terça-feira, 30 de novembro de 2010
CRÔNICAS IMPUDICAS
João Eichbaum
A hipocrisia é um dos componentes radicais da estrutura anímica. Todo o animal a cultiva, no mínimo por exigência do instinto de sobrevivência. A tocaia, o ataque inesperado à descuidada vítima, menos por impulso de violência do que por necessidade do alimento, deve ter sido a primeira forma de hipocrisia.
Daí para diante, a dissimulação foi evoluindo à medida que evoluía o primata, esse tipo que desembocou na figura que conhecemos hoje como “homo sapiens”. Nessa evolução, o homem jamais abandonou essa companheira, que faz parte de sua estrutura bio-psicológica e a foi trabalhando, conforme o exigia sua necessidade de sobrevivência, de poder, ou de simples interesse pessoal.
Até que se tornou, em nossos tempos, oficial. Hoje, todo mundo é obrigado a ser hipócrita, como diz Simas, em seu excelente artigo, cheio de humor e verdade, publicado neste blog semana passada: negrão não pode ser chamado de negrão, bicha não pode ser chamado de bicha, sapatão não pode ser chamado de sapatão. Ah e, finalmente, todo o macho está obrigado a se tornar corno manso, porque se der uma surra na mulher que o corneou ele vai parar nas mãos da Maria da Penha.
Sem falar nos direitos humanos, uma das tantas outras hipocrisias, porque tais direitos só alguns os têm: os bandidos. Esses devem ser tratados como “seres humanos” cheios de direitos e prerrogativas, ao contrário das vítimas, de quem, depois de mortas, as autoridades não falam.
Claro que essa hipocrisia oficial só pode vir dos líderes, dos políticos. Ninguém mais hipócrita do que os políticos. A primeira condição para que alguém seja político é que saiba enganar, que saiba ludibriar, que saiba mentir com a maior cara de pau. Depois, o resto todo mundo já sabe: surgem as leis idiotas, as campanhas mentirosas. As leis de trânsito, por exemplo. Você pensa que a exigência do cinto de segurança é, primordialmente, para salvar sua vida? Aqui, ó! A verdadeira intenção do Estado é embolsar a multa. E por aí vai. O Estado mente que cuida de você, para se apossar do seu dinheiro. Porque aquilo que ele devia cuidar, não cuida: saúde, segurança, educação.
Ah, sim, e para não deixar sem comentário mais uma vez a hipocrisia oficial: a operação no Complexo do Alemão, não foi para garantir a segurança da população, mas, sim, para limpar a área e fazer bonito para a Copa do Mundo.
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
COM A PALAVRA, JANER CRISTALDO
A que ponto chegamos... – me dizia um companheiro de boteco, a propósito dos recentes acontecimentos no Rio. Não me parece que seja o comentário mais pertinente. A meu ver, uma pergunta se impõe: como é que chegamos a esse ponto? E a resposta não me parece exigir argúcias de sociólogo ou urbanista.
Há um erro fundamental na concepção do Rio. Normalmente, os pontos mais privilegiados de uma geografia são de uso exclusivo dos ricos. Não sei se por falta de visão, ou talvez por preguiça, o carioca não quis subir o morro. Entregou-o às favelas. Que ficaram numa posição estratégica para atacar a cidade.
Todo brasileiro que um dia passou pela Costa Amalfitana, na Itália, terá tido uma estranha sensação de déjà-vu. Amalfi, Positano, Maiori, Minori, Ravello, nos remetem imediatamente aos morros cariocas. Com pelo menos duas diferenças. Para começar, quem os ocupa não é uma massa de miseráveis, mas uma elite endinheirada. Continuando, são cidades de lazer e trabalho, e não bantustões onde impera o tráfico de drogas.
O Rio nasceu errado. Não bastasse nascer errada, a cidade continuou torta existência afora. Lá surgiu, mais do que em nenhuma outra cidade do Brasil, uma convivência amistosa entre o lícito e o ilícito, entre a vida honesta e a criminalidade. O bicheiro é um personagem folclórico, que merece um tapinha nas costas, e os barões do bicho são personagens beneméritos que patrocinam desfiles de carnaval. Os traficantes assumiram brechas deixadas pelo Estado ou pela sociedade organizada e assumiram até mesmo a distribuição de luz ou gás nas favelas.Tudo isso contribui para um exótico modus vivendi, onde uma tênue fímbria separa o mundo do trabalho do mundo do crime. Para encanto dos europeus. Para um francês ou italiano, vir ao Brasil e não visitar a favela é como ir a Roma e não ver o papa. A bandidagem sabe disso e criou corredores especiais para uso de turistas. Quem organiza o turismo no morro não é o Estado, mas o tráfico. A polícia, particularmente durante o governo Brizola, participou de um afável acordo não de cavaleiros, mas de bandoleiros. Eu finjo que reprimo o tráfico, você finge que não vende drogas. Por favor, seja discreto na hora de entregar a muamba. No Rio, até o Cristo faz que não vê o que acontece sob seu olhar complacente.
Os grandes conflitos no Rio, de modo geral, não ocorrem entre polícia e bandidos, como seria a ordem natural das coisas, mas entre bandidos e bandidos, pela conquista de territórios. Em um país em que o desarmamento é imposição legal, os soldados do tráfico desfilam com a nonchalance dos justos, armados de fuzis que nem a polícia possui. Vai daí que um dia o Estado inventa de retomar o poder que deveria exercer e nunca exerceu. Tarde demais. A bandidagem reivindica usucapião. Durante muito tempo se discutiu se o poder paralelo das favelas deveria ser combatido pelas Forças Armadas. E durante muito tempo a resposta foi não. Não é função das Forças Armadas. A função das Forças Armadas é combater o inimigo externo. No Haiti, sim. Lá o Exército Nacional colabora voluntariamente na repressão ao crime. No Brasil, não é sua função. Talvez tenha sido esta intervenção no Haiti o que levou, finalmente, nossas autoridades militares a olhar para o descalabro dos morros.
Outro argumento é que soldados não estão preparados para combater o tráfico e podem ser contaminados pelo mesmo. Se assim se pensava ano passado, hoje assim não se pensa mais. Se estão ou não preparados, se serão ou não contaminados, só o futuro dirá. O que está acontecendo hoje no Rio é mais ou menos o que aconteceu na casbá de Argel, no final dos 50. Por razões diferentes, é claro. Estamos em plena guerrilha urbana e, cá com meus botões, me pergunto se guerrilha urbana se combate com tanques. O que as Forças Armadas têm feito por enquanto é expulsar a bandidagem de uma favela para outra. Segundo os jornais, há hoje seiscentos traficantes encurralados no morro do Alemão. Serão presos esses seiscentos? Me permito duvidar.
Outra peculiaridade nossa é que os generais do tráfico comandam a guerrilha de dentro... dos presídios. As ordens para ataques criminosos partiram dos traficantes Márcio Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, e Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, de dentro do presídio federal de segurança máxima de Catanduvas (PR), afirma a Justiça do Rio. Os generais do tráfico sequer correm o risco de seus soldados. O estado maior esta protegido em presídios de segurança máxima. Os soldados estão sujeitos a chuvas (de bala) e trovoadas.Seus ordenanças são advogados, normalmente inscritos na Ordem dos Advogados do Brasil. Que esperança de vitória pode alimentar o Estado quando advogados são estafetas do alto comando da droga?Jornais e televisão estão saudando a investida das Forças Armadas como o dia D da guerra contra o tráfico, numa alusão ao desembarque das tropas aliadas na Normandia. Santa ilusão. Um batalhão de bandidos foi expulso de um morro para o outro e há centenas de morros no Rio, todos dominados pelo tráfico. Ficarão os militares permanentemente nos morros que estão ocupando? Claro que não ficarão. Quando saírem, a turma volta.
Mal o Estado marca um mísero pontinho na luta contra o tráfego, os incondicionais defensores dos tais de direitos humanos saem de suas confortáveis tocas. A Anistia Internacional criticou ontem em nota a atuação da polícia no Rio. Disse que a reação aos ataques do tráfico está colocando comunidades em risco e pode acabar em carnificina. Sob o título "violência no Rio de Janeiro condenada", a nota clama para que "as autoridades brasileiras ajam dentro da lei na resposta à onda de violência".
O guerrilheiro nada como um peixe no mar do povo, dizia Mao. Parafraseando o Grande Timoneiro: o traficante nada como um peixe no mar da favela. Há solução para o problema no tráfico no Rio? Eu diria que há, e são duas. A primeira é elementar. Legaliza-se de vez a droga e, no dia seguinte, sem um tiro sequer, não existe tráfico algum no país. A outra é um pouco mais polêmica: napalm.
Mas aí a Anistia Internacional vai chiar.
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
CRÔNICAS CIBERNÉTICAS
PAULO WAINBERG
http://paulowainberg.wordpress.com
Twitter.com/paulowainberg
Já posso me equiparar à uma criança de dez anos.
Nem imaginam como estou feliz.
Não, não estou me exibindo nem me gabando, jamais serei capaz de fazer o que ela faz, está além das minhas capacidades mentais, das físicas nem se fala.
Você deve ter percebido acima que, além de twitter, agora eu tenho um blog.
Isto mesmo, rapaz, eu tenho um blog!
Eu sei que você caiu de quatro, deve estar abismado e se perguntando:
– Como, ele fez um blog? O gênio cibernético que, quando lhe falaram em vírus de computador pela primeira vez, ficou com medo de entrar na sala para não ser infectado, fez um blog?
Respondo: Estou dizendo que tenho um blog, não que fiz um.
Sou um cara de sorte e possuo duas fadas madrinhas e um poltergeist do bem cuidando da minha vida literária.
A Tainã Bispo e o Gabriel Martins, da Editora Leya, me adotaram, cuidam de mim como seu eu fosse uma salada de berinjela ou um prato de azeitonas recheadas. E a Luciana Thomé, codinome Lu Thomé, que me assumiu como agente, divulgadora, organizadora e tudo o mais que se refira à minha carreira literária. Por ser uma agente é que ela tem um codinome. Há quem a chame de Lurdes, mas isso é questão de gosto.
Bom, essas três pessoas me introduziram no encantado mundo dos twitter e dos blogues sendo que neste último universo, apesar da boa vontade do Gabriel, que me passou um explicadíssimo negócio repleto de botões para eu fazer isto, aquilo e muito mais no meu blog, não ousei clicar em nenhum, com medo de que algo terrível aconteça do qual eu jamais me recupere.
