segunda-feira, 30 de agosto de 2010

ESSE CIRCO CHAMADO JUSTIÇA

OS DEUSES DE TOGA

João Eichbaum

Sabe o Olimpo?
Para quem não sabe, o Olimpo é a morada dos deuses, a habitação das entidades divinas. Lá não entra qualquer um, não é lugar destinado para os pobres mortais, esses anônimos que habitam na planície, compondo a massa, a patuléia, essa coisa amorfa chamada povo.
Por incrível que pareça, temos também Olimpo na terra, nessa terra de palmeiras onde cantam o sabiá, a Roberta Miranda, o Chitãosinho e o Xororó, e outros de estirpe melhor ou pior, nessa terrinha de futebol, de carnaval, de políticos safados (com perdão pelo pleonasmo) e de mulatas bundudas.
Fica lá em Brasília o nosso Olimpo. E os deuses que nele habitam, saudados com mesuras e reverências por onde passam, são chamados de ministros, pelos bacharéis letrados e iletrados do país. Falo dos ministros do Supremo Tribunal Federal.
Não, não estou brincando. Estou apenas mostrando o paraíso que a omissão, a indolência e a ignorância do povo criou, elegendo políticos sem culhão, que permitem esse estado de coisas.
Não há ninguém acima deles. A palavra deles, prolixa, rebuscada, gongórica, é a última, é a decisiva, e eles se têm por luminosos e luminares, se deleitam com a própria sabedoria, embora até hoje não tenham descoberto qual é o obstáculo que os impede de dizer o óbvio, sem precisar de tantas laudas.
A redoma de vidro na qual eles vivem, nada tem a ver com a vida dos brasileiros. A serviço deles, que são apenas onze, estão nada menos do que 1.135 servidores concursados, 1.250 terceirizados e 176 estagiários. “ A frota tem 70 veículos, que gastam 35 mil de combustível e rodam cerca de 13 mil quilômetros por mês” – informa a revista Piauí, do mês de agosto.
Trabalhar? O que qué isso? Isso lá é coisa de deuses?
Para descanso da companhia, nas segundas e sextas feiras não há sessões. Sobram apenas três dias na semana para que eles apareçam, vestidos de toga por cima das cuecas e das calcinhas, para ler, com voz pastosa e linear, sem abdicar de uma generosa pausa para lanches, os votos que seus assessores elaboram.
Assim mesmo, nesses três dias, ninguém lhes cobra faltas: eles viajam pelo país e pelo exterior, aproveitando seus passaportes diplomáticos, dando umas de mestres e doutores, senhores que sabem de tudo, participando de seminários, dando conferências. No final do mês recebem os polpudos vencimentos integralmente, sem descontos pelos dias viajados e quiçá acrescidos de diárias.
O que é que vocês queriam? Que os deuses trabalhassem como vocês e fossem de madrugada para a fila do SUS?
Aqui, ó, meus caros. Quem tem que trabalhar somos nós, para lhes sustentar a divindade. Ou vocês acham que uma vida com tanta pompa e tantas circunstâncias não é própria dos deuses?

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