ARA San Juan
João Eichbaum
A tempestade os empurrou
para a morte. Talvez a nenhum deles tivesse perturbado o pressentimento de que
ia morrer no mar. Não seria um pensamento comum dentro daquela fortaleza de
ferro, onde se encontravam. Contra ela não poderiam prevalecer as águas e os
enigmas do mar.
Viajavam na direção de
seu último drama, e não sabiam. Na mais remota das hipóteses de infortúnio, haveria
barcos flutuantes e coletes salva-vidas para todos, além de sensores e câmeras
mapeando o fundo, e seguras instruções a seguir, em caso de naufrágio.
Mas, os maus humores da
natureza são, mais do que imprevisíveis, muitas vezes insuperáveis, fora do
alcance da tecnologia. E assim foi: a fúria da tempestade, que transformava as
ondas em gigantes ensandecidos, causou estragos no instrumento mais sensível da
nave submarina. Na sua última comunicação com a terra, o comandante informava
que o “snorkel”, avariado, permitira a entrada de água no sistema de
ventilação. Atingidas, as baterias provocaram incêndio.
Três horas depois desse
comunicado, seguiu-se uma explosão. E do ARA San Juan nada mais se soube, até a
semana passada, quando foi localizado por fotos de prospecção robótica. Jaz num
abismo de águas geladas, no mar da Patagônia, a mais de 900 metros de
profundidade, aquele gigante de 2.200 toneladas. A proa parece intacta, mas o casco achatado,
com uma hélice encravada na rocha, mostra a violência do impacto.
A tragédia, certamente
desencadeada pela despressurização da nave, pode ter deixado corpos preservados
pela temperatura gélida e pela falta de oxigênio, em compartimentos não inundados
pela água. Mas a profundidade é inacessível a seres humanos. Intransponíveis
são as dificuldades para resgate.
Diante desse quadro
desolador, não há indiferença que se sustente. É impossível sufocar
angustiantes indagações. Eram 44 tripulantes. Como teriam sido seus últimos
momentos? Sem ar, asfixiados? Teriam expirado inconscientes, com o cérebro
danificado pela falta de oxigênio? Ou teriam sentido a presença ominosa da
morte, castigando-os com torpe suplício, matando-lhes os sonhos e as
esperanças, antes de arrastá-los para a eternidade de suas trevas?
Não tiveram a voz
engasgada, quando tentaram um grito de socorro, que soaria inútil no vazio, no
infinito, na rota surda e implacável do destino? Tiveram tempo de chorar? Tiveram
tempo de pronunciar o nome de quem amavam, se despedindo em silêncio, se
debatendo contra a agonia, vendo a vida se esvair no fundo do mar?
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