quinta-feira, 30 de setembro de 2010

COM A PALAVRA, JANER CRISTALDO

BRASIL NÃO MERECE SEQUER UMA LÁGRIMA

Domingo que vem é meu dia de protesto cívico. Como faço há já vinte anos, não vou votar. Há quem defenda a idéia de votar no candidato menos pior. Discordo. Menos pior também é pior. Sem falar que me parece absurdo, em regime democrático, ser obrigado a votar. Em todo o Primeiro Mundo, o voto é facultativo. Só nesta América Latina, que vai a reboque da História, é obrigatório. Obrigatório em termos. Você sempre pode anular seu voto. Mas tem de comparecer às urnas. É o que tenho feito de 1990 para cá. Meu título continua em Florianópolis. No domingo, perto de meio-dia, vou justificar a ausência de meu domicílio eleitoral. E depois vou para meu boteco, aperitivar. Hoje, em São Paulo, pode-se beber em dia de eleições. Quando não se podia, meu garçom me servia um uísque e punha ao lado do copo uma garrafa de guaraná.
Não quero ser radical. Mas diria que qualquer pessoa de bom senso não pode votar nestas eleições. De um lado, a candidata preferencial é uma ex-guerrilheira que participou de um grupo terrorista e até hoje se orgulha disto. O segundo colocado não pode sequer acusá-la de terrorista, pois militou em outro grupo terrorista. Os três candidatos mais cotados são todos de extração marxista. Vinte anos após a queda do Muro de Berlim e do desmoronamento da União Soviética, no Brasil o fundo do ar ainda é vermelho.
O mais patético – para não dizer pateta – dos candidatos é sem dúvida José Serra. Não ousa dizer uma palavrinha contra seu adversário, o patrocinador de Dilma Rousseff. Pelo contrário, o colocou em sua campanha eleitoral. Ao dar-se conta que isto era um tiro no pé, retirou-o de sua publicidade. Mas acabou fazendo pior. Mais adiante, alertou o eleitorado: se vocês querem Lula em 2014, têm de eleger-me agora. Se Dilma vencer, Lula não emplaca. Traduzindo em bom português, o que disse Serra? Disse que sem ele seu adversário não será eleito. Com oposição assim, o PT não precisa de base aliada.
Os políticos viraram bonecos de ventríloquo. Quem fala é o marqueteiro. O candidato repete. Mais ainda: para cúmulo do ridículo, o PSDB contratou para fazer sua campanha um guru indiano sediado nos Estados Unidos. A dez mil dólares por dia. Pode? Recorrer aos serviços de um vigarista estrangeiro para conduzir uma campanha eleitoral? Edir Macedo faria melhor. Ao constatar a mancada, os tucanos mandaram o guru de volta aos States. Teria sido mais barato enviar o Serra para fazer meditação transcendental em um ashram em Poona.
Os tucanos têm em mãos farto material para desmoralizar o PT. Desde o mensalão, dólares na cueca, o assassinato de Celso Daniel, os escândalos da Casa Civil, desde Zé Dirceu a Erenice, os cinco milhões de reais dados de mão beijada a Lulinha, e por aí vai. Não usaram esta munição. Serra, já que vai perder, podia ao menos perder com dignidade. Vai morrer humilhado.
Marina da Silva, sem comentários. Lanterninha, insiste no discurso surrado de meio-ambiente, cultua também Lula e põe-se em cima do muro ante qualquer questão polêmica. É boa alternativa para os petistas que admitem existir corrupção no governo do PT. Votam na morena Marina no primeiro turno e no segundo voltam ao redil. Como não vai ter segundo turno, vão acabar mesmo votando no primeiro no PT.
Almas ingênuas ainda acreditam numa virada. Recebo não poucos e-mails de coronéis de pijama que ainda acreditam em milagre. Coronel, quando veste pijama, vira valente. Quando na ativa, é cachorro que enfia o rabo entre as pernas com medo da voz do dono. Outro que alimenta esperanças é o recórter chapa-branca tucanopapista hidrófobo da Veja. Que tenha suas preferências políticas, vá lá. Que acredite que o PSDB possa levar é ingenuidade atroz. Ou subserviência de jornalista vil. A última chance de Serra seria uma recidiva de linfoma. Mas estamos a uma semana das eleições e a recidiva não ocorreu. Se ocorrer mais tarde, será tarde demais.
Dona Dilma está com todas as chances de ganhar no primeiro turno. Serra que se dê por feliz se não levar capote. Quando um candidato deposita suas esperanças em chegar ao segundo turno, como faz o tucano, é porque já deu as eleições por perdidas. Pior ainda: antes mesmo do primeiro turno, Serra está lançando sua candidatura à Prefeitura de São Paulo. Como pode um eleitor votar em um candidato que já pensa em receber um docinho pela derrota? Pelo jeito, Serra ainda não percebeu que estas eleições significam seu enterro político.
Dias piores esperam o Brasil. Nada de melhor se pode esperar de uma terrorista – que eu saiba, a candidata ainda não se penitenciou de seu passado – dominada pela atrabilis e mandonismo. E que consegue falar um pior português que o Supremo Apedeuta. País inacreditável, este nosso: pelo jeito ainda sentiremos saudades de Lula.
De minha parte, tanto faz como tanto fez. Desde há muito não deposito esperança nenhuma neste Brasil. Quando um presidente que acoberta crimes durante dois mandatos tem ainda 80% de aprovação do eleitorado, nada mais se pode fazer. Lasciate ogni speranza voi che entrate! Vou cuidar de meu jardim. Tratar de bem viver os dias que me restam. E o Brasil que se lixe. Povinho que elege Lula ou Dilma não merece sequer uma lágrima.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

