sexta-feira, 8 de julho de 2011

BIBLIOTECA SEM BÍBLIA NUNCA FOI BIBLIOTECA

Janer Cristaldo

Leitores querem saber o que acho da lei 5.998/11, publicada no Diário Oficial do Executivo desta segunda-feira (04/07) e de autoria do deputado Edson Albertassi (PMDB), que obriga todas as bibliotecas a terem uma bíblia. “O texto não tem a intenção de estabelecer qualquer obrigatoriedade ou constrangimento àqueles que vivem sua espiritualidade em comunidades não cristãs. O que se pretende é garantir o acesso à Bíblia àqueles que assim o desejarem”, salienta o autor. A nova regra determina multa de mil a duas mil Ufirs às bibliotecas que não a respeitarem.
Bom, diria que é redundante. Não posso conceber uma biblioteca pública sem, já não digo uma bíblia, mas várias. Aliás, não consigo conceber nem mesmo uma biblioteca privada sem bíblias. Se chego em uma casa e vejo uma biblioteca, vou logo perguntando: e quantas bíblias você tem? Se não tiver nenhuma, sua biblioteca é capenga. E atenção: quem vos fala é um ateu.
A bíblia é o livro que formata culturalmente o Ocidente. Nele há história e mito, poesia e sociologia, filosofia e – é claro – religião. Foi o primeiro livro que pus no computador, lá pelos anos 90. Havia uma edição digital, que comprei na livraria Ave Maria, aqui do bairro, em cinco disquetões daqueles de 5 ¼. Era a primeira bíblia eletrônica do país e o padre que a digitalizara não se fazia de rogado, cobrava caro pelo seu trabalho. Hoje você encontra bíblias em todos os formatos na rede, e todas grátis.Tenho mais de dez bíblias em minha biblioteca e uma no computador. É bom para comparar versões, pois cada igreja puxa brasa para seu assado. Sem ir mais longe, na Vulgata Cristo tem primos. Já na King James, sem compromisso algum com o dogma romano da virgindade de Maria, Cristo tem irmãos. Tenho inclusive uma versão marxista entre as minhas. É aquela edição pastoral, publicada pelas Edições Paulinas, com imprimatur de Dom Vital J. G. Wilderink. O editor puxa a tradução para conceitos contemporâneos, nitidamente marxistas, e intercala o texto com intertítulos que remetem à luta de classes. Vejamos alguns deles, em Josué, que mais parecem um manual de reforma agrária:- Condição para ter a terra
- Solidariedade na luta
- Os poderosos têm medo de um povo livre
- Etapa final da libertação
- Luta e oposição
- Reação dos poderosos
E por aí vai. Só faltou o “povo unido jamais será vencido”. A bíblia é um livro curioso, raras pessoas conseguem lê-la no original. Temos de confiar nas traduções. E cada tradução é um caso. Bart D. Ehrman, Ph. D. em teologia pela Princeton University, é um desses raros privilegiados que conseguem ler os textos originais do Livro. Bem entendido, textos originais não mais existem. O que existe são cópias de cópias de cópias. Erhman saiu atrás delas, onde quer que se encontrassem. Encontrou manuscritos reproduzidos por copistas influenciados pelas controvérsias políticas, teológicas e culturais de seu tempo. Tanto os erros quanto as mudanças intencionais são muitos nos manuscritos subsistentes, dificultando a reconstituição das palavras originais.
Nesta busca, Erhman acabou perdendo sua fé. Confesso que também perdi a minha ao ler a Bíblia. Por isso os padres, durante muito tempo, não recomendavam sua leitura para menores de trinta anos. Em meu caso, pelo menos, não precisei pesquisar nas bibliotecas do mundo todo. As traduções foram suficientes para libertar-me da religião. A saga de Erhman está em seu ensaio O que Jesus disse? O que Jesus não disse? (Editorial Prestígio, São Paulo), livro que recomendo a crentes e descrentes. E a tradutores. Dei-o de presente a uma amiga tradutora do grego e ela o repassou a seu professor, um padre ortodoxo. Parece que até o pope ficou confuso.Diria que as bibliotecas devem ter não só várias bíblias, como também vários dicionários bíblicos. A Biblia é um livro complexo, cujas partes foram escritas por distintos autores, de distintas línguas, distintas culturas e distintas épocas. Difícil percorrê-la sem um bom mapa. Tenho cinco dicionários bíblicos. O que mais uso é o Dictionnaire de la Bible, de André-Marie Gerard (Robert Laffont, Paris). Excelente. Existe um outro, com uma iconografia soberba, o Dictionnaire Illustré de la Bible (Bordas, Paris). Comprei-o para dar de presente a um amigo. Quando comecei a folheá-lo, mudei de idéia. Meu amigo só o ganharia se eu encontrasse outro exemplar. Por sorte, encontrei.Em português há um muito eficaz, o Dicionário Enciclopédico da Bíblia, editado pela Vozes, Bijbels Woordenboek, no original holandês. É de autoria de uma competente equipe de teólogos holandeses, coordenados por A. Van den Born. Recomendo vivamente. Tenho um outro dicionário, em espanhol, curiosamente de autoria de Isaac Asimov. Útil, mas precário.A lei, como dizia, é redundante.
Biblioteca sem bíblia não merece ser chamada de biblioteca.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

