistema planetário, pagou caro por sua ousadia.
Mas agora, os aplausos,
as exclamações de júbilo, os abraços e as lágrimas dos cientistas da Nasa, recobrando
o fôlego ao verem o pouso suave da “InSight” na Elysium Planitia, coroam um
esforço estressante, que acabou colocando a humanidade na janela que dá para o
universo.
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