quarta-feira, 10 de novembro de 2010

COM A PALAVRA, JANER CRISTALDO

Confesso que tenho inveja do Janer. Gostaria de ter escrito e assinado a crônica que segue, publicada por ele no domingo.
João Eichbaum

APOLOGISTA DA DROGA VENDE BEM NO BRASIL

Decididamente, eu vivo fora deste insensato mundo. Leio no Estadão que nestas duas primeiras semanas de novembro - com eventos tão díspares como Fórmula 1, Salão do Automóvel, Mostra de Cinema e shows do Black Eyed Peas, Jonas Brothers e Eminem -, São Paulo vai receber 400 mil turistas, o equivalente a toda São José do Rio Preto, que devem movimentar nada menos do que R$ 385 milhões na economia da cidade. É, de longe, o melhor momento para o mercado do turismo paulistano, que já cresceu 30% neste ano.
Que vem fazer em São Paulo esta gente toda? Fórmula 1 e Salão do Automóvel até sei o que é, mas jamais me ocorreria a ir a algum desses eventos. Até hoje não entendi que tipo de ser humano vai a uma corrida de Fórmula 1. Os carros passam voando onde está o espectador, ele vê só um risco à sua frente. Se ficasse em casa, olhando a televisão, poderia ter uma visão geral da corrida.
Quanto a cinema, confesso que ainda curto. Mas uma preguiça abissal me impede de sair de casa. Deve ser coisa da idade. Há muito desisti de ler ficções e cinema também é ficção. Prefiro catar algum filme interessante na televisão nas madrugadas. Com os televisores de última geração, se pode ter bom cinema em casa sem ter de ouvir gente comendo pipoca.
Quanto a Black Eyed Peas, Jonas Brothers e Eminem, não tenho a mínima idéia do que se trata. Me espanta que tenham público em São Paulo. Vivo fora desse mundo. Lembro que há uns vinte anos, uma sobrinha veio do Rio Grande do Sul para ver um show de um tal de U-2. Que é isso? – perguntei. Ela se escandalizou. Eu, jornalista, não sabia o que era o U-2? Não sabia, não. E não sentia falta alguma por não saber.Sei que são coisas que atraem multidões. É o máximo que sei. Ora, abomino multidões. A multidão máxima que admito é o público de uma ópera. Em verdade, não é bem o que se chama de multidão. E muito menos é uivante. Quando vejo na televisão uma massa de jovens balançando as mãos erguidas, não noto diferença alguma das multidões que saudavam Hitler, Stalin ou Kim Il Sung. Ou o papa. Dá no mesmo. Psicologia de rebanho.
Assim sendo, confesso não entendo essa histeria toda em torno a um cantor septuagenário que está no Brasil, o tal de Paul McCartney. Que se apresenta hoje, em Porto Alegre. Este sei quem é, mas nada me diz. Seguido tenho ácidas discussões com um amigo, para quem os Beatles foram revolucionários. Revolução onde? Meu amigo empunha uma canção de John Lennon:
Imagine que não há paraíso
Isso é fácil se você tentar
Sem inferno abaixo de nós
Acima de nós só o céu
Imagine todas as pessoas
Vivendo pelo hoje
Imagine que não há países
Isso não é difícil de fazer
Nada para matar ou morrer por
E sem religião também
Imagine todas as pessoas
Vivendo pelo hoje
Ora, não venha alguém me dizer que uma letrinha vagabunda dessas provocou alguma revolução. Slogans não provocam revolução alguma, apenas servem para conduzir fanáticos. Não foi a Marselhesa que provocou a Revolução Francesa. O hino serve apenas para excitar ânimos. Revoluções surgem de idéias, de pensamento, não de cançonetas. Não é cantando que não existem infernos (mas paraísos existem) que vamos lutar contra o obscurantismo. Lutar contra religiões exige pensamento, não letrinhas de grupos de rock. Mas é claro que ler um ensaio filosófico cansa mais que cinco minutos de musiquinha.
Imaginar um mundo sem religião é besteirol de adolescente, que ainda não descobriu que a humana estupidez é eterna. Dizem que os Beatles influenciaram minha geração. Se assim foi, eu a ela não pertencia. Sou mais Pedro Raimundo, Inesita Barroso, Miguel Aceves Mejía, Jorge Negrete. Não que tais cantantes tenham me influenciado. Eles me ofereciam música, não ideologia.
Nunca entendi multidões de jovens curtindo canções em língua que não entendem. Qual o percentual desse público que vai ver McCartney entende inglês? Duvido que cinco por cento. Ok, eu gosto de Kalinka, sem entender russo. Gosto do ritmo. Adoro músicas folclóricas, mesmo em línguas que não conheço. Mas folclore nasce de povo. Nada a ver com música mercenária, feita para vender. Jamais veremos multidões fanáticas, com gestos uniformizados, curtindo Kalinka.
Os Beatles fizeram fortuna com seus apelos comerciais. Claro que não escapei de ouvir suas canções, mas elas nada me disseram. O grande legado de Paul McCartney e John Lennon, a meu ver, é a apologia das drogas. Era uma bandeira respeitável nos anos 70. Os Beatles foram os grandes agentes do LSD, cocaína, maconha e congêneres. Hoje, algumas mentes brilhantes estão concluindo que quem consome drogas financia o tráfico e o crime. No entanto, continuam lotando estádios em homenagem aos apologistas da droga.Tenho boas amigas, de minha geração, que vão ver o beatle macróbio. A elas, minhas desculpas. Mas não posso deixar de dizer o que penso. Terá McCartney estádios lotados, hoje, na Inglaterra? Duvido. Veio ao país dos botocudos faturar os restos de prestígio que lhe resta. Mais ou menos como aqueles chefs franceses, cujos restaurantes em Paris vivem às moscas. Mas encontram uma clientela ingênua para vender seus peixes caríssimos no Brasil.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