A BÍBLIA LIDA PELO DIABO

João Eichbaum

11 E Deus disse: quem te mostrou que estavas nu? Comeste da árvore de que te ordenei que não comesses? 12 E Adão respondeu: a mulher que me deste por companheira me deu o fruto e eu o comi. 13 E o Senhor Deus se dirigiu à mulher: por que fizeste isso? Ao que a mulher respondeu: a serpente me enganou e eu comi.

O Absoluto não sabia de nada, como um cara que foi presidente do Brasil, um tal de Lula. Tudo tinha se passado ali, debaixo de suas barbas e Ele não sabia de nada. Teve que fazer interrogatório.
E aí começou o jogo de empurra, cada um dando a sua versão: a gata aí me deu a fruta e eu comi. E ela, a primeira gata da história: quem me enganou foi a serpente.
Ninguém quis assumir. Como acontece até hoje.

14 Então o Senhor Deus se dirigiu à serpente: porque fizeste isso maldita serás, mais que toda a besta, mais que todos os animais do campo, sobre o teu ventre andarás e pó comerás por todos os dias de tua vida. 15 E porei inimizade entre ti e a mulher, entre a tua semente e a dela; a mulher te ferirá na cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar.

Quer dizer que, antes disso, a serpente andava de pé, cabeça erguida?
Mas, ainda que mal pergunte: sobre o quê se apoiava?
Havia de ser engraçado, né, com aquele rabo fininho, se apoiando nele pra andar pra cá e pra lá.
Bom, uma coisa é certa, além de ter que andar sobre o próprio ventre, a serpente também deixou de falar. Pelo menos eu nunca ouvi nenhuma falando.
Inimizade entre a serpente e a mulher. Por acaso existe amizade entre a serpente e o macho homem? A serpente só pega calcanhar de mulher? De homem, não?
Parece que o rabugento Javé, de tão furioso, já nem sabia o que dizia.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

