sexta-feira, 23 de agosto de 2019


                                        A MÃE DA SOGRA
João Eichbaum

A figura do presidente Jair Messias Bolsonaro, com sua estampa de quase dois metros, a ponto de deixar o Wladimir Putin mais para toquinho de amarrar égua do que para desatarraxar suspiros de admiração nas comadres, tem chamado menos atenção pelo seu tamanho de atravancar sala, do que pela soltura da língua.

O presidente não é de andar engomado e de gravata todo dia, não tem jeito de moça, nem de fazer ponderações mimosas, com voz adoçada, ou de fazer uso dos regulamentos da cortesia, para tratar com certa gente. Jair Messias Bolsonaro não é de pegar tremeliques de caniço novo no vento de qualquer pergunta. Quem diz o que quer para ele, fica sujeito a ouvir o que não quer. Falante e de língua solta, é do tipo que diz primeiro, para arejar as ideias no depois do dito: vai engrossando a fala e não é de espichar conversa.

Não é do seu jeito levar qualquer um para compadre ou comadre. Nem o perfume de chucrute da Angela Merkel arranca suspiros dele. Isso lhe tem custado alguma encrenca. Seus procederes nem sempre calham bem, desencravando aplausos e foguetes de viva São João. Se o mal entendido cai nos ouvidos dum maníaco de querelas, o assunto toma o rumo do foro da Justiça, para ser resolvido na base de cifrões. Se a resposta não é aquela que agrada a quem vive de safadezas públicas e privadas, é bem nascida para virar manchete contra o presidente.

Como até agora não encontraram patifarias institucionais, do tipo contabilidade mal fechada ou mistura do dinheiro próprio com verba da Fazenda; como não é do feitio de Jair Bolsonaro levar amante em viagens oficiais, liberando cartão corporativo para ela e mandando a conta para o contribuinte; como o presidente não arreda os fundilhos para pisar o caminho que leva ao BNDES afim de, em troca de propina, salvar empresas que respiram por aparelhos, a matilha dos maledicentes, que andava amofinando o presidente, resolveu mudar o rumo das desfeitas. Com a ideia cravada na desmoralização do primeiro mandatário da nação, fuçando e fuçando, foram dar lá pelos ermos da periferia de Brasília, atrás de acontecidos, sucedidos e malfeitos da mãe da sogra dele.

A pobre senhora, de pele tisnada, com um ar de desamparo, já entrada na casa dos oitenta anos, teve sua velhice desrespeitada, sua história pessoal devassada, sua dignidade joeirada na peneira do desdém. A remessa de maldades que sobre essa infeliz criatura jogaram, desencavando do passado dela uma condenação criminal e esboçando maldosas insinuações a respeito de sua personalidade, desnudam um jornalismo de baixo nível. Abusando da liberdade de imprensa, ao ultrapassar os limites que a Constituição Federal impõe, inscrevendo como preceito fundamental o respeito à vida privada, à honra e à imagem das pessoas, o veículo de comunicação acabou jogando na lama o pouco da credibilidade que lhe restava. E de lambuja criou nova versão para a fábula do lobo e do cordeiro: se não foi tu, foi a mãe da tua sogra...


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