COLUNA DO PAULO WAINBERG

O DIA SEGUINTE

PAULO WAINBERG

Twitter.com/paulowainberg

“Tempos modernos, ok. O ex-presidente da Vale do Rio Doce, durante o período da ditadura, não podia imaginar que geraria o maior empresário brasileiro dos tempos modernos. Todos admiram e invejam a genialidade de Eike Batista, só se fala nele hoje, nos tempos modernos. Um verdadeiro gênio. Os filhos do ex-ministro das comunicações Mendonça de Barros, nos tempos modernos, constituíram a maior corretora do Brasil e se tornaram imbatíveis, nos mercados de renda variável, principalmente nos difíceis mercados de índices futuro. Só olharam para seus movimentos nos tempos modernos, com admiração e inveja. Verdadeiros gênios. O ex-Presidente FHC só descobriu as imensuráveis qualidades de seu filho, na arte e comercio internacional de feiras e congêneres, depois de assumir o cargo. Só se fala nele, com admiração e inveja, nos tempos modernos. Um verdadeiro gênio, sem falar de seu genro, autoridade incomum no campo do petróleo. Verdadeiros gênios. Finalmente, sem surpresa, o filho do presidente Lula, antes simples bancário. Um gênio, realmente, com aptidão singular na fabricação e comercialização de jogos eletrônicos, sem falar de sua enorme visão micro e macro econômica. Claro, temos ainda, nos tempos modernos, os geniais Senadores da república, cujo patrimônio, após assumirem o cargo, aumenta de forma exuberante. São gênios com tempo certo para se revelar. Todos ricos, podres de ricos, milionários, graças ao Brasil, na verdade um país de gênios. O que se precisa é dar oportunidade para que possam acordar. Acordem, futuros Gênios.” (Arthur Wainberg)

O texto acima foi enviado por meu irmão, Arthur Wainberg, e é de uma lucidez absoluta. Ele constata que, basta alguém assumir cargos de mando e poder, para que seus familiares revelem notáveis qualidades para amealhar fortunas.

É tão vergonhoso o que acontece neste País, tão escancarado e tão impune, que a imprensa noticia, as pessoas se escandalizam e... nada acontece.

Os fatos narrados pelo Arthur são de envergonhar o dono da padaria, a faxineira lá de casa, o meu proctologista, sei lá, o Sarney e o Renan, talvez?

Por acaso a prole de Dilma irá revelar dotes de genialidade, até agora cuidadosamente ocultados como um terrível segredo de família?

Sim, porque os outros gênios apontados foram obrigados, pobre deles, a esconder seus notáveis dotes por longos anos, mostrando-se ao público como pessoas comuns, membros da média, exercendo suas atividades funcionais como se fossem um qualquer.

Imagino as noites terríveis que passavam, escondidos nos seus quartos, elaborando projetos extraordinários que não podiam revelar, afinal seus pais ainda não eram presidentes de nada nem ministros ou míseros senadores da república.