ESSE CIRCO CHAMADO JUSTIÇA

A DEPENDÊNCIA DO JUDICIÁRIO
João Eichbaum

Em várias crônicas, tenho criticado o Judiciário, mostrando que a Justiça não é confiável. Pelo que me lembro, em duas crônicas, mostrei minha indignação diante da falta de personalidade de quem deseja ser ministro, seja do Supremo Tribunal Federal, seja do Superior Tribunal de Justiça.
Em outras palavras, disse que o candidato a ministro desses tribunais tem que vender a alma ao diabo.
Pois em sua última edição a revista Veja traz entrevista com a ministra Eliana Calmon, do Superior Tribunal de Justiça, eleita, recentemente, para o cargo de Corregedora do Conselho Nacional de Justiça, aquele órgão que, com o nosso dinheiro, faz propaganda de um produto que não existe: a “justiça”.
Pois a ministra Eliana, que é juíza de carreira e chegou ao Superior Tribunal de Justiça graças ao Jader Barbalho e ao Antônio Carlos Magalhães (que currículo, hein!) não se peja de confessar que “para ascender na carreira, o juiz precisa dos políticos”, acrescentando que “nos tribunais superiores o critério é única e exclusivamente político”.
E diz mais a ministra: “os piores magistrados terminam sendo os mais louvados. O ignorante, o despreparado, não cria problema com ninguém, porque sabe que num embate ele levará a pior. Esse chegará ao topo do judiciário.”
Então, tudo o que se disse nessa coluna sobre os ministros do Supremo Tribunal Federal encontra respaldo nos dizeres da ministra Eliana. Não é invenção, não é pura crítica. É uma triste realidade.
E vai mais longe a ministra, criticando a “juizite”, isto é, a vaidade dos magistrados, que se satisfazem plenamente com o orgasmo que o poder lhes proporciona. E Sua Excelência admite ainda que “nós, magistrados, temos tendência a ficar prepotentes e vaidosos, espécie de super-homem decidindo a vida alheia”.
Longe de merecer destaque na galeria dos heróis, porque ela mesma confessa que “se não tivesse padrinhos”, não estaria no STJ, a ministra merece aplauso por desvendar as fraquezas do judiciário, que são a vaidade e a ignorância.
Graças a ela, sabemos que a Justiça é uma farsa, já que é comandada pelos “piores magistrados”, uma vez que “os corretos ficam onde estão”, isto é, não chegam ao topo do judiciário. E é no topo do Judiciário que a justiça dá sua última palavra.
Então, meus amigos, não estamos sozinhos, nesse descrédito que macula e compromete a justiça. Aos nossos argumentos se junta a palavra de uma ministra, integrante do Conselho Nacional do Justiça, que se confessa “fruto do sistema”, permitindo a suposição de que a justiça não é um valor perseguido por pessoas responsáveis, independentes e íntegras, mas mero espetáculo (deslumbrante, pelo poder e pelos belos salários, para os magistrados). Ou seja não passa de “um circo, chamado justiça”.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

