quarta-feira, 18 de março de 2009

COLUNA DO PAULO WAINBERG

REVERBERAÇÕES
Paulo Wainberg


Certas coisas eu conheço mas não sei. Outras eu sei mas não conheço. Outras ainda nem conheço nem sei. E finalmente há as coisas que conheço e sei.
Ok?
A velocidade da luz é de trezentos mil quilômetros por segundo, mas o que é a luz? Se eu acender uma lâmpada essa luz sai numa corrida desesperada rumo à galera, para ser vista um segundo depois logo ali, passando marte?
Sei que a estrela mais próxima de nós, a Alfa Centauri, está a trinta anos luz de distância, em número redondos. Isto significa – e afirmo sem estresse – que um fósforo acesso lá vai gerar uma luz que viajará pelo espaço na tal velocidade infernal e será vista por mim, na varanda lá de casa, trinta anos depois.
Não vou perder meu tempo nem o seu explicando como é que essas contas foram feitas, qualquer criança de jardim de infância entra no Google e fica sabendo.
O meu ponto é: qual o conceito de “trinta anos”? Um ano é o tempo que a Terra leva para dar uma volta completa no Sol e, durante o percurso, dá trezentos e sessenta e cinco voltas em torno de si mesma por isso concluímos, sem qualquer dificuldade, que um ano é composto de trezentos e sessenta e cinco dias. Para que eu veja a luz do fósforo aceso ali em Alfa-Centauri a Terra precisa girar trinta vezes ao redor do Sol o que eu, particularmente, considero uma demasia, uma falta de respeito e uma enorme perda de tempo.
Me impressiona o fato de estar vendo hoje de noite a luz de um fósforo aceso lá há trinta anos e não saber se o fósforo acendeu um cigarro ou a boca de um fogão à gás.
Seguindo esta linha de raciocínio decorre, com lógica insofismável que a especulada viagem no tempo está bem na nossa frente noturnamente, basta não haver nuvens cobrindo as estrelas.
Não é claro, óbvio e evidente? Cada luzinha no céu à nossa vista é uma volta no tempo, um retorno ao passado, no mínimo trinta anos e no máximo sei lá, depende da quilometragem.
E Concluo que a viagem no tempo abrange também o futuro pois a luz da lâmpada que acendi há pouco só vai chegar em Alfa-Centauri daqui a trinta anos e o reflexo dela numa panela de alumínio lá só será visto por mim daqui a outros trinta anos.
Mas – e sempre tem um mas – se eu estiver no planeta Mercúrio que circula o sol em menos tempo e circula sobre si mesmo também em menos tempo (supondo que isto seja verdade, por favor) a luz de Alfa será vista por mim muitos anos depois pois, é óbvio, quanto menor a translação e mais rápida a rotação, mais depressa o tempo passa, os dias tem menos horas, as horas tem menos minutos e os minutos tem menos segundos.
Minhas elucubrações tem sentido, penso comigo mesmo. Voltemos à Terra, sejamos realistas, deixemos de lado as abstrações: um dia terrestre tem no máximo duas horas: do momento em que o Sol nasce até o momento em que ele se põe, uma hora. Do momento em que ele se põe ao momento em que nasce, uma hora. Total: duas horas. Neste caso um ano seria composto de trinta e seis dias mais ou menos, aproximando significativamente a luz de Alfa dos meus olhos: cerca de três anos.
Cheguei a esses números aproximados considerando que reduzindo o número de horas para pouco mais de dez por cento, todo o resto se reduz igualmente a dez por cento ao passo que a velocidade da luz aumenta em noventa por cento que é a diferença entre uma hipótese ou outra.
Não tenho dúvidas e pretende ser bem entendido naquilo que digo. E estou sendo mais do que claro, estou sendo claríssimo. Lógica pura. Raciocínio dedutivo levado às últimas conseqüências, sem medo de ser feliz.
E se você ainda não entendeu, explico mais: é que a luz se move de forma unidirecional e não de forma multidirecional, portando cada raio em ação vai dar num único lugar e seu reflexo retorna ao lugar de partida, fazendo com que não se saiba exatamente quando a luz está indo ou quando está voltando.
Em suma, não há segredo na Natureza que uma boa conversa não resolva. Se tiver um chope e uma taboa de frios, melhor ainda.
Não me compreenda mal, não tenho a pretensão de ter respostas para tudo, muitas coisas ainda me causam dúvida, espanto e apreensão. Uma delas, que tem torturado minhas noites, afetado meu trabalho e impedido que eu volte a fazer ginástica consiste no seguinte: algum de vocês já conseguiu acertar o ponteiro dos segundos, no seu relógio de pulso?
Quatorze horas, vinte e sete minutos e dezesseis segundos. Só para escrever esta frase passaram mais de dezesseis segundos, passei da hora, quando clico os segundos voaram.
Experimente, você que tem um relógio de pulso. Segure-o com uma mão e com a outra, usando polegar e indicador, puxe o pino que libera os ponteiros. Acerte a hora, isso é fácil. Acerte os minutos, mais fácil ainda. Agora acerte os segundos. Fique atento, não se enerve, encare a tarefa com a frieza de um linguado no frízer. Já! E não deu... o segundo foi mais rápido do que o seu dedo.
Existem duas soluções para o caso, encarando o problema do ponto de vista pragmático: desista ou compre um relógio sem ponteiro dos segundos.
Eu mesmo posso fazer isso, mas não faço. Talvez por algum apego à auto tortura, talvez por ser de minha índole conservadora. Ademais, não é pelo dinheiro e sim pelo princípio da coisa. Foro íntimo gostam de dizer os sovinas.
Em suma: a questão filosófica remanesce.

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