Horas e horas, semana após semana, sentados diante dos psiquiatras, analisando suas inconformidades:

– Por que papai não deixa eu me mostrar? Por quanto tempo ainda vou ter que esperar, até que ele seja Presidente?

E o psiquiatra, impassível e amorfo:

– O que você pensa sobre isso? Sua revolta não será porque é ele quem dorme com sua mãe?

Como diz o ditado, quem espera sempre alcança. Finalmente seus pais presidiram, e eles puderam revelar ao mundo a qualidade superior que os transformou, rapidamente, em gênios empresarias e, logo, milionários.

Hoje, no dia seguinte ao pleito que elegeu Dilma, novos governadores, deputados e senadores, veremos surgir no Brasil novos gênios, até agora ocultos?

Quantos filhos falsamente medíocres alçarão vôo em negócios internacionais, empreendimentos fabulosos, projetos mirabolantes, cultivados como fermento do patrimônio familiar?

Honestamente falando, espero que nenhum. Mas não levo muita fé em meu desejo, sendo as coisas, neste País, do jeito que são.

No dia seguinte às eleições, a sensação é de que nada mudou. Dilma alardeando seus compromissos fundamentais, suas missões prioritárias e sua contensão tributária.... e já pondo, na pauta das metas governamentais, a recriação da CPMF.

Tudo igual, igualdade como nunca antes se viu, neste País.

José Serra, alegre, sorridente, feliz e aplaudido como se tivesse ganho a eleição, afirmando, de novo, que está apenas começando, que está no início da luta, numa ameaça implícita de que pretende, ai de nós, concorrer de novo a Presidente.

O PMDB, o partido mais corrupto deste País, o partido que deu sustentação política à ditadura, correndo alucinado em busca dos cargos, principalmente os do segundo escalação, onde a vida é mais fácil, menos pública e a roubalheira corre solta.

No PT, os velhos comanches erguem a voz, o primeiro deles, que ouvi falando no rádio segundos após o resultado, José Dirceu, velho de guerra. Ávido pelo poder e seus benefícios.

O nordeste se defende das acusações do leste, sudeste e sul, de ser boiada de Lula e seus bluecaps, Sarney e seus asseclas, Renan e seus marimbondos, mesmo que seja.

A única notícia boa é que Collor não se elegeu nas Alagoas.

Em suma, um dia seguinte exatamente idêntico ao dia anterior.

Por isso, com pesar, constato que meu irmão tem razão. Chegou a hora e, como ele diz, acordem, futuros gênios!!

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

COM A PALAVRA HUGO CASSEL

A CARA DA COROA

Na quarta feira que passou o Presidente Lula “já vai tarde”, deu junto com Dilma a primeira entrevista coletiva. Na ocasião entre outras besteiras que não pretende interferir nas decisões da sua ‘afilhada”, porque da mesma forma que o seu governo teve a sua cara, (de pau), assim o governo de Dilma deve ter a cara dela. Estamos, depois de 8 anos de vergonha, pelos vexames nacionais e internacionais que nos fez passar “O cara”, em véspera de agüentar mais quatro pelo menos, o “pavio curto” da “Coroa”. Além de não se saber qual a verdadeira cara da nova Presidente. Reportagens na TV, Globo e Record, mostraram pelo menos 8 fotos e filmes de Dilma Rousseff desde sua infância. inclusive uma , onde ela aparece com a família ainda na Bulgária, aparentando 2 anos de idade. Como foi divulgada uma certidão de nascimento naquele país, posso crer que tenha sido naturalizada brasileira .Esses dados pessoais até agora não foram desmentidos. Pelo contrario.Dilma não nega sua origem e até tem mandado dinheiro para a família, que aguarda uma visita da Presidente. Surge então a pergunta do curioso aqui: Como é que o pai de Dilma, oriundo de família pobre, fugindo para o Brasil, ficou rico em Minas, podendo criar Dilma com todo conforto nos melhores colégios? Ainda mais: O Peter Roussev que passou a se chamar Pedro Roussef teria deixado a mulher grávida de oito meses na Bulgária, para onde nunca mais voltou e do seu casamento no Brasil com a brasileira tiveram três filhos inclusive Dilma.Historia familiar um tanto nebulosa como se vê. A personagem, que aparece na foto da ficha do exército, como terrorista e guerrilheira, nada tem a ver com as outras na sua escalada política, com Brizola, seu “descobridor”, com Alceu Colares, Como Secretária de Energia, na Petrobras, Itaipu, Ministra de Minas, Ministra da Casa Civil, Candidata, com óculos, sem óculos, cabelo curto, peruca, e varias outras caras até chegar a essa que ostenta agora, construída com silicone a butox. Na verdade o Brasil não sabe a verdadeira cara de sua próxima Presidente. O certo é que não é essa que no momento estamos vendo, quando desaparecer o sorriso forçado de “campanha” e o desempenho teatral de mulher emotiva, mãe carinhosa, e outras baboseiras que fez crer aos incautos.O José Serra pelo menos teve sempre aquela cara que se não agrada alguém, pelo menos, é a única que ele tem mostrado. Foi por isso que votei nele. A “sargentona” que receberá a faixa no dia primeiro de Janeiro, é diferente daquela que o Brasil conheceu até aqui. As palhaçadas de Lula que divertiram o eleitorado terminaram; Não esperem nada parecido com a “Didi carabina”. Quem viver verá.

