sexta-feira, 10 de agosto de 2018


MANUELA, A CANDIDATA
João Eichbaum
A filha da desembargadora tem charme de madame, mas diz que é comunista. Comunista, socialista, trotskista, essas modas pegam na adolescência, na farra da política estudantil. É chique ser de esquerda nessa fase em que, entre prazeres e ócios cotidianos, os filhinhos de papai e mamãe têm casa, cama, comida, e suas cuecas e calcinhas lavadas por mulheres da periferia maltratadas pela vida.
Depois, passada a crise da revolta contra o mundo, que cria intempéries na família com aquele clima do não to nem aí, que contraria os pais, geralmente passa a doença do esquerdismo. Saído da adolescência, e com a perspectiva de não ter o conforto e a segurança da casa paterna, o sujeito é convocado a travar a luta pela vida. Aí, não sobra tempo para quimeras.
Mas, há as exceções, claro. Há quem, ainda à sombra da família bem ou mal constituída, tenha grana para fazer política sem pegar no batente. Gente que leva jeito para enrolar incautos e deslumbrados, com arengas que prometem a felicidade eterna, pode se dar esse luxo, porque vê no Estado o provedor das mordomias que a família lhe proporcionava na adolescência.
Pobre não tem tempo de pensar em política. Pobre tem que trabalhar, e quem trabalha não tem tempo para desperdiçar com veleidades. Mas há pobres muito sensíveis à vida fácil. Esses pegam a trilha da liderança sindical, o único meio que os transporta da condição de explorados para a de exploradores. Aí o cara, sem deixar de ser socialista ou comunista convicto, aproveita os benefícios do capitalismo.
Filha de desembargadora, com diploma de jornalismo obtido em faculdade particular, Manuela d´Ávila foi eleita vereadora aos 24 anos. De seu currículo não consta qualquer tipo de batente, desses de que necessita o pobre, para ter o que comer, o que vestir e onde morar, tendo que levantar às cinco da matina pra ser espremido no busão.
A carreira dela foi um foguete político: deputada estadual, federal. Agora, ela mira o topo. Só não foi indicada oficialmente para compor, como vice, a chapa do PT à presidência da República, porque, do calabouço, o Lula desaprovou o libreto da ópera bufa: um torneiro mecânico, que deixou o nordeste estropiado pela vida, acaba alcançando a glória de traçar os destinos da pátria com a bela filha da desembargadora, criada no berço esplêndido do auxílio-moradia e demais benemerências que os deuses garantem aos príncipes de toga. E aí remendou: mas pro patrício Haddad ela serve...


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