No twitter, embora não entenda o funcionamento, faço as coisas sozinho, venço meus receios. O blog, a Lu Thomé (uso o codinome para não revelar sua identidade), tomou conta, tudo o que você encontrar lá é responsabilidade dela.
O facebook é por minha conta.
Sendo assim, doravante você lerá minhas crônicas no meu blog que, para quem não leu lá em cima, repito: HTTP://PAULOWAINBERG.WORDPRESS.COM, só que tudo em letra minúscula! Não vá se enganar.
Esta nova tecnologia, que passo a utilizar, traz a você a grande vantagem de não precisar ler nada meu, sobretudo as crônicas que fico enviando, toda a semana. Basta não entrar no meu blog, entendeu?
Infelizmente, e isto não posso evitar ainda, talvez quando eu alcançar a idade mental de 15 anos eu consiga, você vai receber a informação, no seu email, sobre novas postagens (no meu tempo postagem era enviar carta pelo correio), novas crônicas, textos, comentários e outras cositas más que se colocam, dizem, nos blogues.
Ah, a Lu me informou que vai postar também crônicas antigas, assim, não entrando no meu blog você poderá não ler várias coisas minhas, atuais e antigas.
O mais espetacular é que, caso você entre, poderá deixar mensagens, já pensou? Eu acho isso o máximo, deixar mensagens em blogues. Agora que tenho um, vou começar a fazer isto no dos outros.
Bem, é isto. Tenha respeito comigo, doravante. Afinal, eu uso essas coisas e poderia ser teu filho.
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
O CRAVO NÃO BRIGOU COM A ROSA
mestre em História Social pela UFRJ
e professor de História do ensino médio.
Desenvolve pesquisas sobre a cultura popular carioca.
Chegamos ao limite da insanidade da onda do politicamente correto. Soube dia desses que as crianças, nas creches e escolas, não cantam mais O cravo brigou com a rosa. A explicação da professora do filho de um camarada foi comovente: a briga entre o cravo - o homem - e a rosa - a mulher - estimula a violência entre os casais. Na nova letra "o cravo encontrou a rosa/ debaixo de uma sacada/o cravo ficou feliz /e a rosa ficou encantada".
Que diabos é isso? O próximo passo é enquadrar o cravo na Lei Maria da Penha. Será que esses doidos sabem que O cravo brigou com a rosa faz parte de uma suíte de 16 peças que Villa Lobos criou a partir de temas recolhidos no folclore brasileiro?É Villa Lobos, cacete!Outra música infantil que mudou de letra foi Samba Lelê. Na versão da minha infância o negócio era o seguinte: Samba Lelê tá doente/ Tá com a cabeça quebrada/ Samba Lelê precisava/ É de umas boas palmadas. A palmada na bunda está proibida. Incita a violência contra a menina Lelê. A tia do maternal agora ensina assim: Samba Lelê tá doente/ Com uma febre malvada/ Assim que a febre passar/ A Lelê vai estudar.Se eu fosse a Lelê, com uma versão dessas, torcia pra febre não passar nunca. Os amigos sabem de quem é Samba Lelê? Villa Lobos de novo. Podiam até registrar a parceria. Ficaria assim: Samba Lelê, de Heitor Villa Lobos e Tia Nilda do Jardim Escola Criança Feliz.
Comunico também que não se pode mais atirar o pau no gato, já que a música desperta nas crianças o desejo de maltratar os bichinhos. Quem entra na roda dança, nos dias atuais, não pode mais ter sete namorados para se casar com um. Sete namorados é coisa de menina fácil. Ninguém mais é pobre ou rico de marré-de-si, para não despertar na garotada o sentido da desigualdade social entre os homens.
Dia desses alguém [não me lembro exatamente quem se saiu com essa e não procurei a referência no meu babalorixá virtual, Pai Google da Aruanda] foi espinafrado porque disse que ecologia era, nos anos setenta, coisa de viado. Qual é o problema da frase? Ecologia, de fato, era vista como coisa de viado. Eu imagino se meu avô, com a alma de cangaceiro que possuía, soubesse, em mil novecentos e setenta e poucos, que algum filho estava militando na causa da preservação do mico leão dourado, em defesa das bromélias ou coisa que o valha. Bicha louca, diria o velho.Vivemos tempos de não me toques que eu magôo. Quer dizer que ninguém mais pode usar a expressão coisa de viado ? Que me desculpem os paladinos da cartilha da correção, mas isso é uma tremenda babaquice. O politicamente correto é a sepultura do bom humor, da criatividade, da boa sacanagem. A expressão coisa de viado não é, nem a pau (sem duplo sentido), ofensa a bicha alguma.
Daqui a pouco só chamaremos o anão - o popular pintor de roda-pé ou leão de chácara de baile infantil - de deficiente vertical . O crioulo - vulgo picolé de asfalto ou bola sete (depende do peso) - só pode ser chamado de afrodescendente. O branquelo - o famoso branco azedo ou Omo total - é um cidadão caucasiano desprovido de pigmentação mais evidente. A mulher feia - aquela que nasceu pelo avesso, a soldado do quinto batalhão de artilharia pesada, também conhecida como o rascunho do mapa do inferno - é apenas a dona de um padrão divergente dos preceitos estéticos da contemporaneidade. O gordo - outrora conhecido como rolha de poço, chupeta do Vesúvio, Orca, baleia assassina e bujão - é o cidadão que está fora do peso ideal. O magricela não pode ser chamado de morto de fome, pau de virar tripa e Olívia Palito. O careca não é mais o aeroporto de mosquito, tobogã de piolho e pouca telha.
Nas aulas sobre o barroco mineiro, não poderei mais citar o Aleijadinho. Direi o seguinte: o escultor Antônio Francisco Lisboa tinha necessidades especiais... Não dá. O politicamente correto também gera a morte do apelido, essa tradição fabulosa do Brasil.
O recente Estatuto do Torcedor quer, com os olhos gordos na Copa e 2014, disciplinar as manifestações das torcidas de futebol. Ao invés de mandar o juiz pra putaqueopariu e o centroavante pereba tomar no olho do cu, cantaremos nas arquibancadas o allegro da Nona Sinfonia de Beethoven, entremeado pelo coro de Jesus, alegria dos homens, do velho Bach.
Falei em velho Bach e me lembrei de outra. A velhice não existe mais. O sujeito cheio de pelancas, doente, acabado, o famoso pé na cova, aquele que dobrou o Cabo da Boa Esperança, o cliente do seguro funeral, o popular tá mais pra lá do que pra cá, já tem motivos para sorrir na beira da sepultura. A velhice agora é simplesmente a "melhor idade".Se Deus quiser morreremos, todos, gozando da mais perfeita saúde.
Defuntos? Não. Seremos os inquilinos do condomínio Cidade do pé junto.
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
CRÔNICAS DAQUELAS
Paulo Wainberg
HTTP://paulowainberg.wordpress.com
Twitter.com/paulowainberg
Certos dias... Certos dias sou como a fábula da groselha e da maçã, que jamais foi escrita.
Certos dias, jamais fui escrito.
É quando meu olhar nada vê, mesmo que tantas paisagens passem por ele.
Certos dias estou cego e penso no velho, antigo e desaparecido amigo do colégio, com quem varava as madrugadas falando francês, eu porque sabia, ele porque queria aprender.
Eram noites frias que nós percorríamos até chegar a madrugada, por avenidas solitárias de Porto Alegre cruzadas por bondes barulhentos, de hora em hora.
Comigo ele aprendeu algumas palavras em francês, doce língua do amor, graças a poemas declamados sob o fervor de paixões indizíveis, pelas colegas de aula, inacessíveis, e hoje derrotadas pelo tempo, cruel Saturno devorador dos próprios filhos.
Assim como eu.
Certos dias... Onde estará meu amigo de ginásio que nunca mais vi nem soube dele, terminado aquele ano de 1959 quando fomos, cada um, para o seu lado?
Certos dias me sinto personagem do Evangelho segundo São Mateus, que nunca li nem acredito numa única palavra.
É então que me pergunto o motivo de não ser o Messias, salvador eleito por Deus e a resposta me esbofeteia: Deus não existe, rapaz.
Certos dias quero largar tudo, livrar-me das opressões, desfazer-me dos gostos e, qual vagabundo solitário, esgueirar-me pelas frestas sem alguém a me perguntar por quê, sem ninguém a me dizer o que é bom para mim.
Certos dias pesam-me tanto as obrigações, doem-me tanto as responsabilidades, iludem-me tanto as esperanças que a cama não suporta, o almoço não resiste e o fim do dia me esgota.
Certos dias só me resta recorrer a mim mesmo, coisa que faço agora, enviando um poema antigo cujo título, pelo menos, ganhou o principal prêmio literário do Brasil:
LEITE DERRAMADO
Nunca chore sobre o leite derramado.
Rasteje e beba tudo o que puder.
Não fique assim dilaceradopor causa do “não” de uma mulher.
Dê de cara contra a porta mal fechada.
Coce o saco, a bunda e coisa e tal.
Fuja de armadilhas traiçoeiras
Disfarçadas de roseiras no quintal.
Lembre que por toda eternidadeTudo vem depois de antes.
Reconheça que o que é tarde agora,foi cedo outrora.
Gaste o tempo que te sobra
Entre quatro ou cinco amantes
dispensando aquela que cobrao colar de diamantes.
O gosto amargo do póVai lembrar que és mortal.Morres contigo... e só,
Como todos, tal e qual.
Nunca chore sobre o leite derramadoNem esqueça que amanhã será depoisE que tamanho amor desesperadoÉ o riso e alegria de outros dois.
terça-feira, 23 de novembro de 2010
CRÔNICAS IMPUDICAS
João Eichbaum
Dias atrás, num texto brilhante, recheado com ferina, mas, ao mesmo tempo, elegante ironia, o advogado Ricardo Giuliani, criticou ações do Ministério Público, tanto federal como estadual, que enchem as páginas dos jornais, se tornam manchetes em noticiários de emissora de rádio e televisão, mas não passam de pífias iniciativas, traques saídos de boca de canhão.
Mencionou o autor ridículas atitudes, como as da promotora que queria processar um caminhoneiro por ter atropelado duas galinhas e a da outra promotora que pretende, ou pretendia, censurar o filme Tropa de Elite, proibindo-o para crianças.