PROMESSAS

Embora a cada eleição os candidatos prometam céus e terras, não cumprem nem a metade. Ainda assim milhões de bobos se deixam levar pela lorotas. 6000 creches em 4 anos Dilma? São no mínimo 3 inaugurações por dia, inclusive sábados e domingos. Vais ter que, assumir, e sair correndo. Vais erradicar a pobreza? To loco pra deixar de ser um jornalista pobre: e curioso para ver como é que funciona uma nação que só tem rico.Que maravilha! Em toda parte que for só encontrarei colegas ricos, para conversar enquanto almoçamos em Restaurantes 5 estrelas, bebendo champanhe Don Perignon e Veuve Clicot! Discutindo alegremente sobre futebol, e mulheres! Mal posso esperar pelo “novo Brasil” sem essa raça nojenta que é o pobre.Mas eis que me assola uma duvida: Quem vai servir nosso faisão recheado com trufas? Nosso patê de “foágras” ? Quem recolherá nosso lixo se os garis também estão ricos e sentados ao nosso lado? Mamãe Dilma!!!!! Socorro !!!!

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

CRÔNICAS IMPUDICAS

MONTANHA DE PARIR CAMUNDONGOS

João Eichbaum

Ano passado, o Ministério Público federal denunciou administradores de alto coturno, entre os quais a governadora Ieda Crusius. Os procuradores da república foram para os jornais, fizeram alarde, deram entrevistas e um deles, ostentando um ar de quem é dono do mundo, se saiu com essa frase brilhante, profunda, recheada de filosofia jurídica, que mostra seu nível intelectual: “não vai ter moleza para os réus”.
Depois de toda aquela pantomima, na qual a juíza de Santa Maria tomou parte, recebendo a denúncia com fogos de artifício, rojões, holofotes, jornais, televisão, rádios, fora dos autos, naturalmente, hoje não se fala no processo. A governadora foi afastada do processo, e saiu lépida e faceira, deixando o resto da turma entregue ao Ministério Público. Que, diga-se de passagem, desde então desapareceu das manchetes.
Outro dia, uma promotora de justiça estadual convocou a polícia para deter um trabalhador, um caminhoneiro que havia atropelado duas galinhas. E pediu a instauração de processo, claro, por assassinato de galináceos. Também, coitada, não conhece latim e por isso ignora que “de minimis non curat pretor” (a justiça não ta nem aí pra porcarias, ou galinhadas).
Semana passada o Ministério Público federal, que andava fora das manchetes, resolver aparecer, desta vez para exigir solução para a ponte do Guaíba. Não se tem notícia de que alguma solução concreta tenha sido encaminhada. Dois dias depois, a ponte estava empacada de novo. E o Ministério Público federal não deu, nem pediu explicações.
Agora, o Ministério Público resolveu vir para o picadeiro novamente: interditou as obras da BR 101, de vital importância, tanto para o escoamento da produção, como para as vidas humanas que frequentemente são ceifadas numa estrada sem as mínimas condições de segurança.
Mas o Ministério Público “do trabalho” resolveu tomar as dores dos operários e se invocou com a falta de “cinto de segurança ligado a cabo-guia” e de redes “para não cair nada”. Por isso, interditou a rodovia. E ganhou manchetes, outra vez, naturalmente.
É de manchetes que vive o Ministério Público. Até hoje não se tem notícia de que alguma de suas ações cercadas de sensacionalismo tenha resolvido alguma coisa em favor da população.
Ministério Público do Trabalho? Qual é sua função, mesmo? E a Inspetoria do Trabalho, para que serve?
Nos processos, como se sabe, há sempre duas partes interessadas. No crime, a vítima e o réu. No cível, o autor e o réu. Na justiça do trabalho, o empregador e o empregado. Qual é o papel do Ministério Público? Acusar? Acusar qualquer um acusa. Fiscalizar? Para isso existem fiscais. Controlar a legalidade do processo? Disso as partes cuidam, mais do que ninguém, mais do que o próprio juiz, o mais das vezes.
Quem olha aquele desperdício de dinheiro público, aquele acinte, que é o prédio do Ministério Público estadual em Porto Alegre, não consegue chegar a outra conclusão senão a de que essa instituição não passa de uma montanha (de dinheiro) que só serve para parir camundongos. Isso, na melhor das hipóteses, porque há quem diga que o Ministério Público é como pau de enchente: se não está boiando, está trancando alguma coisa.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