DEUS E A MISÉRIA HUMANA

Grazie Fernandes

Deus criou o homem à sua imagem e semelhança - está escrito na bíblia.
Mas, não concordo com essa afirmação, apesar de já ter sido eu muito religiosa. E até já tive “experiências” com esse “Deus”.
Já fiz parte de uma religião e já acreditei em Deus, mas hoje já não creio em coisa alguma.
“Deus”, para mim, é simplesmente um ídolo que colocamos em nossas vidas, buscando a “proteção” contra o mal que o próprio homem, no jardim do Éden, começou a conhecer. E penso: será que Deus está no meio da “Justiça” humana, na qual também não acredito?
Pois, a partir desse questão comecei a concluir que, se não há a justiça dos homens, muito menos haverá a de um Deus, que foi inventado pelo próprio homem, para nele se refugiar de seus problemas pessoais, sociais e morais, entre outros.
Só não consigo esquecer um sonho que tive há algum tempo atrás. Estava sentada numa praça, sozinha, e, quando olhei para o céu, vi uns seres de branco, levando crianças e mulheres e depois os homens aqui da terra. Várias pessoas que estavam ao meu redor me perguntavam o que estaria acontecendo, pois ela também presenciavam o mesmo fenômeno. Aí eu respondi que estava ocorrendo o arrebatamento da Igreja, tendo eu ficado na terra para explicar o acontecido.
Acordei assustada, e até hoje penso: será que isso vai acontecer mesmo?
Outro dia, passei por uma experiência que me fez pensar que o homem é um nada, com ou sem o seu “Deus”. Eu estava na frente da empresa onde trabalho e vi uma mulher com dois filhos pequenos, nesse frio de julho, na frente de um quiosque. E fiquei pensando: onde está Deus, o que representa ele diante da ávida miserável dessa mulher e dessas crianças? Ela era magra e estava suja e dava para notar que passava fome, junto com os filhos. Fiquei revoltada e perguntei: por que Deus dá filhos para essas mulheres que não têm nenhuma estrutura, tanto pessoal como profissional, que não têm para elas e muito menos para os filhos?
Revolta-me tudo isso, porque conheço pessoas ricas, cheias de dinheiro, têm tudo na vida, enquanto esse pobres miseráveis nada têm, nem mesmo o que comer. E os mendigos, e os que dormem na rua? Por que Deus não os ajuda?
Enquanto isso, homens ricos gastam seu dinheiro em casa de massagens, quer dizer prostituição, fornicando, e nada lhes acontece da parte de Deus.
Tudo isso me faz chegar a uma conclusão: Deus inventou o homem, uma criatura imunda, sem perfeição nenhuma.

terça-feira, 5 de julho de 2011

O "SHOW DA VIDA"

OS VELHINHOS, DEUS E AS SOBRINHAS DA TIA CARMEN

João Eichbaum

A libido é a pimenta do “show” da vida. Sem ela não haveria procriação, quer dizer, não entraria no ar o “reality show”. Por tal razão ela é ínsita no ser humano, como em qualquer animal. Começa na infância e só abandona o ser vivente em caso de doença ou morte.
Na juventude, tudo bem, o sexo é fácil, e é por isso que as pessoas namoram, se juntam, se casam ou, como diz o povo, trepam, enquanto são jovens, movidas pela paixão, que outra coisa não é senão o ponto de erupção da sexualidade.
Quando chega a velhice, as coisas mudam. Os velhos perdem o viço, criam barriga, as carnes ficam flácidas, as rugas que se lhes desenham no rosto, lembram mapas de rios, decai a potência sexual. Quer dizer, eles broxam. Mas a sensualidade os não abandona. Como dizia minha tia: eles perdem a força, mas não perdem a cisma.
Hoje, para quem tem dinheiro, já não existe impotência sexual. Os transplantes de pênis, o Viagra e outros similares estão disponíveis nas farmácias.
Mas, os aposentados do INSS, que sobrevivem com um salário minimo, estão fora dessa faixa. O que ganham, mal dá para pagar as contas, os remédios, o aluguel, sem contar os empréstimos consignados, com que o governo federal os engana.
Então, temos duas espécies de velhos: os que podem e os que não podem fazer sexo.
E aí vem a segunda diferença: aqueles que podem, embora não tenham atrativo físico algum, compram sexo. O cara encosta seu carrão ali na Olavo Bilac, entrega-o para um manobrista e vai se divertir na casa de uma criatura de Deus conhecida como tia Carmen. Lá encontra as sobrinhas dela, plenas de juventude e sensualidade, de peitos salientes e traseiros viçosos, mostrando as coxas, todas fornidas, e convidando para um papinho. E diante de seus olhares teatralmente cobiçosos, os velhinhos endinheirados mordem as iscas, esquecem os amores extintos, e se deixam envenenar pela concupiscência. Uma maravilha para quem, no inverno da vida, ainda pode aproveitá-la.
Mas, e os outros, os aposentados do INSS? Feios, impotentes, o rosto riscado por sinais de fatiga e fracasso, tresandando a odores de incontinência urinária, e sem dinheiro, o que lhes resta?
O que sobra para alguns, volta e meia, o que eu sei, é a cadeia, por importunarem menininhas.
E Deus, por que figura no título desta crônica?
Ah, porque os velhinhos endinheirados, a tia Carmen e suas sobrinhas, quando indagados sobre a vida, respondem sem pestanejar: tudo bem, graças a Deus.
Enquanto isso, os velhinhos do INSS, diante da mesma pergunta, não têm outra resposta senão “ah, vai se levando...”
Aí, então, vem a minha pergunta: por que, nem do ponto de vista moral, consegue Deus justificar seus métodos, que impedem uma distribuição equânime da felicidade?
De qualquer maneira, tudo está no “script” do “show” da vida.

