terça-feira, 5 de julho de 2011

O "SHOW DA VIDA"

OS VELHINHOS, DEUS E AS SOBRINHAS DA TIA CARMEN

João Eichbaum

A libido é a pimenta do “show” da vida. Sem ela não haveria procriação, quer dizer, não entraria no ar o “reality show”. Por tal razão ela é ínsita no ser humano, como em qualquer animal. Começa na infância e só abandona o ser vivente em caso de doença ou morte.
Na juventude, tudo bem, o sexo é fácil, e é por isso que as pessoas namoram, se juntam, se casam ou, como diz o povo, trepam, enquanto são jovens, movidas pela paixão, que outra coisa não é senão o ponto de erupção da sexualidade.
Quando chega a velhice, as coisas mudam. Os velhos perdem o viço, criam barriga, as carnes ficam flácidas, as rugas que se lhes desenham no rosto, lembram mapas de rios, decai a potência sexual. Quer dizer, eles broxam. Mas a sensualidade os não abandona. Como dizia minha tia: eles perdem a força, mas não perdem a cisma.
Hoje, para quem tem dinheiro, já não existe impotência sexual. Os transplantes de pênis, o Viagra e outros similares estão disponíveis nas farmácias.
Mas, os aposentados do INSS, que sobrevivem com um salário minimo, estão fora dessa faixa. O que ganham, mal dá para pagar as contas, os remédios, o aluguel, sem contar os empréstimos consignados, com que o governo federal os engana.
Então, temos duas espécies de velhos: os que podem e os que não podem fazer sexo.
E aí vem a segunda diferença: aqueles que podem, embora não tenham atrativo físico algum, compram sexo. O cara encosta seu carrão ali na Olavo Bilac, entrega-o para um manobrista e vai se divertir na casa de uma criatura de Deus conhecida como tia Carmen. Lá encontra as sobrinhas dela, plenas de juventude e sensualidade, de peitos salientes e traseiros viçosos, mostrando as coxas, todas fornidas, e convidando para um papinho. E diante de seus olhares teatralmente cobiçosos, os velhinhos endinheirados mordem as iscas, esquecem os amores extintos, e se deixam envenenar pela concupiscência. Uma maravilha para quem, no inverno da vida, ainda pode aproveitá-la.
Mas, e os outros, os aposentados do INSS? Feios, impotentes, o rosto riscado por sinais de fatiga e fracasso, tresandando a odores de incontinência urinária, e sem dinheiro, o que lhes resta?
O que sobra para alguns, volta e meia, o que eu sei, é a cadeia, por importunarem menininhas.
E Deus, por que figura no título desta crônica?
Ah, porque os velhinhos endinheirados, a tia Carmen e suas sobrinhas, quando indagados sobre a vida, respondem sem pestanejar: tudo bem, graças a Deus.
Enquanto isso, os velhinhos do INSS, diante da mesma pergunta, não têm outra resposta senão “ah, vai se levando...”
Aí, então, vem a minha pergunta: por que, nem do ponto de vista moral, consegue Deus justificar seus métodos, que impedem uma distribuição equânime da felicidade?
De qualquer maneira, tudo está no “script” do “show” da vida.

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