Em outras palavras, o autor do artigo afinou com este blogueiro na afirmação de que o Ministério Público não passa de uma montanha que só serve para parir camundongos.
Pra quê, minha gente! Agora vem o presidente da Associação do Ministério Público – estadual, penso eu – Marcelo Lemos Dornelles, defender a instituição com unhas e dentes.
No meio das obviedades, como, por exemplo, a de que os seres humanos estão sujeitos a erros, diz o senhor Marcelo que o Ministério Público é responsável pela preservação desse grande valor, que é a Justiça.
Mas, não é isso que se vê. A grande, a imensa maioria dos promotores não é de Justiça, mas de acusação. Muitos deles deixam transparecer, em todos os atos processuais, sem falar em suas aparições em público, na imprensa - de que toda a instituição gosta - que sentem verdadeiro orgasmo em acusar, porque o que lhes interessa é o número de condenações e não a da conquista da verdadeira justiça. A menos que, no seu nível intelectual e cultural, “justiça” seja sinônimo de condenação.
Demonstrando seu despreparo em matéria de silogismo, finalmente, o senhor promotor de justiça Marcelo Lemos Dornelles, depois de admitir “falhas humanas”, conclui que o Ministério Público é “incriticável”.
Ah, sim: uno, indivisível e agora, também, “incriticável”.
Olha, senhor Marcelo, quando uma instituição é “una e indivisível” o erro de um é o erro de todos, o erro da promotora perseguidora de honestos caminhoneiros é erro de toda a instituição. Se o senhor não quiser assim, lute, em primeiro lugar, para que sejam abolidos os adjetivos “uno e indivisível” com que se qualifica o Ministério Público. Aí talvez a instituição possa ser “incriticável”, conquanto não o sejam as cagadas particulares de muitos mocinhos e mocinhas, deslumbrados com o “poder de pedir e de opinar”, o único de que se pode orgulhar o Ministério Público.
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
COM A PALAVRA, JANER CRISTALDO
De um bom amigo, recebi esta sinopse, feita por Rosa Ramos, do livro do jornalista italiano Eric Frattini:
São mais de 300 páginas com centenas de histórias pouco santas sobre a vida sexual dos papas da Igreja Católica. O livro do jornalista Eric Frattini, recém-chegado às livrarias portuguesas e editado pela Bertrand, percorre, ao longo dos séculos, a intimidade secreta de papas e antipapas, mas não pretende causar "escândalo". Apenas "promover uma reflexão sobre a necessária reforma da Igreja ao longo dos tempos". No livro Os Papas e o Sexo há de tudo. Desde papas violadores e zoofílicos a papas homossexuais e fetichistas, além de santos padres incestuosos, pedófilos ou sádicos, passando por papas filhos de papas e papas filhos de padres.
Alguns morreram assassinados pelos maridos das amantes em pleno acto sexual. Outros foram depostos do cargo, julgados pelas suas bizarrias sexuais e banidos da história da Igreja. Outros morreram com sífilis, como o Papa Júlio II, eleito em 1503, que ficou na história por ter inventado o primeiro bordel gay de que há memória. Bonifácio IX deixou 34 filhos, a que chamava, carinhosamente, de "adoráveis sobrinhos".
Martinho V encomendava contos eróticos, que gostava de ler no recolhimento do seu quarto. Paulo II era homossexual e Listo IV, que cometeu incesto com os sobrinhos, bissexual. Inocêncio VIII reconheceu todos os filhos que fez e levou-os para a Santa Sé. Um deles tornou-se violador. João XI (931-936) cometeu incesto com a própria mãe, violava fiéis e organizava orgias com rapazes. Sérgio III teve o infortúnio de se apaixonar por mãe e filha e não esteve com meias medidas: rendeu-se à prática da ménage à trois. Bento V só esteve no Governo da Igreja 29 dias, por terdesonrado uma rapariga de 14 anos durante a confissão. Depois de ser considerado culpado, fugiu e levou boa parte do tesouro papal consigo. João XIII era servido por um batalhão de virgens, desonrou a concubina do pai e uma sobrinha e comia em pratos de ouro enquanto assistia a danças de bailarinas orientais. Os bailes acabaram quando foi assassinado pelo marido de uma amante em pleno acto sexual. Silvestre II fez um pacto com o diabo. Praticava magia. Acabou envenenado. Dâmaso I, que a Igreja canonizou, promovia homens no ciclo eclesiástico, sendo a moeda de troca poder dormir com as respectivas mulheres. Já o Papa Anastácio, que tinha escravas, teve um filho com uma nobre romana, que se viria a tornar no Papa Inocêncio I (famoso pelo seu séquito de raparigas jovens). Pai e filho acabaram canonizados. Leão I era convidado para as orgias do Imperador, mas sempre se defendeu, dizendo que ficava só a assistir. Mesmo assim, engravidou uma rapariga de 14 anos, que mandou encerrar num convento para o resto da vida. Bento VIII morreu com sífilis e Bento IX era zoófilo. Urbano II criou uma lei que permitia aos padres terem amantes, desde que pagassem um imposto. Alexandre III fazia sexo com as fiéis a troco de perdões e deixou 62 filhos. Foi expulso, mas a Igreja teve de lhe conceder uma pensão vitalícia, para poder sustentar a criançada. Gregório I gostava de punir as mulheres pecadoras, despindo-as e dando-lhes açoites.
Bonifácio VI rezava missas privadas só para mulheres e João XI violou, durante quatro dias, uma mãe e duas filhas. Ao mesmo tempo.
1. João Paulo II
Acusado de ter um filha secreta Em 1995, o norte-americano Leon Hayblum escrevia um livro polémico, em que dizia ser pai da neta de João Paulo II. Durante a oupação nazi da Polónia, Wojtyla terá casado, secretamente, com uma judia. Do enlace nasceu uma rapariga, que o próprio pai entregou, com seis semanas, a um convento local. No seu pontificado especulou-se muito sobre as namoradas que teve antes do sacerdócio. O papa admitiu algumas, mas garantiu nunca ter tido sexo. No Vaticano, fazia-se acompanhar por uma filósofa norte-americana, Anna Teresa Tymieniecka, com quem escreveu a sua maior obra filósofica. Acabaram zangados um com o outro, supostamente por ciúmes.
2. Paulo VI
Homossexual?Assim que chegou ao Vaticano, Paulo VI mostrou-se muito conservador em relação às matérias ligadas à sexualidade. Em 1976, indignado com as declarações homofóbicas de Paulo VI, um historiador e diplomata francês, Roger Peyrefitte, contou ao mundo que, afinal, o Papa era homossexual e manteve uma relação com um actor conhecido. O escândalo foi tremendo: Paulo VI negou tudo e o Vaticano chegou a pedir orações ao fiéis do mundo inteiro pelas injúrias proferidas contra o Papa. Paulo VI morreu em 1978, aos 81 anos, depois de 15 pontificado, vítima de um edema pulmonar causado, em boa parte parte, pelos dois maços de cigarros que fumava por dia.
3. Inocêncio X
Amante da cunhadaEleito no conclave de 1644, Inocêncio X manteve uma relação com Olímpia Maidalchini, viúva do seu irmão mais velho – facto que lhe rendeu o escárnio das cortes da Europa. Inocêncio X não era, aliás, grande defensor do celibato. Olímpia exercia grande influência na Santa Sé e chegou a assinar decretos papais. A dada altura, o papa apaixonou-se por outra nobre, Cornélia, o que enfureceu Olímpia. Mesmo assim, foi a cunhada quem lhe valeu na hora da morte e quem assegurou o funcionamento do Vaticano quando Inocêncio estava moribundo. Quando morreu, em 1655, Olímpia levou tudo o que pôde da Santa Sé para o seu palácio em Roma, com medo de que o novo Papa não a deixasse ficar com nada.
4. Leão X
Morreu de sífilis. Foi de maca para a própria coroação, por causa dos seus excessos sexuais. Depois de Júlio II ter morrido de sífilis, em 1513 chega a papa Leão X, que gostava de organizar bailes, onde os convidados eram somente cardeais e onde jovens de ambos os sexos apareciam com a cara coberta e o corpo despido. O papa gostava de rapazes novos, às vezes vestia-se de mulher e adorava álcool. “Quando foi eleito tinha dificuldade em sentar-se no trono, devido às graves úlceras anais de que sofria, após longos anos de sodomia”, escreve Frattini. Estes e outros excessos levaram Lutero a afixar as suas 95 teses – que lhe garantiram a excomunhão em 1521. Leão X morreu com sífilis aos 46 anos.
5. Alexandre VI
O insaciável.Gostava de orgias e obrigou um jovem de 15 anos a ter sexo com ele sete vezes no espaço de uma hora, até o rapaz morrer de cansaço. Teve vários filhos, que nomeou cardeais. Assim que chegou ao Papado, em 1431, trocou a amante por uma mais nova, Giulia. Ela tinha 15 anos, ele 58. Foi Alexandre VI quem criou a célebre Competição das Rameiras. No concurso, o papa oferecia um prémio em moedas de ouro ao participante que conseguisse ter o maior número de relações sexuais com prostitutas numa só noite. Depois de morrer, o Vaticano ordenou que o nome de Alexandre VI fosse banido da história da Igreja e os seus aposentos no Vaticano foram selados até meados do século XIX.
6. João XXIII
Violou irmãs e 300 freiras. Não aparece na lista oficial de papas e acabou preso em 1415. O antipapa conseguia dinheiro a recomendar virgens de famílias abastadas a conventos importantes. Mas violava-as antes de irem. Tinha um séquito de 200 mulheres, muitas delas freiras. Criou um imposto especial para as prostitutas de Bolonha. Tinha sexo com duas das suas irmãs. Defendia-se, dizendo que não as penetrava na vagina e que por isso não cometia nenhum pecado. Foi julgado, acusado de 70 crimes de pirataria, assassinato, violação, sodomia e incesto. Entre outros factos, o tribunal deu como provado que o Papa teve sexo com 300 freiras e violou três das suas irmãs. Foi deposto do cargo e preso. Voltou ao Vaticano, anos mais tarde, como cardeal.
