terça-feira, 3 de agosto de 2010

CRÔNICAS SWINGUIANAS

MONTAGEM

Paulo Wainberg


Haroldo foi mais cedo para casa e flagrou Clarinha e Eduardo promovendo um amasso conceitual, na cama.
– Calma, Haroldo – disse Eduardo, cobrindo-se com o lençol. – Não é o que você está pensando!
– É, Haroldo – confirmou Clarinha fazendo a mesma coisa. – Não é o que você está pensando.
– Ah, não é? – disse Haroldo.
E imediatamente tirou as roupas e jogou-se na cama:
– Se o assunto é lambuzagem, estou nessa!
E, sem maiores delongas, os três envolveram-se em erótico frenesi, sexo de todos os jeitos, valia tudo, ninguém é de ninguém e vamos que vamos.
Bem mais tarde, um pouco exaurida, Clarinha achou que precisava reforço:
– Quem sabe a gente chama a Lúcia?
– A minha Lúcia? – sobressaltou-se Eduardo.
– Ué? – disse Haroldo. – Se quer ação, tem que botar mulher na mesa, malandro. Ou só vai na dos outros?
– A Lucia não vem! De jeito nenhum! E se ela descobre o que fiz hoje, estou frito.
– Xiii, Eduardo, você não conhece a tua mulher.
– Como assim?
– Deixa comigo.
E Clarinha trancou-se no banheiro, falando ao celular.
De repente o clima mudou, no quarto. Ficou pesado, sólido, gosmento.
Nus, lado a lado, Haroldo e Eduardo estavam inquietos.
Haroldo:
–Sacanagem, hein Eduardo. Nunca pensei.
– Desculpe, cara. Nem sei direito como aconteceu. Eu vim trazer um pacote...
– Sabe o que mais me chateia?
– O que?
– Se eu não tivesse dado o flagra, você nunca me contaria.
– O que é isso, cara, claro que contava. Ia fazer segredo de uma coisa dessas...?
Ficaram novamente em silêncio, lembrando dos últimos acontecimentos. Haroldo corou ao recordar o brinquedo de trem, com Clarinha de locomotiva. Eduardo corou ao lembrar o sanduíche humano, ele de recheio.
– Em quinze minutos chega a Lúcia – anunciou Clarinha, voltando para a cama.
– Ela topou? Assim? Direto?
– Claro que sim. Na hora.
– Mas que putinha... Não ficou braba comigo?
– Nem um pouco. Deu risada.
– Desculpe, Haroldo, posso perguntar uma coisa íntima para Clarinha?
– Cara, você quer ainda mais intimidade? Claro que pode. Se ela quiser, ela responde.
– Clarinha, você e a Lucia já tinham feito isso antes?
– Isso o que? Antes do que?
– Sexo grupal, isso que a gente fez hoje... e antes do casamento conosco, claro.
– O que você acha?
Eduardo resolveu ficar quieto. Já tinha escorregado chamando Lucia de putinha, teve medo de ofender Clarinha. Mas Lucia era mesmo uma vagabunda, se viesse. Será que ele tinha casado com uma depravada?
Não teve tempo para pensar. Lúcia chegou, animadíssima. Tirou o casaco e foi para a cama, só de calcinha e sutiã.
Em poucos segundos o clima esquentou, as mãos, as pernas, os corpos, uma montagem surreal envolvendo os quatro, ninguém sabendo com quem estava fazendo o que.
Bem mais tarde, alta madrugada, depois da pizza requentada como se nada tivesse acontecido, Eduardo e Lucia foram para casa. Na opinião dele, eles tinham muito a conversar.
Clarinha e Haroldo voltaram para a cama, apagaram a luz, prontos para dormir.
– Clarinha?
– Que é, bem?
– Nós, hein?

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