PODERES IRRESPONSÁVEIS
João Eichbaum
Com dois homicídios no
currículo, Alex Tubiana foi condenado a 24 anos de prisão. Cumpriu um terço da
pena e obteve o benefício da progressão de regime. Como não havia “vaga” no
albergue do regime semiaberto, o juiz o liberou para aguardar a tornozeleira
eletrônica em casa: serviço a domicílio do sistema penitenciário...
Então Alex aproveitou a
oportunidade que lhe concedeu a Justiça e matou mais um. Na refrega homicida,
foi baleado e internado no hospital, num quarto onde já estava alojado o jovem
Gabriel Minossi, um trabalhador de 19 anos, vítima de acidente de trânsito.
Com receio de vindita
pelos homicídios cometidos, Alex pediu remoção para outro quarto e foi
atendido. De madrugada, dois homens encapuzados entraram no quarto onde
estivera internado o bandido Alex e mataram o inocente Gabriel.
A desqualificada mania de
copiar leis de países desenvolvidos, ricos, com povo educado e nível de vida
excelente, só podia dar nisso. Um país que está longe, muito longe de oferecer
a seus cidadãos uma vida digna, com segurança, educação, pleno emprego e
bem-estar, não pode colher senão prejuízos e tragédias, macaqueando leis.
Gabriel foi vítima, em
primeiro lugar, do Poder Legislativo. Os congressistas despreparados, que
criaram os benefícios da progressão de regime, mostram que não conhecem o
Brasil e sua gente. E quando o Poder amamenta néscios e medíocres, a coisa
pública acaba se transformando em matéria fecal do intelecto.
O segundo algoz de
Gabriel foi o Poder Executivo. Para firmarem tratados internacionais de
direitos humanos, os governantes usam a mesma aura de honestidade de um
estelionatário que assina nota promissória. Resultado: a população carcerária
está entregue à própria sorte, porque até hoje, governo nenhum neste país teve
condições de transformar uma fábrica de suplícios em instituto de educação. As
utopias escritas na Lei de Execuções Penais continuam utopias, no charco da
realidade.
Completando a tríade das
irresponsabilidades, tecida com incompetência e desleixo, comparece o Poder
Judiciário. Alex Tubiana, mercê dos olhos misericordiosos de um juiz, foi
mandado para casa, a esperar sentadinho, como criança comportada, a
tornozeleira eletrônica.
Nesse pastelão, escrito a
três mãos pelos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário, não faltou o
ridículo, atenuando a inclemência da morte. Agentes penitenciários bateram com o
nariz na porta do hospital, quando lá chegaram para implantar a tornozeleira
eletrônica em Alex Tubiana: ele já havia desaparecido. Sumiu, depois de “assinar
um documento, se responsabilizando por sua saída”. E, tendo sobrevivido graças
à infelicidade de um inocente, ganhou mundo, feliz, cheio de “direitos
humanos”...
Nenhum comentário:
Postar um comentário