O PAI PRESENTE
Mariléia
Sell
Um pai
visivelmente furioso entra na minha sala. Queria um registro que fizera há uns
sete anos, oito talvez, não lembrava direito, relatando que havia ameaçado a
professora do filho.
– Foi
uma ameaça velada, mas para bom entendedor…
– Por
que o senhor ameaçou a professora?
– Porque
ela deixou o meu filho sozinho na biblioteca, de castigo, e lá tinha um
esqueleto. Ele ficou com tanto medo que pegou trauma.
– E por
que o senhor quer esse registro depois de tantos anos?
– Quero
provar para o juiz que sou um pai presente.
– Por
que o senhor precisa provar que é um pai presente?
– Porque
a minha mulher diz que não sou.
– Por
que ela diz isso?
– É
porque ela quer o divórcio e no divórcio elas inventam um monte de coisas.
– E o
senhor acha que é um pai presente?
– Claro
que sou. Se não fosse, não teria corrido o risco de ser preso, ameaçando uma
funcionária pública. Li num cartaz que dá cadeia.
– Hum
–
E eu educo o meu filho. Quando ele erra, desmonto ele a pau.
– O
senhor é agressivo?
– Tenho
potencial, mas não sou. Tenho treinamento da Polícia de Operações Especiais.
Sou vigilante e sei o que fazer com uma arma. Aprendi que se é pra morrer,
melhor morrer atirando. Mas não sou violento.
– Hum.
–
Sempre digo pra ele que até os 18 anos ele tem que se preocupar comigo. Depois,
é com a polícia. E ele está mais do que avisado: não visito filho no xilindró.
– Mas
por que o senhor acha que esse registro vai ajudá-lo com o juiz?
–
Primeiro vou tentar a reconciliação porque não entendo o motivo de ela querer o
divórcio.
– Hum.
– E se
ela não aceitar voltar pra mim, vou tentar a guarda. Não acho justo pagar
pensão.
Mariléia
Sell é Professora Doutora dos Cursos de Letras e Comunicação da Unisinos
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