DE JUDAS, VENDILHÕES, E POLÍTICOS
Sob o título “Trinta Moedas pela educação”, na coluna “Opinião” de terça-feira passada, diz O Estadão que o “gabinete paralelo no MEC, com pastores influenciando na
liberação de verbas da pasta, é grave ofensa à ordem jurídica. Educação é
inegociável. Desde que o Estadão revelou,
na semana passada, a existência de mais um gabinete paralelo no governo
Bolsonaro, desta vez no Ministério da Educação (MEC), têm vindo à tona novos
dados sobre o aparelhamento da estrutura estatal para atender a interesses de
lideranças religiosas. Trata-se de uma situação rigorosamente inconstitucional,
que desrespeita princípios básicos da administração pública, fere o caráter
laico do Estado e, não menos importante, prejudica diretamente a qualidade da
educação pública”.
Mas no texto não há uma
única palavra sobre o desvalor que sustenta as falcatruas: a imoralidade. A
ação dos pastores, trocando a “palavra
de Deus” por verbas orçamentárias, não constitui nada de novo na mitologia
judaico-cristã. Histórias como a dos vendilhões do templo e das trinta moedas
de Judas já atraíam seguidores, tanto antes como depois de Cristo. Ou seja, desde
que o homem perdeu o pelo e o rabo, e começou a usar a língua para enrolar os
outros...
Convenhamos: “graves ofensas à ordem jurídica” o Brasil
vem sofrendo há muito tempo. O Direito, no Brasil, só segue uma cartilha: a que
ensina o manejo, as artimanhas, os acordos e os negócios que interessam à
classe política dominante.
A “ordem jurídica”
de um regime democrático é a que respeita a vontade do povo. E aqui no Brasil a
única coisa que não se faz é isso. O povo vive num país pobre, com deficiências
nos serviços de saúde, segurança e educação. Mas esses problemas os políticos
não têm: o povo lhes paga planos de saúde, segurança e subsídios de países
ricos, que lhes permitem a educação dos filhos longe das misérias que
desqualificam o ensino para os pobres.
Perdão. Dizer que
“o povo lhes paga” é uma expressão incorreta. Eles, os políticos, é que
estabelecem os próprios subsídios e todos os outros penduricalhos que lhes dão
o direito a uma vida principesca. E botam tudo na conta do povo que trabalha,
ou que arrisca seu capital, produzindo e criando empregos. A cobrança dessa
conta fica a cargo da Receita Federal, no mês de abril, todos os anos. E ai do
povo, se não pagar...
Mas, não é só
isso. “Grave ofensa à ordem jurídica” de um país, que se diz democrático, é a
extorsão do povo através de leis como a dos “fundos partidários”, que retiram
do orçamento as verbas que só aos políticos servem.
Aproveitando-se a
irônica linguagem bíblica do Estadão, não custa lembrar de passagem que, além
das “trinta moedas”, no Brasil ainda há os vendilhões do templo. São aqueles
que, “sob a proteção de Deus” invocada na Constituição Federal, fazem
negociatas para manter essa democracia. Para isso, usam a linguagem de
Francisco de Assis, que pode ser usada também no meretrício: é dando que se
recebe...
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