A VOZ DO POVO
João Eichbaum
Umberto Ecco pisou na
jaca podre, antes de morrer: chamou de idiotas os usuários das redes sociais. Triste
testamento, para quem teve seu tempo de glória no olimpo literário. Sua obra “O
Nome da Rosa” levou o mundo a pensar nele, como num homem sábio.
Embora não com o mesmo
adjetivo, que demonstra desprezo e soberba e está mais na boca de néscios do
que de sábios, a grande imprensa, de um modo geral, trata o Face Book como uma
tela de ignorância, pintada com dedos sujos de maldade. Para não dizer como parede
de latrina, sem papel...
Ecco, o famoso e já
falecido escritor italiano, não conseguiu domar sua misantropia e revelou
desconhecimento da espécie humana. Ao chamar de idiotas os usuários das redes
sociais, negou seus personagens, as criaturas geradas por ele em O Nome da
Rosa, enroscadas nas fraquezas do próprio ego.
A grande imprensa, como Umberto
Ecco, se acha melhor do que os outros. Porque é dona de veículos de publicidade,
porque tem o poder de difundir ideias e tragédias, não se dá conta de que
depende de homens para se afirmar ou, menos do que isso, para existir,
simplesmente.
Muitos desses homens não
são quem ela faz pensar que são. No momento em que o país vive uma tensão
política chamuscada por centelhas de ódio, as fraquezas se desnudam e o
fanatismo nivela todo mundo por baixo. Crônicas, artigos e as mais variadas
formas de comunicação, vêm encharcadas de paixões e despidas de qualidade. A
beleza literária, que antigamente distinguia o jornalista, que fazia do
jornalista um perito na arte de escrever, hoje é posposta pelos sentimentos,
pelas tendências pessoais, pela soberba e pela indecência de textos mal
construídos.
Nesse nível, o jornalismo
profissional se iguala aos usuários das redes sociais. O Face Book é o jornal
do povo, um veículo de comunicação com abrangência bem maior que os da grande imprensa.
Os seres humanos, que dele se servem para mostrar seu chorinho de cachorro
molhado, seu terror de existir, ou seu poema que faz chorar as estrelas,
revelam o que são, não precisam de revisores e não têm que se dobrar à vontade
dos patrões.
Do misticismo ao
realismo, da execração ao fascínio, cada pessoa tem o seu universo, cada um vê
a sua parte na história e a retrata dentro dos próprios limites. Assim, exerce
sua liberdade de expressão, um direito que só é negado por aqueles que,
desconhecendo a humanidade, não merecem ser tratados como guias e, muito menos,
como sábios.
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