A
DEVASTAÇÃO NA HISTÓRIA
João
Eichbaum
Índio tem ambição? Tem mania de grandeza? Que nada.
Índio nem sabe o que é ambição. Índio só vive por viver, e mais nada. E para
viver ele não precisa mais do que caçar e pescar. E para melhorar a vida, ele
come a sua índia, naturalmente. Então, ele caça, pesca, volta pra casa, toma
sua cachaça, come a índia, e pronto: isso é que é vida.
Mas, e o branco? Ah, o branco é outra coisa. É vinho
de outra pipa. O branco é ambicioso. Não lhe basta o ouro. Quer o poder também.
Tudo, ao lado de uma vida fácil.
Pois foi assim que a nossa história começou. A ambição
pelo poder, pela riqueza, pela expansão dos domínios territoriais e o gosto
pela pimenta do reino deram cria às grandes navegações. O pessoal saía da
Europa, enchia suas caravelas com uns pobres diabos sem eira nem beira,
comandados por algum aventureiro que batalhava para obter as graças do rei, e
se mandava na direção da Índia, em busca de pimenta do reino. Enfrentavam
procelas, raios, coriscos e trovões, arriscavam a vida, passavam mais de três
meses sem mulher, tudo pela pimenta do reino e outras iguarias. Vá que
encontrassem alguma terra sem dono, nesse caminho das águas, e aí a vida deles
estava feita: obtinham todas as graças do rei.
Pois foi o que aconteceu com o nosso destino. Os
caras, nessas idas e vindas, deram de cara com uma terra que poderia render
leite e mel. Se os judeus tiveram essa sorte, antes que Jesus Cristo viesse ao
mundo, porque aos europeus, que contavam com a proteção do dito Cristo, seria
negada tal felicidade?
Então, descobriram essa terra que, muito mais do que
pimenta do reino, tinha ouro e árvores gigantes, maciças, tão ou mais fortes do
que os bíblicos cedros do Líbano. Era tudo o que o rei deles queria. Então,
aqui atracaram suas caravelas, rezaram missa, atraíram os índios com
espelhinhos e, depois de suas quarentenas sem sexo, tiveram a felicidade de
encontrar indiazinhas nuas, sem pelo, com as partes pudendas acariciadas pelo
sol.
Levaram tudo o que puderam: ouro, pedras preciosas e
tudo o mais que podiam. E enquanto os índios, seduzidos com espelhos,
crucifixos e outras coisinhas de crianças, derrubavam árvores e as levavam nos
ombros para as caravelas, eles, os brancos se distraiam, comendo as índias.
Não contentes em devastar as florestas e levar as
riquezas minerais, deixavam aqui, quando aportavam, ladrões, assassinos e
condenados por outros motivos, inclusive as pobres feiticeiras banidas pela
Inquisição. Com essa espécie antropológica foi colonizado o Brasil.
Agora, passados quinhentos anos, baixa o espírito de
colonizador sobre Macron, descendente daqueles que, seduzindo os tamoios, tentaram
devastar o nosso país, com o escambo do pau brasil, mas acabaram expulsos pelo
governador Mem de Sá. Esse cara de lábios genitais de vaca, que não teve
competência para impedir que o fogo consumisse a catedral de Notre Dame, deve
estudar a história, antes de meter o nariz na fumaça da Amazônia.