COM A PALAVRA, JANER CRISTALDO

HOLOCAUSTO VENDE BEM

Essa agora! Leio nos jornais que a Câmara Municipal de Porto Alegre aprovou um projeto que torna obrigatório o ensino do Holocausto na rede pública da cidade. A proposta, votada na semana passada, será sancionada no dia 18 de outubro e começa a valer a partir de 2011 para as escolas públicas de ensino fundamental. Autor da proposta, o vereador Valter Nagelstein (PMDB) argumenta que o Holocausto -extermínio de judeus na Europa durante o regime nazista (1933-45)- foi "o mais grave" episódio da história de desrespeito aos direitos humanos e que estudá-lo propicia aos alunos "uma visão mais profunda sobre o preconceito".
O que a notícia não diz é se será ou não uma disciplina, a ser desenvolvida durante o ano letivo. Pelo jeito, é. Ora, a questão do holocausto cabe em uma, no máximo duas aulas. Mais importante, a meu ver, seria estudar o comunismo, doutrina que dominou o século passado e fez não seis milhões de cadáveres, mas cem milhões.
Só na China, o Livro Negro do Comunismo – antologia coordenada por Stéphane Courtois - debita a Mao 65 milhões de cadáveres em tempos de paz. Em Mao, a História Desconhecida, de Jung Chang e Jon Halliday, os autores falam em 70 milhões. 65 ou 70, não se tem notícia na História de homem que, sozinho, tenha matado tanto. Entre 58 e 61, no Grande Salto para a Frente, 28 milhões de chineses morreram de fome. Segundo Jung Chang, foi a maior epidemia de fome do século XX - e de toda história registrada da humanidade. A China produzia carne e grãos, mas Mao exportava estes produtos para a União Soviética, em troca de armas e tecnologia nuclear. Segundo o Grande Timoneiro, como era chamado Mao, as pessoas "não estavam sem comida o ano todo - apenas seis ou quatro meses".As 846 páginas do livro tornam o relato cansativo. Basta, a meu ver, o resumo: URSS - 20 milhões de mortos; China - 65 milhões; Vietnã - 1 milhão; Coréia do Norte - 2 milhões; Cambodja - 2 milhões; Europa do Leste - 1 milhão; América Latina - 150 mil; África - 1,7 milhão Afeganistão - 1,5 milhão; movimento comunista internacional e PCs fora do poder - uma dezena de milhar de mortos.
Mais interessante seria estudar a Inquisição. Se o Holocausto produziu Israel, a Inquisição construiu a Res Publica Christiana, hoje chamada Europa, e consolidou o poder vaticano, emblema contemporâneo dos maiores faustos do mundo. Certo dia, em Toledo, quis visitar o Museu da Inquisição, na época lá instalado. Perguntei a uma toledana onde ficava. Ela, de bate-pronto, me retrucou: por que o senhor não vai visitar nossa catedral? Ela é belíssima. A catedral eu já havia visitado, sua arquitetura majestosa sempre me faz chorar. Mas o que eu queria ver, daquela vez, eram os instrumentos que haviam possibilitado a ereção da catedral. A vontade é de vomitar. Difícil conceber o talento do humano engenho quando se trata de fazer o próximo sofrer. Mas, enfim, há males que vêm para o bem, como diria - e disse - João Paulo II, a propósito do comunismo. Turista algum se comoveria hoje até as lágrimas, visitando aquele templo imponente, não fossem as torturas horrendas pelas quais passaram os homens da época que o erigiram.
Se comparado com a Inquisição ou com o comunismo, o nazismo durou o que duram as rosas. Foram apenas doze anos de poder. O regime nazista está longe de ser "o mais grave" episódio da história de desrespeito aos direitos humanos, como pretende o vereador gaúcho. Na Rússia, o comunismo teve vigência por sete décadas. Pior ainda, a ideologia tomou conta do Ocidente todo, a ponto de seus melhores cérebros fazerem a defesa incondicional de um dos maiores assassinos do século, Joseph Vissarionovitch Djugatchivili, mais conhecido como Stalin, o de aço. Quando o tirano morreu, houve quem não acreditasse na notícia. Porque um deus não pode morrer.
Segundo a Confederação Israelita do Brasil, Porto Alegre é a primeira cidade do país a aprovar um projeto nesse sentido. Aposto que a próxima será São Paulo. Quanto a estudar o comunismo, que seria mais útil, nem pensar. Os nazistas já morreram e o que quer que lhes diga respeito não mais os atinge. Os comunistas, estão aí. Responsáveis por um passado hediondo e livres como passarinhos. Mais ainda: ocupando os altos escalões do governo.
Quanto ao Holocausto, sempre vende bem.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