7. Bento IX
Sodomizava animais. Chegou a papa em 1032 com 11 anos. Bissexual, sodomizava animais e foi acusado de feitiçaria, satanismo e violações. Invocava espíritos malignos e sacrificava virgens. Tinha um harém e praticava sexo com a irmã de 15 anos. Gostava, aliás, de a ver na cama com outros homens. “Gostava de a observar quando praticava sexo com até nove companheiros, enquanto abençoava a união”, escreve Eric Frattini. Convidava nobres, soldados e vagabundos para orgias. Dante Alighieri considerou que o pontificado de Bento IX foi a época em que o papado atingiu o nível mais baixo de degradação. Bento IX cansou-se de tanta missa e renunciou ao cargo para casar com uma prima – que o abandonaria mais tarde.
8. Clemente VI
Comprou bordel.
Em 1342, com Clemente VI chega também à Igreja Joana de Nápoles, a sua amante favorita. O papa comprou um “bordel respeitável” só para os membros da cúria – um negócio, segundo os documentos da época, feito “por bem de Nosso Senhor Jesus Cristo”. Tornou-se proxeneta das prostitutas de Avinhão (a quem cobrava um imposto especial) e teve a ideia de conceder, duas vezes por semana, audiências exclusivamente a mulheres. Recebia as amantes numa sala a poucos metros dos espaços em que os verdugos da Inquisição faziam o seu trabalho. No seu funeral, em Avinhão, foi distribuído um panfleto em que o diabo em pessoa agradecia ao Papa Clemente VI porque, com o seu mau exemplo, “povoara o inferno de almas”.
9. Xisto III
Violou freira e foi canonizadoObcecado por mulheres mais novas, foi acusado de violar uma freira numa visita a um convento próximo de Roma. Enquanto orava na capela, o papa, eleito em 432, pediu assistência a duas noviças. Violou uma, mas a segunda escapou e denunciou-o. Em tribunal, Xisto III defendeu-se, recordando a história bíblica da mulher que foi apanhada em adultério. Perante isso, os altos membros eclesiásticos reunidos para condenar o papa-violador não se atreveram a “atirar a primeira pedra” e o assunto foi encerrado. Xisto III foi, aliás, canonizado depois de morrer. Seguiu-se-lhe Leão I, que também gostava de mulheres mais novas e que mandou encarcerar uma rapariga de 14 anos num convento, depois de a engravidar.
10. João XII
Morto pelo marido da amante
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
COM A PALAVRA HUGO CASSEL
ENTRE COLUNAS
EDUCAÇÃO
De minha parte tenho sempre repetido que a Maçonaria é a mais fantástica Universi
-dade de Educação Espiritual e moral do planeta. Assim sendo não pode dispensar a idéia de discutir os problemas da sociedade da qual faz parte. Se isso é política, então vamos sim, discutir a política, não só da Educação como qualquer outro setor que envolva os direitos do cidadão. Santa Catarina tem liderado, corajosamente essa missão através do Grão- Mestre Rubem Ricardo Franz (GOSC) , Presidente da COMAB (Confederação Maçônica Brasileira). Em Agosto passado na 84 Assembléia Geral Extraordinária
da COMAB, foi elaborada a “Carta de Recife” onde entre outras coisas são convocados todos os maçons, para que se engajem na ação de melhorar os costumes políticos em nosso país. Vários catarinenses, maçons foram eleitos para a Câmara Federal e Estadual ajuntando-se a outros reeleitos. Diz o Grão Mestre:”- Estes precisam entre outros assumir o compromisso efetivo com a educação e a cidadania e assim consolidar um processo de construção de uma nação livre, onde o povo seja dotado de consciência para escolher o melhor para si e os seus.”-É o recado para Espiridião Amin, Jorginho Melo, Onofre Santo Agostini , Jorge Boeira, Jean Kuhlmann Jose Nei Ascari , e Joares Ponticelli. Mais de 600.000 catarinenses acreditam ter votado certo. O futuro dirá.
TURISMO
Plano Catarina- O plano é um guia que concretiza os desejos e aspirações de todo o setor envolvido com a turismo. Agora é o momento de passar para á ação, colocando o “Plano Catarina” em prática, ou melhor passar do” dito ao feito”-Assim se apresenta o “folder” elaborado pela Secretaria de Turismo, Santur e Funturismo.A visão antecipada é para 2020. Penso que deveria ser já para 2014 quando certamente vai duplicar o numero de turistas. Até lá espero que encontrem em nossa praia central, banheiros decentes, chuveiro, e lava-pés.
FUTEBOL
1-COCHA-(ou será Coxa?) merecida conquista. Espero que tenha aprendido a lição que o AVAÍ esqueceu.2- RENATO PORTALUPI –Conheço desde que o padeirinho jogava
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
COM A PALAVRA, JANER CRISTALDO
VULTUR ROCK
Que juízes brasileiros tenham um encontro num resort de luxo na ilha de Comandatuba, patrocinados por empresas como Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Eletrobras, Souza Cruz, Sindicom e Etco, nada de anormal. É a prova cabal da venalidade do Judiciário no Brasil. Não por acaso, nenhum político de alto coturno, envolvido em mensalão, quebra de sigilos ou tráfico de influência está na cadeia. Absolver a corrupção das altas esferas, esta é uma das funções prioritárias de nossa magistratura.
Cada juiz desembolsará apenas R$ 750, terá todas as despesas pagas (exceto passagens aéreas) e ocupará apartamentos de luxo e bangalôs com diárias que variam de R$
Como dizia Swift, existe “entre nós uma sociedade de homens educados desde a juventude na arte de provar, por meio de palavras multiplicadas para esse fim, que o branco é preto e que o preto é branco, segundo são pagos para dizer uma coisa ou outra”.
Até aí, nada de novo. A prática é milenar. Entre nós, é denunciada quase todos os anos. E ano seguinte se repete. O que me deixou perplexo nas mordomias oferecidas aos meritíssimos foi a programação cultural, se assim podemos dizer, dos eventos. Neste encontro terão show com Elba Ramalho. Em outras ocasiões, a Ajufe (Associação dos Juízes Federais do Brasil) embalou os togados com Jorge Ben Jor e os grupos Titãs e Paralamas do Sucesso. Nossos tribunais estão ocupados, quem diria, por juízes roqueiros. Só faltou uma ervinha para animar o evento. Se é que faltou.
Você consegue imaginar o douto colegiado agitando os braços e rebolando ao som de rock? Se portassem a toga, o efeito seria melhor. Essa, acho que nem o Buñuel conceberia. Temos no Brasil um novo gênero, o rock dos vulturinos.
Que jovens curtam roqueiros, até que se entende. Mas a elite do Judiciário nacional? Homens que têm por função julgar os grandes conflitos da nação aplaudindo bandas vulgares?
Vergonha.
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
CRÔNICAS IMPUDICAS
OS DEUSES SE AMARRAM NOS EPILÉPTICOS
João Eichbaum
Entre os doutos em neurologia, existe respeitável corrente que atribui a religiosidade energumênica a um dos vários tipos de epilepsia.
De fato, consistindo em “alteração da atividade elétrica do cérebro”, várias são as manifestações que a epilepsia pode causar no campo psíquico, assim como no físico. Alucinações, por exemplo. Aí, vem um cara, dizendo que falou com Deus e mostra para um povo escravizado e ignorante, as “tábuas da lei”, hoje conhecidas como “os dez mandamentos”. Ou uma “virgem” que diz ter sido fecundada através de uma simples mensagem do “anjo Gabriel”. Ou um artesão que, ao cair, ouviu a voz de Jesus Cristo: “Saulo, Saulo, por que me persegues?”.
Foi assim que Moisés criou a religião judaica, a “virgem” Maria diz que pariu Jesus Cristo e Saulo de Tarso fundou a maior multinacional de todos os tempos, conhecida como “cristianismo”.
Outro epilético, Muhammad Bin Abdullah Bin Abdul Mutalib Bin Hachim Bin Abd Manaf Bin Kussay, conhecido entre nós como Maomé, não ficou para trás. Plagiando as alucinações de Moisés e da “virgem” Maria, vendeu para uma multidão de ignorantes a imagem de interlocutor de Deus, missão que teria recebido diretamente do anjo Gabriel.
Da “virgem” Maria nenhum narrador fala de manifestações físicas. Mas, Saulo de Tarso caiu por conta de um ataque epiléptico, Moisés ficava “rubro, ao descer do Sinai” e Maomé era freqüentemente “tomado pela dor e experimentava barulhos altos nos ouvidos”. Além disso, “gotas de suor brotavam nele, mesmo nos dias mais frios”, segundo afirma Christopher Hitchens em “God ist not Great”.
Bem, agora me diga. Você acredita que alguém que tem quatorze mulheres e, além disso, toma como “noiva” uma menina de seis anos de idade, alguém que prega a morte de quem não acredita em Alá, possa ser uma pessoa normal?
Pois Maomé, o epiléptico, o polígamo, o pedófilo, o assassino de incréus, por incrível que pareça, até hoje domina grande parte do mundo. A impressão que se tem é de que, para os muçulmanos, mais importa ele do que o próprio “Alá”.
Meses atrás, acusada adultério, uma mulher, depois de muitas chibatadas, foi condenada à morte por apedrejamento. Seu suposto parceiro ficou impune. Na semana que passou, um juiz, no Paquistão, condenou à morte, por enforcamento, uma mulher, não militante do islamismo, a quem muçulmanas atribuíram “comentários depreciativos sobre Maomé”. Tal atitude configura o “crime” de blasfêmia.
A força de qualquer religião tem como terreno fértil a incapacidade de pensar, a incapacidade de construir um silogismo. É por isso que todas as religiões nascem, crescem e enriquecem, sustentadas pela patuléia.
Poucos têm a coragem de contestar aquilo que se arraigou profundamente na mente do povo: que Deus existe e se manifesta por meio de sacerdotes e profetas. Até mesmo pessoas de certa cultura sofrem restrições de pensamento e abominam a lógica, quando se trata de idéias e conceitos que lhes foram incutidos e lhes governam pensamento, desde a infância.
É por isso que as aberrações, fruto exclusivo da ignorância, como acontece no Paquistão, no Irã, na Arábia Saudita, ainda estão na ordem do dia do primata humano. Enquanto houver papas e aihatolás, enquanto o mundo for dominado por líderes que se têm como executores de ordens divinas, ou acreditam em algum deus, tipo Alá, que só permite o adultério de machos e preserva, como divinos, seus epilépticos profetas, o ser humano será subjugado pelo medo.
