O
LADO CRUEL DA FÉ
João
Eichbaum
Marozia
Theofilato foi amante do papa Sérgio III, quando tinha 15 anos de idade
e teve com ele um filho, que também foi papa, João XI. Teodora, mãe de Marozia,
foi amante do papa João X. O papa João XII teve em sua cama, além da amante de
seu pai, uma sobrinha e várias outras mulheres. Corre à boca pequena que a
morte o surpreendeu, quando ele copulava com uma mulher casada: chamado à
eternidade, foi para o gozo no céu...
Esses
são apenas alguns exemplos de quão arrasador é o feitiço do sexo. E são apenas
parte de uma história maculada por negociatas, ambições políticas, vendas de
indulgências e outras imoralidades que serviram de argumento para que Martinho
Lutero fundasse o seu credo religioso.
Mas,
antes que Lutero a desmantelasse totalmente, a Igreja Católica lançou mão do
contraveneno: o terror da Inquisição, a fé imposta pelo medo do inferno, a
transformação da sexualidade em pedra angular do pecado, que fecha as portas da
vida eterna.
O
medo imposto aos fiéis transformou a face da instituição instalada no Vaticano.
Por longo tempo ela se manteve como marca segura de salvação, soberania
sagrada, respeitada por monarcas, estadistas, ditadores, e destinada a servir
no júri do Juízo Final.
Desde
então os papas não tiveram amantes. Cardeais, bispos e padres, passaram a ser
tidos como criaturas escolhidas a dedo pelo Espírito Santo, com poderes para
abrir as portas do céu. A pompa dos cerimoniais religiosos, a liturgia e os
ritos adensavam as forças do ministério sacerdotal: tudo alimentado pela fé
punitiva.
Mas,
com a modernização introduzida pelos concílios Vaticano I e II, a instituição
se secularizou, a ameaça do inferno foi perdendo a força e, por trás dos bastidores,
a concupiscência foi provando que não existem mandamentos divinos superiores às
funções biológicas.
Hoje,
os escândalos clericais por conta da luxúria, revelando a força das leis da
natureza, que exigem a continuação da espécie através do sexo, estão
desmascarando a mentira da castidade sacerdotal. E a conivência da hierarquia
eclesiástica, escondendo, no abismo do silêncio, hediondos crimes sexuais
contra crianças, faz a Igreja voltar ao túnel negro de sua história, desdenhando
das palavras que ela própria atribui a Jesus Cristo (Mateus, 18:6): “ai de quem
escandalizar algum desses pequeninos; melhor fora que se lhe amarrasse ao
pescoço uma pedra de mó, lançando-o no mar”.
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