CRÔNICAS MODERNAS

FAMILIA VINTE E UM

PAULO WAINBERG

Twitter.com/paulowainberg

Haroldo tirou o papel do bolso, conferiu a anotação e perguntou à balconista:

– Moça, vocês tem pen drive?

– Temos, sim.

– O que é pen drive? Pode me esclarecer? Meu filho me pediu para comprar um.

– Bom, pen drive é um aparelho em que o senhor salva tudo o que tem no computador.

– Ah, como um disquete...

– Não. No pen drive o senhor pode salvar textos, imagens e filmes. O disquete, que nem existe mais, só salva texto.

– Ah, tá. bom, vou querer.

– Quantos gigas?

– Hein?

– De quantos gigas o senhor quer o seu pen drive?

– O que é gigas?

– É o tamanho do pen.

– Ah, tá, eu queria um pequeno, que dê para levar no bolso, sem fazer muito volume.

– Todos são pequenos, senhor. O tamanho, aí, é a quantidade de coisas que ele pode arquivar.

– Ah, tá. E quantos tamanhos tem?

– Dois, quatro, oito e até dez gigas.

– hmmmm, meu filho não falou quantos gigas queria.

– Neste caso, o melhor é levar o maior.

– Sim, eu acho que sim. Quanto custa?

– Bem, o de dez gigas é o mais caro. A sua entrada é USB?

– Como?

– É que para acoplar o pen no computador, tem que ter uma entrada compatível.

– USB não é a potência do ar condicionado?

– Não, aquilo é BTU.

– Ah é, isso mesmo. Confundi as iniciais. Bom, sei lá se a minha entrada é USB.

– USB é assim ó, com dentinhos que se encaixam nos buraquinhos do computador. O outro tipo é este, o P2, mais tradicional, o senhor só tem que enfiar o pino no buraco redondo.

– Hmmmm..., enfiar o pino no buraquinho, né?

– Hehehe. O seu computador é novo ou velho? Se for novo é USB, se for velho é P2.

– Acho que o meu tem uns dois anos. O anterior ainda era com disquete. Lembra do disquete? Quadradinho, preto, fácil de carregar, quase não tinha peso. O meu primeiro computador funcionava com aqueles disquetes do tipo bolacha, grandões e quadrados. Era bem mais simples, não acha?

– Os de hoje nem tem mais entrada para disquete. Ou é CD ou pen drive.

– Que coisa! Bem, não sei o que fazer. Acho melhor perguntar ao meu filho.

– Quem sabe o senhor liga para ele?

– Bem que eu gostaria, mas meu celular é novo, tem tanta coisa nele que ainda não aprendi a discar.

– Deixa eu ver. Poxa, um Smarthphone, este é bom mesmo, tem Bluetooth, woofle, brufle, trifle, banda larga, teclado touchpad, câmera fotográfica, filmadora, radio AM/FM, dá pra mandar e receber e-mail, torpedo direcional, micro-ondas e conexão wireless.

– Micro-ondas? Dá para cozinhar nele?

– Não senhor, assim o senhor me faz rir, é que ele funciona no sub-padrão, por isso é muito mais rápido.

– E Bluetooth?, estou emocionado. Não entendo como os celulares anteriores não possuíam Bluetooth.

– O senhor sabe para que serve?

– É claro que não.

– É para comunicar um celular com outro, sem fio.

– Que maravilha! Essa é uma grande novidade! Mas os celulares já não se comunicam com os outros sem usar fio? Nunca precisei fio para ligar para outro celular. Fio em celular, que eu saiba, é apenas para carregar a bateria...

