segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

COLUNA DO PAULO WAINBERG

PREVISÕES RETROSPECTIVAS
Paulo Wainberg


Época de previsões para o ano que vem e escolha dos melhores do ano passado.
Para que? Nem as previsões se confirmam nem a escolha dos melhores vai além de opiniões subjetivas a enfei(t)ar as paredes dos escolhidos.
Portanto, vamos lá.
Prevejo que as esperanças do dia 31 de dezembro desaparecerão no dia primeiro de janeiro, depois do porre. Prevejo que a alegria do carnaval desaparecerá depois do desfile. Prevejo muito dinheiro no bolso de quem tem muito dinheiro. Prevejo escândalos, corrupção e roubo. Prevejo assaltos, assassinatos, mortes no trânsito, violência, terremotos, furacões, ciclones tropicais, tufões, restaurantes lotados, leis inócuas e mil outras alegrias da mída, além de guerras institucionais e outras de ocasião. Prevejo o Papa orando pela paz, cada religião adjudicando-se o poder da salvação. Prevejo as esquerdas querendo o dinheiro alheio e as direitas gastando o dinheiro de todos. Prevejo o divórcio de dezenas de artistas e o casamento de outras tantas. Prevejo o São Paulo campeão do Brasil, o Grêmio com time ruim e o Internacional frustrando espectativas. Prevejo campanhas de solidariedade e festas beneficentes sem a presente dos beneficiários. Prevejo búzios jogados, tarôs tirados, espíritos em comunicação, almas penadas, bordéis refinados, direitos humanos defendidos, direitos humanos ofendidos, baleias salvas, juros altos e bolsas de valores instáveis. Prevejo pedidos de desculpas, amores desfeitos, defeitos repetidos, luas cheias e quartos minguantes, fugas do presídio, combate ao tráfico e caos no tráfego. Prevejo fome na África, abundância em Dubai, quatro novos vírus letais, doze mil explicações e uma ou duas soluções. Prevejo formaturas, casamentos e batizados. Prevejo listas de aprovados, relação de inadimplentes, briga de camelôs, ações terroristas, roupas no varal e dez bilhões de metros quadrados novos. Prevejo ovinhos de páscoa, feriadões enrustidos, invasões de terras, conflitos ideológicos e carros estragados. Prevejo que o mundo melhor será adiado por mais um ano, vários milionários arruinados, novos milionários lotéricos, fome no Nordeste, torcidas enlouquecidas e críticas à Seleção. Prevejo pais nervosos e filhos-calendário com hora marcada no colégio, no balé, no inglês, na escolinha de artes, de futebol, de tênis ou abandonadas nas ruas.
Prevejo para o ano novo a repetição do ano velho. Prevejo tradicionalistas preocupados com a modernidade, modernistas ambicionando o futuro, futurólogos adivinhando o passado, historiadores criando versões, nenhuma fé removendo montanhas a não ser que “fé” signifique “bomba”.
Prevejo tudo de velho para o ano novo. E assim prevendo passo às minhas escolhas pessoais que tomaram mais de dez minutos do meu tempo.
Os melhores do ano velho foram:
Escândalo: Detran e Daniel Dantas: empate técnico.
Fofoca: Pirarucu do Tucunaré e disseram que fui eu.
Novidade: Desfile das Escolas na Sapucaí.
Criatividade: Novelas de TV.
Homem: Renan Calheiros
Mulher: A cafetina brasileira nos EUA.
Arma: George W. Bush.
Imbecil: Idem.
Ativista Político : Osama Bin Laden
Partido político: Hamas.
Turista: Lula
Governador : Ninguém votou.
Deputado Federal: idem
Senador: quando for extinto o Senado, qualquer um.
Prefeito: Idem
Discernimento: STF
Facilitador: Reforma ortográfica da Língua Portuguesa.
Fato Econômico: O Greenpeace gritando: salvem as montadoras.
Lei: Tolerância Zero com álcool.
Escola: Imperadores dos Bambas
Colégio: Eleitoral brasileiro.
Roteiro Turístico: Todos do Presidente, Ministros e autoridades.
Superstição: religiões.
Fator de atraso: as tradições.
Discriminador racial: morto.

Costumo dizer que quando o leitor não compreende a ironia é porque o escritor não foi suficientemente irônico. Espero ter sido, para não ofender ninguém com as minhas. Há quem confunda sarcasmo com ironia. Não faça isso, por favor. O sarcasmo é um estilo provocador, quase sempre picante e que muitas vezes pode expressar um conteúdo ofensivo.
A ironia é uma espécie de prima-irmã do sarcasmo, uma forma mais branda de se dizer exatamente o oposto daquilo que se queria dizer. A ironia não tem a ferocidade ácida do sarcasmo.
Exemplo de ironia: Depois de um dia todo errado você vai tomar banho e falta água. Você exclama, ironicamente, “Perfeito”. Entendeu? A falta de água resulta ser o complemento “perfeito” para o tudo de ruim que aconteceu naquele dia.
Exemplo de sarcasmo: Alguém lhe pergunta: Quer levar um soco na cara? E você: - É claro, e um na boca do estômago também, se for possível. Ou quando lhe chamam de barbeiro no trânsito e você responde: é, mas sua mãe não reclama. E assim por diante.
Olhando bem talvez eu tenha sido meio sarcástico lá em cima, mas palavra de honra que eu queria ser apenas irônico.
Prefiro a ironia ao sarcasmo. O comentário irônico quase sempre faz rir. O sarcasmo dá vontade de brigar.
Portanto se eu perguntar se você gostou desta crônica responda ironicamente: muiiiiito. Não seja sarcástico, não acrescente: por que não escreve outra?
Voltando ao tema, prevejo confusão pela frente.
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