quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

CRÕNICAS TORTUOSAS

AS DUAS MOEDAS DA MESMA FACE

Paulo Wainberg


Eu acho melhor dois pássaros na mão do que um voando.
Graças ao meu indomável espírito contestador, porque, honestamente, não tenho a menor idéia do que faria com dois pássaros na mão. Ou com um. Do que eu gosto mesmo é de pássaros voando e nenhum na mão.
É que dizem que é melhor um pássaro na mão do que dois voando, para consolar você: A que você queria saiu com outro, contente-se com a que ficou que, olhando bem, não é de se jogar fora a esta hora da madrugada, depois de várias doses.
Ainda os pássaros: dois pássaros apenas numa mão ou um em cada uma? Dependendo do tamanho da ave, uma mão é pouca, você precisa das duas e com qual pegaria a chave de casa?
Veja você (como dizia meu avô quando iniciava um ensinamento familiar) que a vida é assim, alternativas e dúvidas e ai de você se não tiver as respostas certas na hora certa.
Alguns, anarquistas, preferem a resposta errada na hora errada. Outros, filósofos, preferem a resposta certa na hora errada e a maioria não sabe sequer a pergunta, quanto mais a resposta e pensa que “hora certa” é a hora de morrer.
Por essas e por outras, acho a opção uma chatice, uma demasia metafísica, um complicador das nossas indecisões e um pérfido artefato a torturar nossas angústias.
Ser ou não ser? Bacalhau ou feijoada? Praia ou serra? Loira ou morena? Quatro ou dois air-bags? Dois filhos ou três?
Eu mesmo, há mil anos atrás, fui vítima de uma situação dramática em que tive que optar entre uma coisa ou outra. Se eu escolhesse uma, não ia me arrepender de não escolher a outra?
A dúvida era: Comprar um fusquinha ou um DKW? Escolhi o fusquinha e até hoje sofro: Como teria sido, com o DKW?
Responda honestamente: Sua vida não seria bem mais simples se só existisse um canal de televisão?
Você está no mato, o rifle apontado para o meio da testa da lebre ( faz de conta que você é um caçador desalmado). Seu dedo aperta lentamente o gatilho quando, com o canto do olho aberto, você percebe um movimento à sua esquerda. É uma anta, justo o bicho que você queria! Mas se mudar de posição, perde a lebre e a anta. O que você faz? Como é que sai dessa?
Dizem, eu acho, que toda escolha resulta numa perda. Nunca ouvi ninguém dizendo isso, mas, com toda certeza alguém disse, não seria eu a inventar esta frase, assim profunda.
Portanto, no momento crucial, ou você mata a lebre e perde a anta ou mata a anta e perde a lebre. E se ficar se coçando, corre o risco de perder as duas. Isto me fez refletir: Se toda escolha resulta numa perda, nenhuma escolha resulta em duas perdas, e aí voltamos ao início: mais vale dois pássaros na mão.....
Que drama, hein? De novo a opção brigando com você quando tudo o que você queria era praticar um inocente assassinato esportivo.
E assim segue a vida, você prefere ser pobre e com saúde ou rico e doente?
Por que???? Não dá para ser rico e com saúde? O bom não pode, nunca, vir acompanhado do bom? Temos que viver nos equilibrando, a coisa boa que acontece compensando, mais ou menos e olhe lá, a coisa ruim que nos acontece?
Qual é o problema em ser tudo bom?
Não recordo, na Bíblia, tal maldição lançada sobre a Humanidade: “Você, Homem, viverá entre altos e baixos!”.
A Bolsa cai, o dólar sobe, o dólar cai a Bolsa sobe, por que razão, seres humanos deste mundo, a Bolsa e o dólar não podem subir ao mesmo tempo?
Por que razão, ó humanos deste mundo, estamos permanente diante de uma escolha que, se por um lado é boa, por outro é ruim?
Sejamos honestos, encaremos os fatos e usemos as palavras corretas: Se tudo for bom para todo o mundo, quem vai acreditar no Diabo? E se tudo for ruim para todo o mundo, quem vai acreditar em Deus?
Eu gosto de pássaros voando e nenhum na mão. Pássaros tem que voar, pousar nas flores, piar e alegrar nossas manhãs.

Um comentário:

Nubia Graziela disse...

Bom!Sempre costumo afirmar que na vida existem os dois lados da moeda e que nós podemos escolher um dos lados,mas muitas vezes temos que vivenciar os dois lados.
Na vida temos vários caminhos e a escolha muitas vezes resulta em pagar um alto preço ou pela SINCERIDADE,HONESTIDADE,ÉTICA, A MORAL entre outros.
Conheço uma "pessoa" que trabalha demais e sempre está estressada,ao invés de sair desse "mar" de rotina e de escravidão profissional deveria procurar um lazer ou mesmo um verdadeiro PRAZER, não!! "Ele" só quer saber de trabalhar,trabalhar e trabalhar e lógico ganha muito bem,e tem todos os confortos necessários e conquistados,mas sempre está SOZINHO e quando alguém se aproxima "dele" é somente por INTERESSE FINANCEIRO E NÃO PELA PESSOA QUE ELE É.Tem dinheiro é um excelente profissional,mas "ele" escolheu o seu TRABALHO! !!! BJ