– Não, já vi que o senhor não entende nada, mesmo. Com o Bluetooth o senhor passa os dados do seu celular para outro, sem usar fio. Lista de telefones, por exemplo.

– Ah, e antes precisava fio?

– Não, tinha que trocar o chip.

– Hein? Ah, sim, o chip. E hoje não precisa mais chip...

– Precisa, sim, mas o Bluetooth é bem melhor.

– Legal esse negócio do chip. O meu celular tem chip?

– Momentinho... Deixa eu ver... Sim, tem chip.

– E faço o quê, com o chip?

– Se o senhor quiser trocar de operadora, portabilidade, o senhor sabe.

– Sei, sim, portabilidade, não é?, claro que sei. Não ia saber uma coisa dessas, tão simples? Imagino, então que para ligar tudo isso, no meu celular, depois de fazer um curso de dois meses, eu só preciso clicar nuns duzentos botões...

– Nãão, é tudo muito simples, o senhor logo apreende. Quer ligar para o seu filho? Anote aqui o número dele. Isto. Agora é só teclar, um momentinho, e apertar no botão verde... pronto, está chamando.

Haroldo segura o celular com a ponta dos dedos, temendo ser levado pelos ares, para um outro planeta:

– Oi filhão, é o papai. Sim. Me diz, filho, o seu pen drive é de quantos... Como é mesmo o nome? Ah, obrigado, quantos gigas? Quatro gigas está bom? Ótimo. E tem outra coisa, o que era mesmo? Isso, nossa conexão é USB? É? Que loucura. Então tá, filho, papai está comprando o teu pen drive. De noite eu levo para casa.

– Que idade tem seu filho?

– Vai fazer dez em março.

– Que gracinha...

– É isto moça, vou levar um de quatro gigas, com conexão USB.

– Certo, senhor. Quer para presente?

Mais tarde, no escritório, examinou o pen drive, um minúsculo objeto, menor do que um isqueiro, capaz de gravar filmes? Onde iremos parar? Olha, com receio, para o celular sobre a mesa.

Máquina infernal, pensa.

Tudo o que ele quer é um telefone, para discar e receber chamadas. E tem, nas mãos, um equipamento sofistificado, tão complexo que ninguém que não seja especialista ou tenha mais de quarenta, saberá compreender.

Em casa, ele entrega o pen drive ao filho e pede para ver como funciona.

O garoto insere o aparelho e na tela abre-se uma janela. Em seguida, com o mouse, abre uma página da internet, em inglês. Seleciona umas palavras e um roque infernal invade o quarto e os ouvidos de Haroldo.

Um outro clique e, quando a música termina, o garoto diz:

– Pronto, pai, baixei a música. Agora eu levo o pen drive para qualquer lugar e onde tiver uma entrada USB eu posso ouvir a música. No meu celular, por exemplo.

– Teu celular tem entrada USB?

– É lógico. O teu também tem.

– É? Quer dizer que eu posso gravar músicas num pen drive e ouvir pelo celular?

– Se o senhor não quiser baixar direto da internet...

Naquela noite, antes de dormir, deu um beijo em Clarinha e disse:

– Sabe que eu tenho Bluetooth?

– Como é que é?

– Bluetooth. Não vai me dizer que não sabe o que é?

– Não enche, Haroldo, deixa eu dormir.

– Meu bem, lembra como era boa a vida, quando telefone era telefone, gravador era gravador, toca-discos tocava discos e a gente só tinha que apertar um botão, para as coisas funcionarem?

– Claro que lembro, Haroldo. Hoje é bem melhor, né? Várias coisas numa só, até Bluetooth você tem.

– E conexão USB também.

– Que ótimo, Haroldo, meus parabéns.

– Clarinha, com tanta tecnologia a gente envelhece cada vez mais rápido. Fico doente de pensar em quanta coisa existe, por aí, que nunca vou usar.

– Ué? Por que?

– Porque eu recém tinha aprendido a usar computador e celular e, tudo o que sei já está superado.

– Falar nisso temos que trocar nossa televisão.

– Ué? A nossa estragou?

– Não. Mas a nossa não tem HD, tecla SAP, sloamotion e reset.

– Tudo isso?

– Tudo. Boa noite, Haroldo, vai dormir.

Quando estava quase pegando no sono, o filho entra no quarto e diz:

– Pai, me compra um Playstation vinte e sete?

