sexta-feira, 6 de novembro de 2009

VARIAÇÕES EM TORNO DO TEMA FIADASPUTAS

IMPRENSA, JUSTIÇA e POLÍCIA

João Eichbaum

Naquele noticiarizinho de merda que a RBS apresenta, às sete da noite, que às vezes é às sete e cinco ou sete e dez, ouvi, por acaso, uma estrondosa chamada, mais ou menos nesses termos: “presa quadrilha de doleiros”.
Então, me interessei pelo assunto, de passagem, porque nunca assisto ao tal noticiário, que é levado ao ar entre as duas novelas que a minha mulher assiste.
É claro que apareceram imagens com gente humilhantemente algemada, levada pela Polícia Federal com a arrogância própria dessa instituição, que só gosta mesmo de aparecer, só faz aquilo que dá manchete.
Como é um noticiário de merda mesmo, não deu pra chegar à conclusão alguma. As notícias não são concretas, definidas, transmitidas com correção, mas apenas levam o tom de manchetes pra fazer o povo abrir a boca e dizer “bah”.
Só conferi no dia seguinte, nos jornais, para me inteirar sobre o bárbaro crime que levava os doleiros, membros de suas famílias e funcionários, num total de dezenove pessoas, a serem julgados e maltratados pela imprensa e pela polícia federal. A ZH atribui aos doleiros o crime de “criação de instituição financeira sem autorização para funcionamento por parte do Banco Central e evasão de divisas”.
Pois bem. Esse é o “bárbaro” crime cometido: contra a Fazenda Pública.
Enquanto alguns juízes soltam assaltantes, que representam um constante perigo para a sociedade, outros mandam prender doleiros, e apreender dinheiro, porque eles não tem autorização do Banco Central. Alguém entende isso? Olha, você aí, que acabou de sair do banco, com alguma razoável quantia de dinheiro, está sujeito a ter a sua verba apreendida. Em nome de que fundamento legal? Isso não importa. O que importa é o poder da Justiça de mandar prender e apreender. Você é que tem de provar que o dinheiro é seu e não é produto do crime.
Só quem pode jogar fora, ou usar em proveito próprio o dinheiro da Fazenda, sem autorização do Banco Central são os políticos. Para o resto do povo, o que resta é cadeia, cadeia na qual não há lugar para assaltantes, porque está ocupada por doleiros, membros de sua família e funcionários de pequena extração. Para gáudio dos juízes que mostram seu poder, para gáudio da Polícia Federal que aparece, e para gáudio da RBS que fatura com suas manchetes enganadoras.
Não se está fazendo apologia dos crimes contra a Fazenda, porque, em última análise, se trata do nosso dinheiro. O que se quer é que todas as leis sejam cumpridas, e não apenas aquelas que dão manchetes.

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