ESSE CIRCO CHAMADO JUSTIÇA

O SEMINARISTA
João Eichbum

O Cezar Peluso é ministro presidente do Supremo Tribunal Federal e do Conselho Nacional de Justiça. O CNJ, sabe, é aquele que faz propaganda da justiça, um produto que não se encontra nem pra remédio, no mercado nacional.
O Cezar Peluso, presidente das duas entidades que só têm marca, mas não têm produto, tem um bigodinho que me lembra o Hitler, para disfarçar a cara de seminarista.
Não sei se vocês já repararam: quem foi seminarista vai ter sempre cara de seminarista, uns até já adquirem jeito de padre, sotaque de padre, caminhar de padre.
O Cezar Peluso foi seminarista. Ele queria ser papa. Tinha um tio que era bispo ou coisa parecida e, certamente, já contava com o voto do tio bispo, para ser papa. Mas, foi derrubado no caminho que conduz ao Vaticano, certamente pelo latim, que é uma pedra muito dura.Ou por algum rabo de saia. E aí se contentou com o poder suburbano, tornando-se presidente do Supremo.
Mas a cara de seminarista ele conservou, porque não larga da carolice. Pois saibam que o Cezar Peluso é daqueles que se cristalizaram no tempo: ainda acredita em confissão e comunhão.
É, sim. Ele costuma confessar os pecados, que não hão de ser pequenos, partindo-se da consideração do poder que ele comanda. Seu confessor é ninguém menos do que o arcebispo de São Paulo, Odilo Scherer. É para o bispo Odilo que o Peluso conta os pecadinhos pequenos, que começam com a vaidade, e vai para os grandes, que servem para inchar a vaidade.
Seguinte. O bispo Odilo Scherer assinou manifesto pedindo a aplicação imediata da Lei da Ficha Limpa, para que sujeitos como Joaquim Roriz não possam se eleger. Mas o Cezar Peluso quer pintar de inconstitucional a dita lei, execrada pelo seu grande amigo Pedro Gordilho, advogado de Roriz
Então, já que o Peluso prefere dar ganho de causa para o seu amigo advogado, que vai forrar os bolsos com o dinheiro que Joaquim Roriz arrecadou por aí, o Peluso vai ter que se ajoelhar aos pés do confessor, por causa da lei da Ficha Limpa, que para ele é uma lei suja.
É por isso que eu digo: o Peluso, nem com o bigodinho consegue disfarçar a cara de seminarista. Crente e temente a Deus, ele sabe perfeitamente que pode pecar, beneficiando seu amigo Pedro Gordilho, porque o confessor Odilo Scherer ouvirá o pecado, mas o absolverá, garantindo-lhe o céu.
Quem foi seminarista sabe disso: pode pecar à vontade, porque basta confessar, e todos os pecados estarão apagados, depois da reza de alguns padre-nossos e ave-marias. E aí pouco importa que políticos de ficha suja se safem com o empate na votação do Supremo, provocado pela vaidade e pela preocupação com os amigos.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