O "SHOW DA VIDA

segunda-feira, 4 de julho de 2011

C'EST BIEN TOUT CE QUI FINIT BIEN

Janer Cristaldo


Observação:

Para alertar leitores que, por acaso, não tenham tido a atenção voltada para o caso, fartamente explorado na imprensa: Dominique Strauss-Kahn, homem rico e poderoso presidente do FMI, potencial candidato à presidência da França se enredou com uma camareira de um hotel em Nova Yorque: foi denunciado por ela de a ter estuprado, depois de fazer um oral com a dita. A polícia encontrou esperma do poderoso ricaço na roupa da camareira, que se chama Nafissatou Diallo, e é africana. Dominique foi em cana, escandalizou o mundo. Agora veio uma versão diferente: não era nada disso, a camareira era prostituta e só queria arrancar um grana legal do cara.
Vejam o que diz Janer sobre o caso.
João Eichbaum


Pois até eu caí no conto da Nafissatou Diallo. Ainda há pouco escrevi: “Isto sem falar nas sumidades que um dia abraçaram o poderoso responsável pelo FMI, Dominique Strauss-Kahn. Que acabou se revelando um vulgar puxador de saias. A affaire revela o caráter destes senhores".

Mas fiquei com um pé atrás: “Como pode, um homem que com um estalar de dedos teria as mulheres que quisesse, atacar uma camareira de hotel? De potestade do planeta a prisioneiro em uma cela de 12 metros quadrados em Rikers Island. De candidato preferencial à Presidência da França a personagem do Law & Order. Foi preso pela Special Victimes Unit, como no seriado. Profundo mistério!”

O mistério foi desvendado. Segundo o que os investigadores descobriram, tudo não passou de armação. Mas Strauss- Kahn baixou a guarda. Consta que seu esperma estava na roupa da moça. Se não houve estupro, relação consentida parece ter havido. A menos que o esperma também seja armação.

Quando estive em Nova York, funcionários do hotel me advertiram que não é conveniente entrar em um elevador quando nele há só uma mulher. Você arrisca ir em cana ao pisar no térreo. Executivos preferem esperar outro elevador. Imagine ficar só no quarto com uma camareira. Ainda mais quando se é milionário, diretor do FMI e candidato potencial ao governo da França. Nas reportagens sobre a affaire, li que os hóspedes costumam sair do quarto quando a camareira entra. Seguro morreu de velho. Ficar no quarto é tentar o demônio.

Ainda mais se houve sexo. Os homens que detém o poder deveriam ser mais cautos. Ou se leva uma vida escancaradamente libertina, como Berlusconi. Ou melhor ser continente. Fosse eu presidente da República, penso que levaria vida mais ou menos casta. A tentação da chantagem é muito grande.

Que o diga Fernando Henrique Cardoso. Foi enrolado por uma jornalista vigarista, que lhe debitou um filho. O ex-presidente, ingênuo, acreditou que era seu e o assumiu. Agora descobriu que não é. Mas assumido está. A fulana, por sua vez, foi teúda e manteúda na Europa por vários anos. É a lei do baixo ventre. Um filho pode ser um excelente investimento. Melhor que jogar nas Bolsa, que está sujeita a chuvas e trovoadas. José de Alencar foi outro a cair no golpe. Verdade que, em seus dias de guri, jamais imaginaria que seria vice-presidente da República. A família preferiu cremar seu corpo, para evitar essas inconveniências reveladas pelo DNA.

