segunda-feira, 4 de julho de 2011

C'EST BIEN TOUT CE QUI FINIT BIEN

Janer Cristaldo


Observação:

Para alertar leitores que, por acaso, não tenham tido a atenção voltada para o caso, fartamente explorado na imprensa: Dominique Strauss-Kahn, homem rico e poderoso presidente do FMI, potencial candidato à presidência da França se enredou com uma camareira de um hotel em Nova Yorque: foi denunciado por ela de a ter estuprado, depois de fazer um oral com a dita. A polícia encontrou esperma do poderoso ricaço na roupa da camareira, que se chama Nafissatou Diallo, e é africana. Dominique foi em cana, escandalizou o mundo. Agora veio uma versão diferente: não era nada disso, a camareira era prostituta e só queria arrancar um grana legal do cara.
Vejam o que diz Janer sobre o caso.
João Eichbaum


Pois até eu caí no conto da Nafissatou Diallo. Ainda há pouco escrevi: “Isto sem falar nas sumidades que um dia abraçaram o poderoso responsável pelo FMI, Dominique Strauss-Kahn. Que acabou se revelando um vulgar puxador de saias. A affaire revela o caráter destes senhores".

Mas fiquei com um pé atrás: “Como pode, um homem que com um estalar de dedos teria as mulheres que quisesse, atacar uma camareira de hotel? De potestade do planeta a prisioneiro em uma cela de 12 metros quadrados em Rikers Island. De candidato preferencial à Presidência da França a personagem do Law & Order. Foi preso pela Special Victimes Unit, como no seriado. Profundo mistério!”

O mistério foi desvendado. Segundo o que os investigadores descobriram, tudo não passou de armação. Mas Strauss- Kahn baixou a guarda. Consta que seu esperma estava na roupa da moça. Se não houve estupro, relação consentida parece ter havido. A menos que o esperma também seja armação.

Quando estive em Nova York, funcionários do hotel me advertiram que não é conveniente entrar em um elevador quando nele há só uma mulher. Você arrisca ir em cana ao pisar no térreo. Executivos preferem esperar outro elevador. Imagine ficar só no quarto com uma camareira. Ainda mais quando se é milionário, diretor do FMI e candidato potencial ao governo da França. Nas reportagens sobre a affaire, li que os hóspedes costumam sair do quarto quando a camareira entra. Seguro morreu de velho. Ficar no quarto é tentar o demônio.

Ainda mais se houve sexo. Os homens que detém o poder deveriam ser mais cautos. Ou se leva uma vida escancaradamente libertina, como Berlusconi. Ou melhor ser continente. Fosse eu presidente da República, penso que levaria vida mais ou menos casta. A tentação da chantagem é muito grande.

Que o diga Fernando Henrique Cardoso. Foi enrolado por uma jornalista vigarista, que lhe debitou um filho. O ex-presidente, ingênuo, acreditou que era seu e o assumiu. Agora descobriu que não é. Mas assumido está. A fulana, por sua vez, foi teúda e manteúda na Europa por vários anos. É a lei do baixo ventre. Um filho pode ser um excelente investimento. Melhor que jogar nas Bolsa, que está sujeita a chuvas e trovoadas. José de Alencar foi outro a cair no golpe. Verdade que, em seus dias de guri, jamais imaginaria que seria vice-presidente da República. A família preferiu cremar seu corpo, para evitar essas inconveniências reveladas pelo DNA.

Situação semelhante ocorreu com o bispo paraguaio Don Fernando Lugo, el semental de la Pátria! Onde boleia a perna vai deixando filho feito, como se diz lá no Sul. Caudilho como Sua Eminência não foi jamais sonhado nem mesmo pela imaginação fértil de Roa Bastos, Garcia Márquez, Alejo Carpentier ou Andrés Rivera. Nem mesmo pelo esperpêntico Don Ramón del Valle-Inclán. Príncipe da Igreja, bispo emérito de San Pedro, presidente do Paraguai e pai de três filhos, segundo as primeiras notícias. De seis ou nove, segundo outras fontes. De dezessete, segundo a oposição. Um bispo-presidente com dezessete filhos ficção alguma concebeu. Só mesmo a realidade da América Latina. Ou talvez só mesmo o Paraguai. Difícil imaginar que em algum outro país do continente um prelado conseguisse eleger-se presidente.

O bispo emérito de San Pedro, ao manter relações com uma menina de 16 anos, transgrediu o Código Penal, ao cometer estupro segundo a legislação de seu país. (Para salvar o que podia ser salvo, a moça declarou que a relação ocorreu aos 26 anos. Melhor não arriscar a mandar para o cárcere quem lhe provê seu sustento). Como religioso, transgrediu o Código Canônico, ao desobedecer a seu voto de castidade, professado não ante os homens, mas ante seu Deus, se é que Don Fernando nele acredita, o que muito me espantaria.

O cenário era bom demais para ser desperdiçado. A elite branca européia e colonizadora estuprando a negrinha oprimida africana. A impoluta polícia americana mandando para Rikers Island, sem contemplação alguma, uma alta autoridade européia. Festa para as esquerdas e para as feministas. Na edição de hoje, o New York Post fala de uma fonte que indicaria que a guineana era de fato uma prostituta, reputada por receber gorjetas de um montante extraordinário por sua função. Ainda segundo a mesma fonte, Nafitassou Dialo se beneficiaria de gastos com beleza que seriam cobertos “por homens que a ela não estão particularmente ligados”. Nos últimos dois anos, várias pessoas depositaram em sua conta bancária nada menos que cem mil dólares, em dinheiro líquido.

Enfim, c’est bien tout ce que finit bien, dizem os franceses. Strauss-Kahn, que renunciou à direção do FMI e a sua candidatura à presidência da França, se souber jogar bem, ainda tem chances de substituir Sarkozy.

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