sexta-feira, 30 de novembro de 2018


ENFIM, MARTE
João Eichbaum

Nada a ver com aviões de carreira, cujas truculentas aterrissagens, às vezes, são de arrepiar fantasmas: a sonda “InSight” pousou suavemente sobre o solo de Marte, vencendo os 485 milhões de quilômetros que nos separam daquele planeta. Basta essa distância, que desafia qualquer destino, para atestar o sucesso do empreendimento.

Equipada com aparelho para medir a temperatura interior de Marte, e sismógrafo para avaliar convulsões e movimentos outros, provocados por choques de meteoritos, a sonda está apta a fornecer inúmeros conhecimentos sobre o planeta vermelho.

A partir de tais informações, será possível investigar como surgiram os planetas rochosos do nosso sistema solar, e porque se desenvolveram de formas diferentes uns dos outros. “Vênus tem um calor suficiente para derreter chumbo. A superfície de Mercúrio é de uma temperatura incandescente. Marte é muito frio. Mas a terra é um belo lugar para se gozar férias” – diz o cientista americano Bruce Banerd, chefe das operações de pesquisa da “InSight”.

Está dado o primeiro passo, para que o homem se enriqueça com conhecimentos sobre o universo. Até aqui vivemos de conversas para crianças dormirem, contadas na bíblia. Filósofos e teólogos aproveitaram a ignorância da plebe para fantasiar um mundo à parte, desligado de todo o sistema planetário. Nele estabeleceram uma relação única entre esses bípedes falantes chamados homens e uma constelação de divindades.

Era como se todos os demais planetas não existissem, porque essa relação entre homens e deuses excluía a consideração do universo. A divindade é que teria criado a noite e o dia, as águas, as estrelas, o céu e a terra. Gerações e gerações, séculos e séculos se passaram, enquanto a humanidade vivia esse enredo de ficção e poesia, para disfarçar os temores da morte. Galileo Galilei, que teve o primeiro lampejo de inteligência sobre o sistema planetário, pagou caro por sua ousadia.

Mas agora, os aplausos, as exclamações de júbilo, os abraços e as lágrimas dos cientistas da Nasa, recobrando o fôlego ao verem o pouso suave da “InSight” na Elysium Planitia, coroam um esforço estressante, que acabou colocando a humanidade na janela que dá para o universo.



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