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
CRÔNICAS GULOSAS
PAULO WAINBERG
Twitter.com/paulowainberg
Melhor ser gordo do que magro, disso não tenho dúvidas.
Veja o caso do Osmar, correspondente de Haroldo, que não responde nem corresponde. Sempre foi gordo e aos sessenta e cinco, possui uma gloriosa e feliz vida de gordo.
Jamais alguém chegou para ele e disse:
– Poxa, Osmar, como você engordou!
Nunca!
Porque os gordos já são gordos, portanto não engordam. Sua aparência é a mesma, não surpreende, não gera sobressaltos, não muda.
Já Haroldo é um caso diferente. Magro histórico, mal aprontou uma barriguinha, por volta dos quarenta, e começaram os comentários:
– Você viu o barrigão do Haroldo?
– O que há com esse rapaz, que não se cuida?
– Cruzes, o Haroldo parece uma melancia!
Triste sina, a dos magros: eles engordam.
Não há magro que, por volta dos quarenta, não comece a engordar.
Até então ele comia de tudo, nunca se preocupou com regime, nunca se privou de bebidas, churrascos, massas, não precisava correr, caminhar, fazer exercícios torturantes, as palavras caloria e academia não têm significado algum, para o magro. Seu exercício físico era um futebolzinho leve, com amigos, nos sábados.
Subitamente ele faz quarenta e, como se tivesse sido vítima de um terrível sortilégio, uma maldição sobre ele lançada pela irmã malvada da mãe dele, uma bruxa na opinião do pai dele e, casualmente, sua madrinha, surge-lhe a barriga, arredondada, protuberante, a apertar-lhe as calças e abrir-lhe botões da camisa.
Ele não fez nada diferente, mas a barriga surge.
E, com ela, os comentários.
Magro que tem convicção e força de vontade, se preocupa.
E graças a essa preocupação, busca providências que, ao meu honesto sentir, serão causa determinante do aumento de sua gordura.
Vai ao nutricionista que, após a pesagem, medição e outras mumunhas, sentencia:
– Você, meu querido magro, para continuar magro tem que mudar seus hábitos.
Dita assim, com tal singeleza, o magro não se assusta. Afinal, mudar os hábitos não deve ser coisa muito difícil, dependendo dos hábitos.
Ele imagina que vai mudar a hora do banho, que terá de dormir só com um travesseiro ou, no máximo, parar de ler o jornal no banheiro. Fácil, fácil.
Porém, a nutricionista continua, com aterrorizante candura:
– A primeira coisa a fazer são os exercícios físicos. No mínimo uma hora de caminhada, três vezes por semana. Você pode caminhar no parque tal, na praça qual, você pode entrar numa academia e caminhar na esteira. Isso vai acelerar o teu metabolismo, magro, que diminui a partir dos quarenta.
Como assim, caminhar três vezes por semana? Pensa o magro, uma vestígio de pânico mudando o ritmo de sua respiração. Ela está querendo que eu enfie calção e tênis e saia à caminhar pela cidade? Ela deve estar louca, a que horas vou fazer uma coisa dessas, principalmente eu, que odeio caminhar?
– A melhor hora para a caminhada é bem cedinho, de manhã. Magro, o ideal é você iniciar a caminhada às sete. Pelas oito você está em casa, toma um banho e vai para o café da manhã, cujos ingredientes vou escrever aqui, nesta receita.
Sete da manhã? Ela quer que eu, às sete da manhã, esteja caminhando, de calção e tênis? A última vez que eu vi o dia, às sete da manhã, foi na volta da balada. Não, às sete da manhã nem pensar, às sete da manhã estou no melhor sono.
– Você pode, também, caminhar no fim da tarde, magro. Sai do trabalho e vai caminhar na praça. É uma delícia, principalmente no verão. Você vai adorar.
Decididamente, essa mulher não regula. Ela quer que eu vá caminhar de sapatos, terno e gravata? Ou ela pensa que eu vou em casa trocar de roupa? Com o trânsito desse jeito, até eu fazer isso já é noite fechada. Vai ver, ela quer que eu encerre o expediente às quatro da tarde. E aí, será que ela vai pagar as contas lá de casa?
– Não, magro, você pode trocar de roupa lá no seu trabalho.
Sei, sei. Trabalho num edifício onde trabalham quinhentas outras pessoas. Aí eu tenho que andar com uma sacola para lá e para cá. Termina o expediente, vou a banheiro, tiro a roupa que, do jeito que der, enfio na sacola, visto meus calções e tênis e assim trajado, entro no elevador lotado, percorro os caminhos do prédio, alvo dos olhares maliciosos das mulheres e de alguns rapazes...
– Agora, magro, vamos à alimentação. No café da manhã, meia xícara de chá sem açúcar e sem adoçante. Uma fatia, bem fininha, de ricota. Pode ser duas. Um lanche às dez, pode ser uma fruta, por exemplo, duas uvas, meia ameixa, maçã jamais! Pêra também não. No almoço, bastante salada, verdura à vontade, não coma verduras cozidas, meia colher de sopa de arroz ou de massa, e uma fatia de carne magra, bem fina. Não beba nada durante o almoço, no máximo água, sem gás. Como sobremesa você pode comer gelatina dietética, uma colher de sopa no máximo. E nada de cafezinho. O lanche da tarde pode ser um iogurte diet., tem vários sabores, é muito gostoso. No jantar, que não pode ser depois das sete, meio prato de salada verde, duas fatias de ricota e grãos, sabe grãos, magro? Soja essas coisas. Se estiver acordado às dez, faça um lanche, sugiro um rabanete sem sal. Pode variar, numa noite um rabanete, na outra uma fatia transparente de melão. Se você gostar, pode ser gelatina também, dietética, é claro. E mais uma coisa: o sal está abolido da sua vida e bebida alcoólica é uma sentença de morte.
O magro está paralisado. Todos os seus músculos contraídos, o coração parece o estouro da boiada e só consegue pensar numa coisa: meu mundo caiu!
A nutricionista, com sua perversa benevolência, conclui a consulta:
– Olha, magro, não precisa emagrecer com sofrimento. É só uma questão de disciplina. Por isso recomendo aos meus cliente que, num dia da semana, à escolha deles, comam uma bola de sorvete de abacaxi dietético, muito saboroso e, ainda por cima, faz bem aos intestinos.
Haroldo sai de lá com um aperto dramático no coração. A vida, tal como era neste planeta, nunca mais será a mesma.
Antes de entrar no carro, toma a decisão de seguir rigorosamente as instruções da nutricionista. E começa.
Dia seguinte, fim de expediente, entra no banheiro do escritório e farda-se com seus calões largos, camiseta e tênis. Calças, casaco, camisa, meia, cuecas, sapatos e gravata estão acondicionados, de jeito que deu, na sacola.
Sai para o corredor, olhando para os lados, um rubor furiosos nas faces. A primeira pessoa que encontra é Clarinha, a morena da expedição com quem, há algum tempo, tenta iniciar uma paquera.
Clarinha olha Haroldo, pernas finas, barriga redonda marcada pela camiseta e não se contêm:
– Nossa, doutor. Haroldo, o senhor deu uma boa engordada, hein?
Nos primeiros três dias ele cumpre religiosamente o tratamento e, a partir do quarto, ingressa definitivamente na estrada sem retorno do engorde.
Abandona o regime e as caminhadas e finge que nada está acontecendo.
Os anos mostrarão que, sejam quais forem as tentativas futuras, ele nunca mais terá o mesmo peso e o mesmo corpo que tinha antes dos quarenta.
Haroldo, o magro, vai compreender o significado ilimitado da expressão ‘passar privações’.
Os gordos não.
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
COM A PALAVRA, JANER CRISTALDO
Em meus dias de juventude, sempre imaginei que comunismo fosse coisa da China, União Soviética, Vietnã, Cuba, coisas assim. Ou ideologia de meus colegas de faculdade. Foram necessários muitos anos para descobrir que o Brasil era, majoritariamente, comunista. Chez nous, o fundo do ar era vermelho. Estamos cercados de pessoas que sequer sabem o que é marxismo, mas pensam como marxistas, agem como marxistas, votam como marxistas. Não por acaso, o país elegeu como presidente uma velha marxista impenitente. Sim, temos, como diz a imprensa, a primeira presidente mulher do país. Mas isto é o de menos. O mais surpreendente é que temos o primeiro presidente comunista do Brasil. Isso decorridos vinte anos da queda do Muro de Berlim, da dissolução da União Soviética e do desmoronamento do comunismo. Vanguarda no Terceiro Mundo é assim mesmo.
A vida é uma caixinha de surpresas. Não bastasse ter descoberto que vivo num país comunista, percebo agora que vivo num país roqueiro. Sempre imaginei que rock era uma modinha passageira de meninos que adoravam puxar um fumo enquanto se sacudiam ao ritmo de músicas ianques ou por aí. Estava completamente enganado. Quarenta, cinqüenta ou mais anos após a emergência do rock, o país continua roqueiro. Pelo jeito, cometi grave heresia ao escrever que não gostava do gênero. Até a Primeira-Namorada, lá de Londres, chiou:
Ai, pai! Rock não é doença, não! Senão eu já teria conseguido te passar...Ninguém é obrigado a gostar só de opera ou mariachis. Nao sou fã de Paralamas do Sucesso ou Titãs, mas gosto de varias músicas deles. Não tô querendo sair em defesa de bandas que hoje não me dizem muito, mas tenho certeza que tu criticas sem nunca ter ouvido nada deles. Não acho que irias gostar, mesmo assim. Só que me parece muito mais uma questão de costume. E o rock propriamente dito surgiu por volta da década de 1950. Ou seja, já não é mais uma "coisa de jovem". Pessoas que gostavam de rock naquela época, provavelmente ainda gostam. Muitas já são sexagenárias...Deixo aqui meu protesto contra teu post!
Isa querida, nunca disse que rock é doença. Tampouco pretendo que as pessoas gostem de ópera ou mariachis. Jamais afirmei isto. Cada um com seu cada qual. Apenas não gosto de rock. São coisas que não me interessam ouvir. Nada que atraia multidões me interessa. Acho ridículo sexagenários se pretendendo jovens. É essa gente de cabelo branco, com rabinho de cavalo. A meu ver, não amadureceram. Um velho curtindo rock para mim é tão ridículo quanto um velho puxando fumo. “Envelheçam, jovens, envelheçam. Antes que seja tarde” – dizia o Nelson Rodrigues. Sexagenário eu também sou e rock não me diz nada. Nunca me disse. Sem falar que sou imune a muitas doenças do século passado.