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

COM A PALAVRA, JANER CRISTALDO

CONSUMMATUM EST

Foi uma segunda-feira sem novidades. As primeiras páginas dos jornais estavam previstas há meses. Eleita a primeira mulher presidente da República, dizem as manchetes. Pode ser. Mas vejo a coisa por outro lado. Vinte anos depois da queda do Muro, da dissolução da União Soviética e do desmoronamento do comunismo, foi eleito o primeiro presidente da República marxista. Pois, pelo que sei, dona Dilma nunca renegou publicamente sua filosofia de juventude. Pelo contrário, orgulha-se discretamente de ter lutado para transformar o Brasil numa republiqueta soviética.
Meu correio é inundado diariamente por mails de almas ingênuas que contam os dias que faltam para findar o governo Lula. São bobalhões que ainda não se deram conta de que o inimaginável acabará acontecendo: ainda vamos sentir saudades do Supremo Apedeuta. Há uma direita histérica no Brasil, liderada pelo astrólogo Aiatolavo de Carvalho e seus acólitos, que via em Lula uma ameaça comunista. Ora, Lula nunca teve ideologia. Só se apegou a um ismo, um único ismo, o oportunismo. Se alguma virtude teve, foi jogar na lata do lixo os propósitos socialistas do PT.
Mas Dilma tem ideologia. É atrabiliária e vai mostrar as garras. O PNDH-3 aí está, esperando aprovação de uma bandeira sempre cara aos velhos comunistas, a censura de imprensa. Alguns Estados, apressadinhos, ao arrepio da Constituição, já criaram seus conselhos de controle da mídia. O tal de plano legisla em todas as áreas, é quase uma nova Constituição. Parece ter sido elaborado por um analfabeto em termos de legislação. Mas apenas aparentemente. Em verdade, é obra de alguém que, por muito entender de leis, não as respeita. Antes mesmo de tomar posse, Dilma já está acenando com a reabilitação de um corrupto envolvido no escândalo da máfia do lixo, em Ribeirão Preto. Que teve de renunciar ao ministério da Fazenda por ter violado o sigilo bancário de um humilde caseiro. Por seus feitos, ao que tudo indica, Palocci será contemplado com um ministério.
Imaginei que a fatura, neste 2010, seria liquidada no primeiro turno. Não foi. O que só prolongou a agonia tucana. Serra não ousou atacar Lula. Nem poderia. São farinha do mesmo saco. Não houve oposição nestas eleições. Ambos os candidatos reivindicavam a continuidade do governo Lula. A tal ponto que Serra, supostamente oposição, grudou um bonequinho de Lula em sua campanha. Houve dois partidos, é verdade: o do sim e o do sim senhor. Dilma prometia manter a Bolsa-Família, Serra prometia um décimo-terceiro salário para a bolsa. O PSDB sequer ousou em propor um governo distinto ao de Lula. Criou a infeliz expressão “pós-Lula”. Ora, se é para dar continuidade ao governo de Lula, melhor então votar em quem Lula indica. Este foi o recado que Serra passou aos eleitores.
Os tucanos amanheceram, nesta segunda-feira, contando mortos e feridos. ”Não é um adeus, é um até logo”, disse Serra após sua derrota. Santa ingenuidade. Serra saiu politicamente morto deste pleito. Tem 68 anos e o máximo que pode esperar é uma secretaria de Alckmin como prêmio-consolação. Tinha dezenas de trunfos em mão para enfrentar o PT. O assassinato de Celso Daniel, o mensalão, dinheiro nas cuecas, quebras de sigilo fiscal e bancário, nepotismo, proteção às falcatruas de Sarney, em suma, corrupção foi o que não faltou para denunciar. Serra preferiu manter um silêncio obsequioso. Se usasse as armas que tinha em mãos, mesmo que perdesse, cairia em pé. Não as usou. Sai aviltado do pleito.
Dilma mentiu descaradamente durante toda a campanha. Há três anos se pronunciava a favor do aborto, publicamente. De repente, virou defensora da vida. Não teve sequer a hombridade de dizer que mudara de idéia. Preferiu entoar o mantra dileto do PT: são boatos e calúnias. Marxista convicta, divulgou fotos de um encontro com o papa e deixou-se fotografar fazendo o sinal da cruz. Serra não deixou por menos, saiu a beijar terços. Só faltou aos candidatos papar hóstias. O Brasil engoliu prazerosamente as mentiras da candidata.
Leitores mais antigos devem lembrar quando o PT, em seus anos irados, denunciava o regime assistencialista das sociais-democracias européias. Hoje, o PT fez sua presidenta graças ao regime assistencialista que instalou no país. A vitória de Dilma se deve fundamentalmente ao Nordeste que não trabalha e vive das esmolas do Estado. As mesmas esmolas que Lula denunciava, quando eram dadas por Fernando Henrique. Os tucanos não podem queixar-se. Prepararam o ninho para os chupins.
Consummatum est. Teremos pelo menos mais oito anos de lulismo e populismo pela frente. Quanto a mim, estou vacinado. Se sobrevivi a oito anos de Lula, acho que sobrevivo a Dilma. O duro vai ser ver aquele rosto emético nas primeiras páginas dos jornais nos próximos anos. Duro também é ver uma remanescente das tiranias comunistas assumir o poder, vinte anos após a queda do Muro.
Isto é Brasil.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