Situação semelhante ocorreu com o bispo paraguaio Don Fernando Lugo, el semental de la Pátria! Onde boleia a perna vai deixando filho feito, como se diz lá no Sul. Caudilho como Sua Eminência não foi jamais sonhado nem mesmo pela imaginação fértil de Roa Bastos, Garcia Márquez, Alejo Carpentier ou Andrés Rivera. Nem mesmo pelo esperpêntico Don Ramón del Valle-Inclán. Príncipe da Igreja, bispo emérito de San Pedro, presidente do Paraguai e pai de três filhos, segundo as primeiras notícias. De seis ou nove, segundo outras fontes. De dezessete, segundo a oposição. Um bispo-presidente com dezessete filhos ficção alguma concebeu. Só mesmo a realidade da América Latina. Ou talvez só mesmo o Paraguai. Difícil imaginar que em algum outro país do continente um prelado conseguisse eleger-se presidente.

O bispo emérito de San Pedro, ao manter relações com uma menina de 16 anos, transgrediu o Código Penal, ao cometer estupro segundo a legislação de seu país. (Para salvar o que podia ser salvo, a moça declarou que a relação ocorreu aos 26 anos. Melhor não arriscar a mandar para o cárcere quem lhe provê seu sustento). Como religioso, transgrediu o Código Canônico, ao desobedecer a seu voto de castidade, professado não ante os homens, mas ante seu Deus, se é que Don Fernando nele acredita, o que muito me espantaria.

O cenário era bom demais para ser desperdiçado. A elite branca européia e colonizadora estuprando a negrinha oprimida africana. A impoluta polícia americana mandando para Rikers Island, sem contemplação alguma, uma alta autoridade européia. Festa para as esquerdas e para as feministas. Na edição de hoje, o New York Post fala de uma fonte que indicaria que a guineana era de fato uma prostituta, reputada por receber gorjetas de um montante extraordinário por sua função. Ainda segundo a mesma fonte, Nafitassou Dialo se beneficiaria de gastos com beleza que seriam cobertos “por homens que a ela não estão particularmente ligados”. Nos últimos dois anos, várias pessoas depositaram em sua conta bancária nada menos que cem mil dólares, em dinheiro líquido.

Enfim, c’est bien tout ce que finit bien, dizem os franceses. Strauss-Kahn, que renunciou à direção do FMI e a sua candidatura à presidência da França, se souber jogar bem, ainda tem chances de substituir Sarkozy.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

O VOTO DO FUX (conclusão)

João Eichbaum

Julgar é uma tarefa que só deveria ser confiada aos deuses. Os homens, ou melhor, os primatas, os parentes dos chimpanzés e dos bonobos, com uma carga genética bem mais próxima desses primos do que de qualquer ente divino, estão muito longe de reunir as qualidades e as virtudes que se exigiriam de um juiz.
Por reconhecer, ainda que indiretamente, mas não confessadamente, suas fraquezas, suas imperfeições, marcadas pela animalidade, os primatas que vestem a toga adquirem certos hábitos, nos quais buscam uma diferença, um “quid” que os possa distinguir dos demais primatas.
A linguagem é um dos instrumentos para os quais apelam, a fim de fazer essa diferença. Como os bacharéis e doutores de hoje, vitimas que são da péssima formação humanística a que foram submetidos, não têm pleno domínio do vernáculo, têm imensa dificuldade de construir uma frase correta, com sujeito, predicado e objeto definidos, do ponto de vista gramatical, eles inventam vocábulos e emprestam significados pessoais, subjetivos a muitas palavras.
Resultado: se perdem no emaranhado do seu vocabulário infiel à etimologia e ignoram regras elementares de gramática.
O “voto do Fux”, analisado nesta coluna, é a prova disso.
Alçado pela imprensa, por seus pares e pelo mundo dos bacharéis e doutores em geral, à condição de “intelectual do direito”, o senhor Luiz Fux quis fzer jus a tal promoção, mostrando que é “diferente”. E desandou a escrever coisas que, analisadas do ponto de vista gramatical, não passam de um amontoado de vocábulos sem sentido, sem expressão, verdadeiros ingredientes da ambigüidade.
Confesso que foi uma tortura ler o “voto do Fux”. Por isso, entreguei os pontos. E mais: meus leitores precisam de coisas melhores para preencher seu precioso tempo.
Deixemos o Fux e suas confusões de lado, por ora.