MANUELA,
A CANDIDATA
João
Eichbaum
A
filha da desembargadora tem charme de madame, mas diz que é comunista. Comunista,
socialista, trotskista, essas modas pegam na adolescência, na farra da política
estudantil. É chique ser de esquerda nessa fase em que, entre prazeres e ócios
cotidianos, os filhinhos de papai e mamãe têm casa, cama, comida, e suas cuecas
e calcinhas lavadas por mulheres da periferia maltratadas pela vida.
Depois,
passada a crise da revolta contra o mundo, que cria intempéries na família com
aquele clima do não to nem aí, que contraria os pais, geralmente passa a doença
do esquerdismo. Saído da adolescência, e com a perspectiva de não ter o
conforto e a segurança da casa paterna, o sujeito é convocado a travar a luta
pela vida. Aí, não sobra tempo para quimeras.
Mas,
há as exceções, claro. Há quem, ainda à sombra da família bem ou mal
constituída, tenha grana para fazer política sem pegar no batente. Gente que
leva jeito para enrolar incautos e deslumbrados, com arengas que prometem a
felicidade eterna, pode se dar esse luxo, porque vê no Estado o provedor das
mordomias que a família lhe proporcionava na adolescência.
Pobre
não tem tempo de pensar em política. Pobre tem que trabalhar, e quem trabalha
não tem tempo para desperdiçar com veleidades. Mas há pobres muito sensíveis à
vida fácil. Esses pegam a trilha da liderança sindical, o único meio que os
transporta da condição de explorados para a de exploradores. Aí o cara, sem
deixar de ser socialista ou comunista convicto, aproveita os benefícios do
capitalismo.
Filha
de desembargadora, com diploma de jornalismo obtido em faculdade particular, Manuela
d´Ávila foi eleita vereadora aos 24 anos. De seu currículo não consta qualquer
tipo de batente, desses de que necessita o pobre, para ter o que comer, o que
vestir e onde morar, tendo que levantar às cinco da matina pra ser espremido no
busão.
A
carreira dela foi um foguete político: deputada estadual, federal. Agora, ela
mira o topo. Só não foi indicada oficialmente para compor, como vice, a chapa
do PT à presidência da República, porque, do calabouço, o Lula desaprovou o
libreto da ópera bufa: um torneiro mecânico, que deixou o nordeste estropiado
pela vida, acaba alcançando a glória de traçar os destinos da pátria com a bela
filha da desembargadora, criada no berço esplêndido do auxílio-moradia e demais
benemerências que os deuses garantem aos príncipes de toga. E aí remendou: mas
pro patrício Haddad ela serve...
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