segunda-feira, 19 de outubro de 2009

CRÔNICAS CRÔNICAS

POLIÓTICA

Paulo Wainberg


Na sociedade criada por Aldous Huxley, no romance O Admirável Mundo Novo, o máximo do bom-tom, da educação e boas maneiras, era a forma de cumprimento dos homens para as mulheres: um tapinha na bunda. E quem não desse o tapinha era um grosseiro mal-educado.
Como o livro foi escrito na primeira metade do século XX, sob a rígida moral vigente, a idéia provocou um tanto de escândalo.
Porém, Huxley resumiu com genial maestria o que pensam os homens, quando vêem uma mulher.
Dito isto, aproveito para relembrar uma crônica que escrevi há alguns anos, chamada Cavalgovias, relatando o projeto de um nobre vereador porto-alegrense que criava vias exclusivas para nós andarmos a cavalo na cidade.
Não vingou a idéia, mas não morreu. Descobri que nos estudos para a elaboração do novo plano diretor, consta uma proposta de criação das hipovias, nada mais nada menos do que cavalgovia com o radical grego.
Está certo, Porto Alegre é a cidade mais rural do mundo, somos a capital mundial da carroça – Sabe o que é carroça? É uma armação de madeira, totalmente aberta, sobre duas rodas, puxada por cavalos e utilizadas pelos papeleiros que recolhem os sacos de lixo antes que os caminhões do Departamento Municipal de Limpeza Urbana cheguem.
É um modo de ganhar a vida para centenas de milhares de excluídos sociais. A questão é que as carroças circulam a qualquer hora, em qualquer lugar da cidade, inclusive nas avenidas mais movimentadas. Onde há um saco de lixo, uma carroça lá está, atravancando o trânsito.
Nossos ínclitos edis, ao contrário de labutarem pelo fim da exclusão social, estão tratando de facilitar-lhes o trânsito, inclusive para aqueles que, pela manhã, abrem a garagem, puxam o cavalo para fora, montam e vão trabalhar...
A propósito, um muito querido amigo me escreveu, dia desses, dizendo que inspirado em outra crônica minha que leu num dos meus livros, passou a colecionar coisas. E está adorando.
Eu sempre quis colecionar uma única coisa: notas de cem, e nunca consegui. Não sei o que se passa, é mais forte do que eu, mal consigo colecionar duas e... lá se vão elas, não sei para onde, outro colecionador, talvez, com mais sorte do que eu.
Ainda a propósito, voltando à peça Le Quartet que critiquei duramente, em outra crônica: fui informado que o diretor Bob Wilson trabalha muito com autistas. Quem me contou foi outro amigo, ator e diretor de teatro. E que utiliza o teatro para expressar o que seriam os sonhos e as visões interiores dos autistas.
Neste caso, e sob esse enfoque, Le Quartet transforma-se num interessante espetáculo, plasticamente lindo, um pouco longo, é verdade. Aproveito o ensejo para criticar duramente os divulgadores do espetáculo, que omitem informações essenciais para que, quem quiser assistir, vá, quem não quiser, não vá. Eu, por exemplo, se soubesse não iria. Não indo não teria me indignado. Não me indignando, não teria criticado. Não tendo criticado, não teria assunto para continuar esta crônica.
Por fim, e ainda a propósito, não sem pouco me exibir, informo que semana que vem, à convite da Secretaria de Cultura de São Paulo, estarei proferindo cinco palestras em cinco cidades paulistas, sobre meu romance Os Malditos, cuja leitura recomendo, participando do programa Viagens Literárias.
É um projeto do qual participam escritores de todo o País e consiste em encontros informais com a comunidade, nas Bibliotecas Públicas.
Falar nisso, o que é feito do nosso Instituto Estadual do Livro? A última coisa que ouvi falar sobre ele é que estava sem direção.
Por último – o que não é o mesmo que por fim – não seria interessante adotarmos a forma de cumprimento entre homens e mulheres sugerida pelo Aldous?

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