CRÔNICAS IMPUDICAS

AMA COM FÉ E ORGULHO
João Eichbaum

O Laurentino Gomes, no seu livro “1822”, desvenda nossas origens, como já começara a fazê-lo no anterior, “1808”: o Brasil nasceu de uma diarréia. As dores do nascimento deste “gigante”, que hoje está entregue aos cuidados do Lula, que, por sua vez, o entrega a pessoas como Erenice Guerra, não foram dores de parto, mas dores de barriga.
Olhem o que diz o Laurentino: “ ao se aproximar do riacho do Ipiranga, às 16h30 de 7 de setembro de 1822, o príncipe regente, futuro imperador do Brasil e rei de Portugal, estava com dor de barriga”. E, invocando o testemunho do coronel Manuel Marcondes de Oliveira Melo, subcomandante da guarda de honra do príncipe, conta o autor de “1822” que, volta e meia, Dom Pedro I, tinha que descer da mula que o levava, para aliviar o intestino no matagal que se estendia ao longo da estrada.
E foi com essa disenteria que o príncipe regente, Dom Pedro I, proclamou a independência do Brasil, às margens do Ipiranga, um arroio de água escura e cor de barro, que coleava entre roçados e inços, ao longo da estrada que levava de Santos a São Paulo.
Então, meus amigos, o que é que vocês queriam de um país que nasceu de uma caganeira?
Que fosse um país culto, como a França? Rico como a Alemanha? Poderoso como os Estados Unidos? Trabalhador como o Japão?
Não, meu caro, não adianta reclamar. Você não tem escolha: ou é a Dilma, ou é o Serra, ou é a Marina. Porque um país nascido de uma diarréia não pode dar coisa melhor.
Olhe em volta de você, meu amigo, olhe os deputados estaduais e federais, os senadores, os ministros do Supremo, o presidente atual e aquele ex-presidente de culhão roxo desta pobre república, gerada num churrio, como é que você iria arranjar coisa melhor?
Não, meu caro! A natureza não se muda.
O Brasil é o que o príncipe regente, Dom Pedro I, mulherengo e pusilânime, dominado pelo José Bonifácio, gerou.
Você pode até amar “com fé e orgulho” esta terra, mas não verá “país nenhum” que tenha políticos iguais aos gerados nas Alagoas, no Maranhão, no Pernambuco.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

COM A PALAVRA, JANER CRISTALDO

IMPRENSA FRANCESA PERDEU A VERGONHA

Comentei há alguns dias: leitora me alerta que não foi só o Le Monde que publicou um suplemento endeusando Lula e seu governo. O argentino El Clarín também fez o mesmo. E se há suplementos laudatórios em um jornal francês e outro argentino, nestas vésperas de eleição, certamente surgirão outros até outubro.
Não deu outra. Hoje, o jornal francês Le Figaro, em reportagem de capa, afirma que Lula foi o presidente responsável por "modernizar o Brasil". Não consegui acessar o texto, o site é reservado para assinantes do jornal. Só tive acesso ao lead. Recorro então a um resumo feito pelo Estadão. O texto é assinado pela correspondente do jornal no Rio de Janeiro, Lamia Oualalou.
A reportagem conta a história de Ricardo Mendonça, paraibano de Itatuba que se mudou para o Rio de Janeiro à busca de emprego em 2003 e conseguiu entrar na universidade graças a uma bolsa do programa Pro-Uni, do governo federal. O jornal atribui o sucesso de Mendonça às políticas do governo Lula."Histórias como esta de Ricardo o Brasil registra aos milhões. A três meses do fim do seu segundo mandato, este é um país mudado que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixará ao seu sucessor", escreve o Le Figaro.

Barbudo onipresente

O jornal diz que quando Lula chegou ao poder, em 2003, o Brasil era um país sem "grandes esperanças" que havia finalmente dado uma chance a um "turbulento barbudo onipresente na cena eleitoral deste o restabelecimento da democracia". O Le Figaro destaca que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso conseguiu combater a hiperinflação com o Plano Real, mas que se tornou "muito impopular" antes de deixar o poder em 2002. Citando analistas políticos brasileiros, o jornal diz que Lula foi responsável por ampliar políticas sociais do governo anterior. "O chefe de Estado reagrupou algumas medidas sociais do seu antecessor e às deu uma dimensão inimaginável", diz a reportagem do jornal. "Pela primeira vez na história, o Brasil assiste a uma redução continua e inédita das desigualdades. Em dois mandatos, 24 milhões de brasileiros saíram da miséria e 31 milhões entraram para a classe média." E por aí vai. Menção nenhuma à quadrilha do mensalão, chefiada por seu então ministro da Casa Civil, José Dirceu. Nada sobre a quebra de sigilo bancário de um humilde caseiro, o Francenildo, por um outro de seus ministros, Antonio Palloci. Nada sobre dólares na cueca. Nada sobre a aliança com corruptos notórios como José Sarney e Fernando Collor de Mello.Muito menos aos constantes ataques à imprensa feitos por Lula, que quer os jornais subjugados à vontade do governo. Nenhuma palavrinha ao tráfico de influência e nepotismo imperantes na Casa Civil, cuja ministra instituiu uma bolsa-família para seu marido, sobrinho, filhos e amigos dos filhos. Nada sobre a candidata à Presidência, Dilma Roussef, que indicou a ministra corrupta para o cargo e hoje releva todos seus crimes.
Falta de informação da correspondente no Rio de Janeiro? Duvido. É de supor-se que um correspondente leia os jornais do país que cobre. Ora, a imprensa não passa dia sem noticiar um caso de corrupção no governo Lula. A única hipótese que resta é que o Planalto comprou mais um jornal em Paris. Se comprou mais um jornal francês, terá comprado outros mundo afora. Na França, falta ainda comprar o Libé e o Nouvel Obs. Basta esperar para ver..

