JESUS NA GOIABEIRA E AS ENTIDADES DE JOÃO DE
DEUS
João Eichbaum
Girando
em torno do eixo central de sua natureza, que é o egoísmo, a maioria dos seres
humanos se serve dos mais variados expedientes para negar a própria finitude. Eles
não querem se sentir diminuídos pela inclemência da morte. Procuram resistir à
verdade de que servirão de repasto para vermes ou virar cinza. Preferem a
mentira de um paraíso de opulência e felicidade, que as religiões oferecem a
troco de dízimos.
A partir
disso, criam os próprios mitos, de que se aproveitam as seitas e os charlatães
para o exercício lucrativo do curandeirismo religioso. O cristianismo pratica a
“cura” da alma. Outras seitas atraem crentes, oferecendo-lhes a “cura” do
corpo.
Dias
atrás uma mulher, adepta dessas seitas que praticam “curas milagrosas”,
difundiu para o mundo a preferência que Jesus Cristo tem por ela. Deus da
mitologia cristã, Cristo teria morrido há mais de dois mil anos, mas deixou o
Olimpo para se apresentar, num pé de goiabeira, a essa mulher, cotada para um
ministério do governo Bolsonaro.
Ao
grotesco dessa história seguiu-se a pantomima de João de Deus. Há várias
décadas vinha ele realizando um próspero negócio de taumaturgia, atraindo para
Abadiânia, em Goiás, anualmente, milhares de pessoas. Gente de todos os
estratos sociais se submetia aos turvos propósitos do curandeiro. Gente de fama
e com dinheiro, ao lado de pobres diabos abandonavam-se à crença de falsos
milagres. Agora, a partir das revelações de uma filha dele, centenas de
mulheres o denunciaram como tarado sexual.
Preso e
interrogado, ele se disse inocente, botando na conta de “Deus” e dos
“espíritos” as pérfidas emboscadas: são eles que realizam os atendimentos. “São
as entidades que produzem milagres. Ele é apenas o instrumento”, reforça uma
das vítimas de abuso de sexual, que ainda frequenta a casa de João de Deus. E,
por conta dessas “entidades” que não têm critério para escolher instrumentos, o
povo continua em busca de milagres.
Contra a falta de lógica, de raciocínio, não
existe argumento. A crendice, gerada pela ilusão de que o homem se perpetua em
outra vida, é fruto do egoísmo, razão única para que a criatura humana se
exponha ao ridículo, no circo do curandeirismo religioso.
E agora
temos também explicações para os desmandos governamentais que fogem à lógica
dos juízos de valor: no picadeiro do João de Deus, presidentes da república,
embaixadores, legisladores e ministros do STF também se prestaram como
figurantes da pantomima estrelada pelo maníaco sexual.
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