A
MÃE DA SOGRA
João
Eichbaum
A figura do presidente Jair Messias Bolsonaro, com sua
estampa de quase dois metros, a ponto de deixar o Wladimir Putin mais para
toquinho de amarrar égua do que para desatarraxar suspiros de admiração nas
comadres, tem chamado menos atenção pelo seu tamanho de atravancar sala, do que
pela soltura da língua.
O presidente não é de andar engomado e de gravata todo
dia, não tem jeito de moça, nem de fazer ponderações mimosas, com voz adoçada,
ou de fazer uso dos regulamentos da cortesia, para tratar com certa gente. Jair
Messias Bolsonaro não é de pegar tremeliques de caniço novo no vento de
qualquer pergunta. Quem diz o que quer para ele, fica sujeito a ouvir o que não
quer. Falante e de língua solta, é do tipo que diz primeiro, para arejar as
ideias no depois do dito: vai engrossando a fala e não é de espichar conversa.
Não é do seu jeito levar qualquer um para compadre ou
comadre. Nem o perfume de chucrute da Angela Merkel arranca suspiros dele. Isso
lhe tem custado alguma encrenca. Seus procederes nem sempre calham bem, desencravando
aplausos e foguetes de viva São João. Se o mal entendido cai nos ouvidos dum
maníaco de querelas, o assunto toma o rumo do foro da Justiça, para ser
resolvido na base de cifrões. Se a resposta não é aquela que agrada a quem vive
de safadezas públicas e privadas, é bem nascida para virar manchete contra o
presidente.
Como até agora não encontraram patifarias
institucionais, do tipo contabilidade mal fechada ou mistura do dinheiro
próprio com verba da Fazenda; como não é do feitio de Jair Bolsonaro levar
amante em viagens oficiais, liberando cartão corporativo para ela e mandando a
conta para o contribuinte; como o presidente não arreda os fundilhos para pisar
o caminho que leva ao BNDES afim de, em troca de propina, salvar empresas que
respiram por aparelhos, a matilha dos maledicentes, que andava amofinando o
presidente, resolveu mudar o rumo das desfeitas. Com a ideia cravada na
desmoralização do primeiro mandatário da nação, fuçando e fuçando, foram dar lá
pelos ermos da periferia de Brasília, atrás de acontecidos, sucedidos e
malfeitos da mãe da sogra dele.
A pobre senhora, de pele tisnada, com um ar de
desamparo, já entrada na casa dos oitenta anos, teve sua velhice desrespeitada,
sua história pessoal devassada, sua dignidade joeirada na peneira do desdém. A
remessa de maldades que sobre essa infeliz criatura jogaram, desencavando do
passado dela uma condenação criminal e esboçando maldosas insinuações a
respeito de sua personalidade, desnudam um jornalismo de baixo nível. Abusando
da liberdade de imprensa, ao ultrapassar os limites que a Constituição Federal
impõe, inscrevendo como preceito fundamental o respeito à vida privada, à honra
e à imagem das pessoas, o veículo de comunicação acabou jogando na lama o pouco
da credibilidade que lhe restava. E de lambuja criou nova versão para a fábula
do lobo e do cordeiro: se não foi tu, foi a mãe da tua sogra...
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