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

ESSE CIRCO CHAMADO JUSTIÇA

OS DEUSES DE TOGA (IV)

João Eichbaum

O Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal obriga seus ministros a usarem toga, nas sessões de julgamento.
A toga é uma espécie de camisolão unissex, preto, de cetim, que vai até os pés, com uma largura suficiente para caber em cima do terno, do terninho ou do vestido.
Suas Excelências usam dois tipos de toga: a simples e a de gala. A simples é amarrada por trás, como um avental. A de gala tem que ser enfiada pela cabeça, mostra uns babados na frente, e ainda é adornada por uma faixa de seda, que vai por cima da pança dos ministros e ministras.
E vocês acham que eles vestem as togas sem auxílio de ninguém?
Nada disso, meus caros. Deuses são deuses e eles nunca dispensam os “servos”. Os deuses existem exatamente para que haja “servos” a servi-los. Senão, não tinha graça ser deus, ou Deus. Deus nenhum vive sem platéia, sem bajulação, sem capachos e sem orgasmos múltiplos (o deus judaico-cristão, por exemplo, teve seis orgasmos durante a criação, “viu que era bom” diz o Gênesis)
Pois lá no Supremo Tribunal Federal alguns “servos” têm a função específica de cuidar das togas e preparar a cerimônia de vestidura dos ministros. São os chamados “capinhas”. Eles também têm que usar uma capa preta, que lhes vai até o peito: não é comprida como a dos ministros, para evitar confusões.
Antes da sessão, os “capinhas” tiram as togas dos armários e, no salão branco, contíguo ao salão do plenário, as estendem sobre uma vistosa mesa de jacarandá. Quando chegam os ministros, os “capinhas” os vestem, dobrando-se à alegria de estarem empregados no serviço público, mesmo que sua tarefa seja abominavelmente servil, como se fossem feitos de matéria de qualidade inferior à dos ministros, como se não os igualassem as baixezas e as necessidades fisiológicas animais.
Não se sabe se é a resignação e a humildade dos “capinhas” que, não os deixando sair do rés do chão, inflam a vaidade dos ministros, ou se é a vaidade dos ministros que os mantém naquele nível situado pouco abaixo do rego apertadinho dos gauipecas. Porque já é aí, nesse cerimonial antes da sessão, que começam os orgasmos de suas excelências, os quais se multiplicam no plenário, quando lhes advém a certeza de que são deuses, graças às suas preclaras cabeças: dão a palavra final sobre o destino das criaturas.
De qualquer maneira, a subserviência é que marca o caráter dos “capinhas”: eles têm que fazer o que os ministros querem, ou seja, preservar-lhes os caprichos, servindo mais como capachos do que como “capinhas”.
O Gilmar Mendes, por exemplo, segundo noticia a revista Piauí, “não tem paciência para esperar a amarração”, por isso sai andando, e o “capinha”, como um cachorrinho fiel, vai atrás do andar arrogante de Sua Excelência, para lhe amarrar a toga.
A ministra Ellen Gracie, tida por muitos como inteligente e culta, proibiu seu “capinha” de estender a toga sobre a dita mesa de jacarandá porque, segundo sua invejável cultura jurídica, a mesa produz maus fluidos: é sobre ela que se estendem os cadáveres dos finados ministros, para serem velados, antes de serem enterrados com suas vaidades e eternamente esquecidos.
Esse é o serviço dos “capinhas”, funcionários públicos de carreira, pagos com o nosso dinheiro, até para a checagem final imposta pela vaidade das ministras Ellen Gracie e Carmen Lúcia: se a toga não está escondendo o glamouroso bico dos sapatos.
Bem, já que a crônica foi sobre a toga, vocês hão de perguntar: para que serve a toga?
Ora, ora, o camisolão aquele, que custa a bagatela de 370 reais, debitados na conta do contribuinte, serve apenas para impressionar, levando os demais primatas a pensar que os ministros do Supremo são diferentes.