FESTA NA CORTE
João Eichbaum
No princípio foi o verbo.
Mas não no discurso do Dias Toffoli, na posse como presidente do STF. Ali o
verbo ficou perdido no meio de um amontoado de substantivos. Olhem só: “O fenômeno
fundamental do poder não é a instrumentalização da vontade de outros, mas a
formação de uma vontade comum numa comunicação direcionada para atingir um
acordo”...
Mais enrolado que isso, só papel higiênico ainda
não usado. Está aí o resultado da convivência do Dias Toffoli com a Dilma,
quando ele era advogado do PT, na Casa Civil e na Advocacia Geral da União.
O que mais se ouviu foi a
salmodia demagógica: “inclusão social” e “bem-estar”, “desenvolvimento social,
cultural e econômico”, garantia “dos direitos fundamentais e da dignidade da
pessoa humana”, proteção “dos vulneráveis e das minorias”. De substantivos, que
ocupam o vazio cerebral dos políticos, está cheio o discurso. Mas, nele não
houve lugar para o único verbo que designa a função judicial: julgar.
Depois veio a balada,
movida a Renato Russo e Cazuza, com música dos anos 80, na Hípica Hall.
Convidados tiveram acesso à festa, promovida pela Associação dos Magistrados
Brasileiros, pagando 250 reais - merrecas, para quem ganha auxílio-moradia, à
sombra dessa realidade encardida e medíocre em que está metido o país.
Bem. Na balada acontece o
que Deus quiser. Depois que a língua foi anestesiada por vinho e scotch
legítimos, as cordas vocais, arranhadas por incontidos perdigotos, não
conseguem sair do si bemol menor, para acompanhar a música que a banda toca em
ré maior.
Dias Toffoli estabeleceu sua celebridade, de
cabelo bem apurado no colorido, no meio do salão. Rodeado de mulheres
figurantes, sua voz pastosa corria em busca da melodia de “Tempo Perdido”.
Aquela coisa doida, que o álcool provoca, reduzindo o espetáculo da vida a um
amontoado de gente pulando, gritando, gargalhando, sem bossa, sem ritmo e com
esgares que lembram nossos ancestrais do tempo em que ainda tinham rabo, foi
mostrada em vídeo que corre pela internet.
Não havia adiposos
senhores, exibindo notório saber jurídico e cabelo acaju, a pular no salão. Nem
o ministro aquele, com cara de sapo atropelado. Só a patota amiga. Mas era a
festa da corte brasileira, aquela que não tem cetro nem coroa, mas tem toga e
pajens até para ajeitar os traseiros de suas excelências nas cadeiras. Nada
disso precisa de verbo, mostrando a que vem o substantivo.
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