Outro leitor, colega de coluna do Baguete, me contesta:
O primeiro item que notei neste artigo foi a afirmação "Slogans não provocam revolução alguma, apenas servem para conduzir fanáticos". Em suas colunas, Janer Cristaldo sempre critica comportamentos que ele considera fanatismo. Em uma rápida busca no próprio site do Baguete, ao procurar pela palavra "fanático" retornaram 11 colunas recentes deste autor.Ao criticar tanto o fanatismo, Janer Cristaldo realiza o que se chama na psicanálise de projeção. Ao negar tão veementemente a opinião alheia, ele acaba por se tornar um fanático contra fanáticos, projetando seus anseios e sentimentos na contra-opinião de seus semelhantes. Acredito que para ser um bom escritor, o autor precisa respeitar e considerar a opinião alheia, procurando ser o mais aberto possível.Ora, meu caro, você encontrou apenas onze vezes a palavra fanático? Busque então por islamismo, cristianismo, marxismo, Paris, Estocolmo ou Madri. Vai encontrá-las repetidas muito mais vezes. Estarei projetando algum anseio ou sentimento na contra-opinião de meus semelhantes, ao falar de islamismo, cristianismo, marxismo, Paris, Estocolmo ou Madri?Pelo jeito, você é chegado à psicanálise. Receba minhas condolências.
Respeito e considero a opinião alheia. Disse eu alguma coisa contra quem gosta de rock? Não disse. Apenas deixei claro que eu não gosto e nunca gostei - direito meu - e afirmei que os Beatles foram os grandes apologistas da droga no século passado. Disse algo errado? Todo show de rock sempre foi sinônimo de drogas. Sob o olhar complacente da polícia.
Outro leitor me fala de um amigo que chegou a meus textos através dos Beatles:
Esse meu amigo vinha de família católica tradicional. Com o tempo, contudo, de tanto ouvir Imagine, God e outras letras dos Beatles (coisas feitas principalmente pelo John) ele começou a ficar curioso por discutir o assunto. Dessa curiosidade, que baixou as defesas iniciais desse amigo, introduzi ele a gente de leitura tranqüila feito o Dawkins e o Harris. Depois de mais algum tempo, começou a ler Nietzsche e se tornou leitor e fã assíduo teu, Janer. Vinha animado comentar alguma nova polêmica tua ou citar algum argumento teu nas nossas discussões during the lunch break. Não parou por aí. Influenciado por ti, começou a ler Dom Quixote, introduziu o pai a Cervantes e tudo o mais. Nada disso, em todo caso, teria acontecido não fossem os Beatles lançarem o germe desse espírito de curiosidade, questionamentos e romantismo nele.
Pode ser. Mas diria que chegou até mim por ínvios caminhos. Até pode acontecer que a letra de uma canção desperte alguma curiosidade intelectual. Mas canções não levam a pensamento. Se assim foi, o rapaz em questão, apenas por acaso, chegou a meus textos. Só o que faltava os Beatles induzirem à leitura de algo mais profundo. Foi um equívoco que acabou dando certo. Acontece. Continua o leitor:
Quem dá solidez a uma revolução são os livros. O povo, contudo, é imbecil ou preguiçoso, portanto não lê. Coisas simples como músicas, penso eu, são necessárias para inspirá-lo e movimentá-lo. A diferença nos Beatles é que eles serviam tanto para inspirar as massas como para aqueles que queriam ou querem ir um pouco mais longe. Não é incomum você estar no bar com amigos e alguma música deles dar início a uma conversa que vai começar na guerra do Vietnã e terminar numa discussão um pouco mais acalorada envolvendo Marx e o conceito de “guerras justas”.
Vá lá! Mas eu muito discuti a guerra do Vietnã e Marx em minha juventude – e perdi não poucos amigos por tais discussões – sem jamais ter passado por cançonetas de britânicos. Ora, eu não gosto de rock nem de brócolis, nem de coca-cola ou Chico Buarque. Muito menos de Machado de Assis. Será pecado não gostar de algo?Mas o melhor está por vir. Um outro leitor me escreve: “Janer, aqui no RS tem uma banda de rock só de juízes, chama-se "The Judges". No youtube tem vários videos deles tocando”.
Bom, ça me dépasse. Morro e não vejo tudo. Uma banda de rock chamada The Judges só pode ser coisa de tupiniquim deslumbrado com o universo ianque. Duvido que magistrados montem bandas de rock nos Estados Unidos ou Reino Unido. Juízes tocando rock? Pelo jeito, os meritíssimos não conseguiram escapar da adolescência.Que o bom deus dos ateus me livre de suas alçadas.
Meu bedelho: assino em baixo.
João Eichbaum
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
ESSE CIRCO CHAMADO JUSTIÇA
É PROIBIDO SER MACHO
João Eichbaum
A coisa ta feia, neste país, por causa de falta de hermenêutica.
Olhem só, tempos atrás o Supremo Tribunal Federal condenou, com votos do Nelson Jobim e da Elen Gracie, um senhor que havia publicado livros, nos quais levantava dúvidas sobre o “holocausto”judeu. Por crime de racismo, esclareça-se. Como não havia outra forma de configurar o delito, senão conceituando os judeus como “raça” e não como povo, os ministros, com exceção de Celso de Mello, saíram por aí: os judeus não são um povo, mas uma raça.
Sem negar minhas raízes genealógicas e tendo grandes amigos, que mais considero irmãos, de origem judaica, me sinto à vontade para criticar a decisão do Supremo.
Nenhum dos ministros, diga-se de passagem, buscou explicação no vernáculo para essa artificiosa conclusão. Buscaram e rebuscaram filósofos, sociólogos estrangeiros. Mostraram que não conhecem etimologia, nem hermenêutica, ignoraram o vernáculo e aplicaram a analogia em direito penal. Em suma, estacionaram nos louros da toga e esqueceram primárias lições de direito.
Pelo que ouvi dizer, atualmente, isto é, anos depois daquele julgamento, está tramitando um projeto que considera crime a negação do holocausto.
Com que cara ficarão aqueles ministros do STF?
Agora, parece que o Ministério Público, seguindo a mesma trilha, nada sonora, dos referidos ministros, está decidindo o seguinte: o pessoal do nordeste é uma raça. E em razão disso será processado por crime de racismo quem debitou aos nordestinos a eleição da Dilma.
Dentro desse contexto, está a seguinte notícia que acabo de receber:
O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aplicou ao juiz de Sete Lagias (MG), Edilson Rodrigues, a punição de afastamento, durante dois anos, por machismo. O juiz, que chamou a Lei Maria da Penha de um “monstrengo tinhoso”, já negou vários pedidos de medidas de proteção a mulheres que foram ameaçadas e agredidas por homens. Em uma das sentenças, escreveu coisas do tipo: “A desgraça humana começou no Éden: por causa da mulher”. Ele também foi o autor da frase em que diz que “o mundo é e deve continuar sendo masculino, ou de prevalência masculina, afinal. Pois se os direitos são iguais – porque são – cada um, contudo, em seu ser, pois as funções são naturalmente diferentes”.
O relator do processo, o ministro Naves já tinha se pronunciado a respeito, afirmando que a atitude do juiz é análoga à do crime de racismo. Ou seja, ele confunde “machismo” com “racismo”.
Não sei em quê é que se amarra o senhor Naves, em matéria de sexo – se é que se amarra em alguma coisa. Mas tenho certeza de que ele desconhece princípios rudimentares de hermenêutica jurídica. O processo a que responde o juiz é de natureza punitiva. Em se tratando de punição, a analogia é banida, como regra fundamental. Assim como no direito penal é inaplicável a analogia, também no processo administrativo, de natureza punitiva, ela não pode ser aplicada como razão de decidir.
Naves fora os desconhecimentos de hermenêutica do ministro, desse processo se tira a seguinte conclusão: ninguém mais, neste país, pode ser macho e se afirmar, como tal, com todas a letras. “Machismo” é como “racismo”, segundo o ministro. O cara tem que se desapegar do essencial. É proibido ser macho, e ponto final.
Viram no que dá não conhecer hermenêutica e vernáculo?
Mas, se conhecessem melhor o vernáculo, os juristas deste país poderiam sugerir ao Congresso uma lei que, ao invés de “crimes de racismo” contemplasse os “crimes de discriminação étnica, racial, social, sexual e de naturalidade”.
E aí, sem hermenêutica e sem analogia, pau em todo mundo. E se alguém fosse chamado de “viado pelotense”, por exemplo, poderia processar o ofensor, por tê-lo chamado de “pelotense”.
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
COM A PALAVRA, JANER CRISTALDO
João Eichbaum
APOLOGISTA DA DROGA VENDE BEM NO BRASIL
Decididamente, eu vivo fora deste insensato mundo. Leio no Estadão que nestas duas primeiras semanas de novembro - com eventos tão díspares como Fórmula 1, Salão do Automóvel, Mostra de Cinema e shows do Black Eyed Peas, Jonas Brothers e Eminem -, São Paulo vai receber 400 mil turistas, o equivalente a toda São José do Rio Preto, que devem movimentar nada menos do que R$ 385 milhões na economia da cidade. É, de longe, o melhor momento para o mercado do turismo paulistano, que já cresceu 30% neste ano.
Que vem fazer em São Paulo esta gente toda? Fórmula 1 e Salão do Automóvel até sei o que é, mas jamais me ocorreria a ir a algum desses eventos. Até hoje não entendi que tipo de ser humano vai a uma corrida de Fórmula 1. Os carros passam voando onde está o espectador, ele vê só um risco à sua frente. Se ficasse em casa, olhando a televisão, poderia ter uma visão geral da corrida.
Quanto a cinema, confesso que ainda curto. Mas uma preguiça abissal me impede de sair de casa. Deve ser coisa da idade. Há muito desisti de ler ficções e cinema também é ficção. Prefiro catar algum filme interessante na televisão nas madrugadas. Com os televisores de última geração, se pode ter bom cinema em casa sem ter de ouvir gente comendo pipoca.