CRÔNICAS IMPUDICAS

RESULTADO DAS ELEIÇÕES: NADA DE NOVO

João Eichbaum

Saiu o resultado das eleições. Venceram os vagabundos, os cachaceiros, os indolentes, os que não trabalham, mas vivem à custa daqueles que não conhecem outros benefícios na vida, senão os que lhes proporciona o trabalho.

Vejam o mapa, meus amigos. A vitória da Dilma Rousseff vem do norte, do nordeste, de Minas e do Rio de Janeiro.

Em São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, os estados que produzem, que dão duro, que trabalham, que geram a riqueza dos cofres públicos, de que se aproveitam os políticos e o povinho do norte e do nordeste, ela não teve vez. Também nos estados do centro-oeste, para onde os gaúchos exportaram o gosto pelo trabalho e pelos empreendimentos, a Dilma empacou.

A grande diferença, neste país, está entre os que trabalham e os que, não trabalhando, se aproveitam.

Lá em cima, no norte e no nordeste estão os descendentes de portugueses, dos mamelucos, daquela cruza gerada por holandeses, índios, negros e portugueses. No Rio de Janeiro está o povo que só se ocupa de praia, cerveja, mulatas, e carnaval, e não ta nem aí pro trabalho.

Na parte debaixo estão os descendentes de imigrantes alemães, italianos, poloneses, japoneses, gente que só vive para o trabalho.

Quando colocaram na presidência da república um cara que pouco trabalhou na vida, amputou um dedo para obter benefícios previdenciários e se dedicou a discursos sem pé nem cabeça, com língua pegada, para liderar bóias frias que trabalhavam nas indústrias de São Paulo, não podia dar outra. O norte e o nordeste tomaram conta do país, quer dizer, a indolência, a preguiça e o comodismo se aboletaram no poder, principalmente porque contaram com a ajuda inescrupulosa do Sarney, do Collor e do Calheiros, raposas da política, que também nunca trabalharam na vida e, sem trabalhar, enriqueceram – todos nordestinos, diga-se de passagem.

Claro que nesse embate entre os do sul e do centro-oeste, que trabalham, e os do norte e nordeste que não trabalham, a diferença, no que diz respeito a número de eleitores, não é muito acentuada. Pode até dar empate. Mas o Rio de Janeiro e Minas cometem o desequilíbrio.

Então, quem decide é Minas Gerais, onde se concentra a politicagem, ou seja, onde se trabalha, mas também se tira proveito dos cofres públicos, e o Rio de Janeiro, onde só se goza uma vida que não exala o suor do trabalho, mas sim o da praia e o do samba.

E Minas e o Rio de Janeiro foram o fiel da balança: decidiram em favor da Dilma.

Mas, nada vai mudar. No sul, continuaremos trabalhando, dando duro, enfrentando os riscos da indústria, da agricultura e da pecuária, porque precisamos trabalhar para viver. No centro-oeste, pelo mesmo motivo, se manterá a luta pela vida, através da pecuária e da agricultura, correndo atrás do gado, rezando pra não chover demais, nem de menos. No norte e no nordeste a vida continuará leve, mesmo sem chuva, se balançando nas redes, com uma garrafa de pinga ao lado, tudo financiado pelo bolsa-família. Minas continuará se aproveitando da política para crescer, e no Rio de Janeiro o sol vai continuar brilhando, para que o povo se deleite na praia, olhando bunda de mulatas e caindo no samba.

Nada de novo, portanto, nos traz o resultado dessas eleições.