Quanto a Black Eyed Peas, Jonas Brothers e Eminem, não tenho a mínima idéia do que se trata. Me espanta que tenham público em São Paulo. Vivo fora desse mundo. Lembro que há uns vinte anos, uma sobrinha veio do Rio Grande do Sul para ver um show de um tal de U-2. Que é isso? – perguntei. Ela se escandalizou. Eu, jornalista, não sabia o que era o U-2? Não sabia, não. E não sentia falta alguma por não saber.Sei que são coisas que atraem multidões. É o máximo que sei. Ora, abomino multidões. A multidão máxima que admito é o público de uma ópera. Em verdade, não é bem o que se chama de multidão. E muito menos é uivante. Quando vejo na televisão uma massa de jovens balançando as mãos erguidas, não noto diferença alguma das multidões que saudavam Hitler, Stalin ou Kim Il Sung. Ou o papa. Dá no mesmo. Psicologia de rebanho.
Assim sendo, confesso não entendo essa histeria toda em torno a um cantor septuagenário que está no Brasil, o tal de Paul McCartney. Que se apresenta hoje, em Porto Alegre. Este sei quem é, mas nada me diz. Seguido tenho ácidas discussões com um amigo, para quem os Beatles foram revolucionários. Revolução onde? Meu amigo empunha uma canção de John Lennon:
Imagine que não há paraíso
Isso é fácil se você tentar
Sem inferno abaixo de nós
Acima de nós só o céu
Imagine todas as pessoas
Vivendo pelo hoje
Imagine que não há países
Isso não é difícil de fazer
Nada para matar ou morrer por
E sem religião também
Imagine todas as pessoas
Vivendo pelo hoje
Ora, não venha alguém me dizer que uma letrinha vagabunda dessas provocou alguma revolução. Slogans não provocam revolução alguma, apenas servem para conduzir fanáticos. Não foi a Marselhesa que provocou a Revolução Francesa. O hino serve apenas para excitar ânimos. Revoluções surgem de idéias, de pensamento, não de cançonetas. Não é cantando que não existem infernos (mas paraísos existem) que vamos lutar contra o obscurantismo. Lutar contra religiões exige pensamento, não letrinhas de grupos de rock. Mas é claro que ler um ensaio filosófico cansa mais que cinco minutos de musiquinha.
Imaginar um mundo sem religião é besteirol de adolescente, que ainda não descobriu que a humana estupidez é eterna. Dizem que os Beatles influenciaram minha geração. Se assim foi, eu a ela não pertencia. Sou mais Pedro Raimundo, Inesita Barroso, Miguel Aceves Mejía, Jorge Negrete. Não que tais cantantes tenham me influenciado. Eles me ofereciam música, não ideologia.
Nunca entendi multidões de jovens curtindo canções em língua que não entendem. Qual o percentual desse público que vai ver McCartney entende inglês? Duvido que cinco por cento. Ok, eu gosto de Kalinka, sem entender russo. Gosto do ritmo. Adoro músicas folclóricas, mesmo em línguas que não conheço. Mas folclore nasce de povo. Nada a ver com música mercenária, feita para vender. Jamais veremos multidões fanáticas, com gestos uniformizados, curtindo Kalinka.
Os Beatles fizeram fortuna com seus apelos comerciais. Claro que não escapei de ouvir suas canções, mas elas nada me disseram. O grande legado de Paul McCartney e John Lennon, a meu ver, é a apologia das drogas. Era uma bandeira respeitável nos anos 70. Os Beatles foram os grandes agentes do LSD, cocaína, maconha e congêneres. Hoje, algumas mentes brilhantes estão concluindo que quem consome drogas financia o tráfico e o crime. No entanto, continuam lotando estádios em homenagem aos apologistas da droga.Tenho boas amigas, de minha geração, que vão ver o beatle macróbio. A elas, minhas desculpas. Mas não posso deixar de dizer o que penso. Terá McCartney estádios lotados, hoje, na Inglaterra? Duvido. Veio ao país dos botocudos faturar os restos de prestígio que lhe resta. Mais ou menos como aqueles chefs franceses, cujos restaurantes em Paris vivem às moscas. Mas encontram uma clientela ingênua para vender seus peixes caríssimos no Brasil.
terça-feira, 9 de novembro de 2010
COLUNA DO PAULO WAINBERG
O DIA SEGUINTE
PAULO WAINBERG
Twitter.com/paulowainberg
“Tempos modernos, ok. O ex-presidente da Vale do Rio Doce, durante o período da ditadura, não podia imaginar que geraria o maior empresário brasileiro dos tempos modernos. Todos admiram e invejam a genialidade de Eike Batista, só se fala nele hoje, nos tempos modernos. Um verdadeiro gênio. Os filhos do ex-ministro das comunicações Mendonça de Barros, nos tempos modernos, constituíram a maior corretora do Brasil e se tornaram imbatíveis, nos mercados de renda variável, principalmente nos difíceis mercados de índices futuro. Só olharam para seus movimentos nos tempos modernos, com admiração e inveja. Verdadeiros gênios. O ex-Presidente FHC só descobriu as imensuráveis qualidades de seu filho, na arte e comercio internacional de feiras e congêneres, depois de assumir o cargo. Só se fala nele, com admiração e inveja, nos tempos modernos. Um verdadeiro gênio, sem falar de seu genro, autoridade incomum no campo do petróleo. Verdadeiros gênios. Finalmente, sem surpresa, o filho do presidente Lula, antes simples bancário. Um gênio, realmente, com aptidão singular na fabricação e comercialização de jogos eletrônicos, sem falar de sua enorme visão micro e macro econômica. Claro, temos ainda, nos tempos modernos, os geniais Senadores da república, cujo patrimônio, após assumirem o cargo, aumenta de forma exuberante. São gênios com tempo certo para se revelar. Todos ricos, podres de ricos, milionários, graças ao Brasil, na verdade um país de gênios. O que se precisa é dar oportunidade para que possam acordar. Acordem, futuros Gênios.” (Arthur Wainberg)
O texto acima foi enviado por meu irmão, Arthur Wainberg, e é de uma lucidez absoluta. Ele constata que, basta alguém assumir cargos de mando e poder, para que seus familiares revelem notáveis qualidades para amealhar fortunas.
É tão vergonhoso o que acontece neste País, tão escancarado e tão impune, que a imprensa noticia, as pessoas se escandalizam e... nada acontece.
Os fatos narrados pelo Arthur são de envergonhar o dono da padaria, a faxineira lá de casa, o meu proctologista, sei lá, o Sarney e o Renan, talvez?
Por acaso a prole de Dilma irá revelar dotes de genialidade, até agora cuidadosamente ocultados como um terrível segredo de família?
Sim, porque os outros gênios apontados foram obrigados, pobre deles, a esconder seus notáveis dotes por longos anos, mostrando-se ao público como pessoas comuns, membros da média, exercendo suas atividades funcionais como se fossem um qualquer.
Imagino as noites terríveis que passavam, escondidos nos seus quartos, elaborando projetos extraordinários que não podiam revelar, afinal seus pais ainda não eram presidentes de nada nem ministros ou míseros senadores da república.
Horas e horas, semana após semana, sentados diante dos psiquiatras, analisando suas inconformidades:
– Por que papai não deixa eu me mostrar? Por quanto tempo ainda vou ter que esperar, até que ele seja Presidente?
E o psiquiatra, impassível e amorfo:
– O que você pensa sobre isso? Sua revolta não será porque é ele quem dorme com sua mãe?
Como diz o ditado, quem espera sempre alcança. Finalmente seus pais presidiram, e eles puderam revelar ao mundo a qualidade superior que os transformou, rapidamente, em gênios empresarias e, logo, milionários.
Hoje, no dia seguinte ao pleito que elegeu Dilma, novos governadores, deputados e senadores, veremos surgir no Brasil novos gênios, até agora ocultos?
Quantos filhos falsamente medíocres alçarão vôo em negócios internacionais, empreendimentos fabulosos, projetos mirabolantes, cultivados como fermento do patrimônio familiar?
Honestamente falando, espero que nenhum. Mas não levo muita fé em meu desejo, sendo as coisas, neste País, do jeito que são.
No dia seguinte às eleições, a sensação é de que nada mudou. Dilma alardeando seus compromissos fundamentais, suas missões prioritárias e sua contensão tributária.... e já pondo, na pauta das metas governamentais, a recriação da CPMF.
Tudo igual, igualdade como nunca antes se viu, neste País.
José Serra, alegre, sorridente, feliz e aplaudido como se tivesse ganho a eleição, afirmando, de novo, que está apenas começando, que está no início da luta, numa ameaça implícita de que pretende, ai de nós, concorrer de novo a Presidente.
O PMDB, o partido mais corrupto deste País, o partido que deu sustentação política à ditadura, correndo alucinado em busca dos cargos, principalmente os do segundo escalação, onde a vida é mais fácil, menos pública e a roubalheira corre solta.
No PT, os velhos comanches erguem a voz, o primeiro deles, que ouvi falando no rádio segundos após o resultado, José Dirceu, velho de guerra. Ávido pelo poder e seus benefícios.
O nordeste se defende das acusações do leste, sudeste e sul, de ser boiada de Lula e seus bluecaps, Sarney e seus asseclas, Renan e seus marimbondos, mesmo que seja.
A única notícia boa é que Collor não se elegeu nas Alagoas.
Em suma, um dia seguinte exatamente idêntico ao dia anterior.
Por isso, com pesar, constato que meu irmão tem razão. Chegou a hora e, como ele diz, acordem, futuros gênios!!
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
COM A PALAVRA HUGO CASSEL
A CARA DA COROA
Na quarta feira que passou o Presidente Lula “já vai tarde”, deu junto com Dilma a primeira entrevista coletiva. Na ocasião entre outras besteiras que não pretende interferir nas decisões da sua ‘afilhada”, porque da mesma forma que o seu governo teve a sua cara, (de pau), assim o governo de Dilma deve ter a cara dela. Estamos, depois de 8 anos de vergonha, pelos vexames nacionais e internacionais que nos fez passar “O cara”, em véspera de agüentar mais quatro pelo menos, o “pavio curto” da “Coroa”. Além de não se saber qual a verdadeira cara da nova Presidente. Reportagens na TV, Globo e Record, mostraram pelo menos 8 fotos e filmes de Dilma Rousseff desde sua infância. inclusive uma , onde ela aparece com a família ainda na Bulgária, aparentando 2 anos de idade. Como foi divulgada uma certidão de nascimento naquele país, posso crer que tenha sido naturalizada brasileira .Esses dados pessoais até agora não foram desmentidos. Pelo contrario.Dilma não nega sua origem e até tem mandado dinheiro para a família, que aguarda uma visita da Presidente. Surge então a pergunta do curioso aqui: Como é que o pai de Dilma, oriundo de família pobre, fugindo para o Brasil, ficou rico em Minas, podendo criar Dilma com todo conforto nos melhores colégios? Ainda mais: O Peter Roussev que passou a se chamar Pedro Roussef teria deixado a mulher grávida de oito meses na Bulgária, para onde nunca mais voltou e do seu casamento no Brasil com a brasileira tiveram três filhos inclusive Dilma.Historia familiar um tanto nebulosa como se vê. A personagem, que aparece na foto da ficha do exército, como terrorista e guerrilheira, nada tem a ver com as outras na sua escalada política, com Brizola, seu “descobridor”, com Alceu Colares, Como Secretária de Energia, na Petrobras, Itaipu, Ministra de Minas, Ministra da Casa Civil, Candidata, com óculos, sem óculos, cabelo curto, peruca, e varias outras caras até chegar a essa que ostenta agora, construída com silicone a butox. Na verdade o Brasil não sabe a verdadeira cara de sua próxima Presidente. O certo é que não é essa que no momento estamos vendo, quando desaparecer o sorriso forçado de “campanha” e o desempenho teatral de mulher emotiva, mãe carinhosa, e outras baboseiras que fez crer aos incautos.O José Serra pelo menos teve sempre aquela cara que se não agrada alguém, pelo menos, é a única que ele tem mostrado. Foi por isso que votei nele. A “sargentona” que receberá a faixa no dia primeiro de Janeiro, é diferente daquela que o Brasil conheceu até aqui. As palhaçadas de Lula que divertiram o eleitorado terminaram; Não esperem nada parecido com a “Didi carabina”. Quem viver verá.
PROMESSAS
Embora a cada eleição os candidatos prometam céus e terras, não cumprem nem a metade. Ainda assim milhões de bobos se deixam levar pela lorotas. 6000 creches em 4 anos Dilma? São no mínimo 3 inaugurações por dia, inclusive sábados e domingos. Vais ter que, assumir, e sair correndo. Vais erradicar a pobreza? To loco pra deixar de ser um jornalista pobre: e curioso para ver como é que funciona uma nação que só tem rico.Que maravilha! Em toda parte que for só encontrarei colegas ricos, para conversar enquanto almoçamos em Restaurantes 5 estrelas, bebendo champanhe Don Perignon e Veuve Clicot! Discutindo alegremente sobre futebol, e mulheres! Mal posso esperar pelo “novo Brasil” sem essa raça nojenta que é o pobre.Mas eis que me assola uma duvida: Quem vai servir nosso faisão recheado com trufas? Nosso patê de “foágras” ? Quem recolherá nosso lixo se os garis também estão ricos e sentados ao nosso lado? Mamãe Dilma!!!!! Socorro !!!!
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
CRÔNICAS IMPUDICAS
João Eichbaum
Ano passado, o Ministério Público federal denunciou administradores de alto coturno, entre os quais a governadora Ieda Crusius. Os procuradores da república foram para os jornais, fizeram alarde, deram entrevistas e um deles, ostentando um ar de quem é dono do mundo, se saiu com essa frase brilhante, profunda, recheada de filosofia jurídica, que mostra seu nível intelectual: “não vai ter moleza para os réus”.
Depois de toda aquela pantomima, na qual a juíza de Santa Maria tomou parte, recebendo a denúncia com fogos de artifício, rojões, holofotes, jornais, televisão, rádios, fora dos autos, naturalmente, hoje não se fala no processo. A governadora foi afastada do processo, e saiu lépida e faceira, deixando o resto da turma entregue ao Ministério Público. Que, diga-se de passagem, desde então desapareceu das manchetes.
Outro dia, uma promotora de justiça estadual convocou a polícia para deter um trabalhador, um caminhoneiro que havia atropelado duas galinhas. E pediu a instauração de processo, claro, por assassinato de galináceos. Também, coitada, não conhece latim e por isso ignora que “de minimis non curat pretor” (a justiça não ta nem aí pra porcarias, ou galinhadas).
Semana passada o Ministério Público federal, que andava fora das manchetes, resolver aparecer, desta vez para exigir solução para a ponte do Guaíba. Não se tem notícia de que alguma solução concreta tenha sido encaminhada. Dois dias depois, a ponte estava empacada de novo. E o Ministério Público federal não deu, nem pediu explicações.
Agora, o Ministério Público resolveu vir para o picadeiro novamente: interditou as obras da BR 101, de vital importância, tanto para o escoamento da produção, como para as vidas humanas que frequentemente são ceifadas numa estrada sem as mínimas condições de segurança.
Mas o Ministério Público “do trabalho” resolveu tomar as dores dos operários e se invocou com a falta de “cinto de segurança ligado a cabo-guia” e de redes “para não cair nada”. Por isso, interditou a rodovia. E ganhou manchetes, outra vez, naturalmente.
É de manchetes que vive o Ministério Público. Até hoje não se tem notícia de que alguma de suas ações cercadas de sensacionalismo tenha resolvido alguma coisa em favor da população.
Ministério Público do Trabalho? Qual é sua função, mesmo? E a Inspetoria do Trabalho, para que serve?
Nos processos, como se sabe, há sempre duas partes interessadas. No crime, a vítima e o réu. No cível, o autor e o réu. Na justiça do trabalho, o empregador e o empregado. Qual é o papel do Ministério Público? Acusar? Acusar qualquer um acusa. Fiscalizar? Para isso existem fiscais. Controlar a legalidade do processo? Disso as partes cuidam, mais do que ninguém, mais do que o próprio juiz, o mais das vezes.
Quem olha aquele desperdício de dinheiro público, aquele acinte, que é o prédio do Ministério Público estadual em Porto Alegre, não consegue chegar a outra conclusão senão a de que essa instituição não passa de uma montanha (de dinheiro) que só serve para parir camundongos. Isso, na melhor das hipóteses, porque há quem diga que o Ministério Público é como pau de enchente: se não está boiando, está trancando alguma coisa.
quinta-feira, 4 de novembro de 2010
CRÔNICAS MODERNAS
FAMILIA VINTE E UM
PAULO WAINBERG
Twitter.com/paulowainberg
Haroldo tirou o papel do bolso, conferiu a anotação e perguntou à balconista:
– Moça, vocês tem pen drive?
– Temos, sim.
– O que é pen drive? Pode me esclarecer? Meu filho me pediu para comprar um.
– Bom, pen drive é um aparelho em que o senhor salva tudo o que tem no computador.
– Ah, como um disquete...
– Não. No pen drive o senhor pode salvar textos, imagens e filmes. O disquete, que nem existe mais, só salva texto.
– Ah, tá. bom, vou querer.
– Quantos gigas?
– Hein?
– De quantos gigas o senhor quer o seu pen drive?
– O que é gigas?
– É o tamanho do pen.
– Ah, tá, eu queria um pequeno, que dê para levar no bolso, sem fazer muito volume.
– Todos são pequenos, senhor. O tamanho, aí, é a quantidade de coisas que ele pode arquivar.
– Ah, tá. E quantos tamanhos tem?
– Dois, quatro, oito e até dez gigas.
– hmmmm, meu filho não falou quantos gigas queria.
– Neste caso, o melhor é levar o maior.
– Sim, eu acho que sim. Quanto custa?
– Bem, o de dez gigas é o mais caro. A sua entrada é USB?
– Como?
– É que para acoplar o pen no computador, tem que ter uma entrada compatível.
– USB não é a potência do ar condicionado?
– Não, aquilo é BTU.
– Ah é, isso mesmo. Confundi as iniciais. Bom, sei lá se a minha entrada é USB.
– USB é assim ó, com dentinhos que se encaixam nos buraquinhos do computador. O outro tipo é este, o P2, mais tradicional, o senhor só tem que enfiar o pino no buraco redondo.
– Hmmmm..., enfiar o pino no buraquinho, né?
– Hehehe. O seu computador é novo ou velho? Se for novo é USB, se for velho é P2.
– Acho que o meu tem uns dois anos. O anterior ainda era com disquete. Lembra do disquete? Quadradinho, preto, fácil de carregar, quase não tinha peso. O meu primeiro computador funcionava com aqueles disquetes do tipo bolacha, grandões e quadrados. Era bem mais simples, não acha?
– Os de hoje nem tem mais entrada para disquete. Ou é CD ou pen drive.
– Que coisa! Bem, não sei o que fazer. Acho melhor perguntar ao meu filho.
– Quem sabe o senhor liga para ele?
– Bem que eu gostaria, mas meu celular é novo, tem tanta coisa nele que ainda não aprendi a discar.
– Deixa eu ver. Poxa, um Smarthphone, este é bom mesmo, tem Bluetooth, woofle, brufle, trifle, banda larga, teclado touchpad, câmera fotográfica, filmadora, radio AM/FM, dá pra mandar e receber e-mail, torpedo direcional, micro-ondas e conexão wireless.
– Micro-ondas? Dá para cozinhar nele?
– Não senhor, assim o senhor me faz rir, é que ele funciona no sub-padrão, por isso é muito mais rápido.
– E Bluetooth?, estou emocionado. Não entendo como os celulares anteriores não possuíam Bluetooth.
– O senhor sabe para que serve?
– É claro que não.
– É para comunicar um celular com outro, sem fio.
– Que maravilha! Essa é uma grande novidade! Mas os celulares já não se comunicam com os outros sem usar fio? Nunca precisei fio para ligar para outro celular. Fio em celular, que eu saiba, é apenas para carregar a bateria...
– Não, já vi que o senhor não entende nada, mesmo. Com o Bluetooth o senhor passa os dados do seu celular para outro, sem usar fio. Lista de telefones, por exemplo.
– Ah, e antes precisava fio?
– Não, tinha que trocar o chip.
– Hein? Ah, sim, o chip. E hoje não precisa mais chip...
– Precisa, sim, mas o Bluetooth é bem melhor.
– Legal esse negócio do chip. O meu celular tem chip?
– Momentinho... Deixa eu ver... Sim, tem chip.
– E faço o quê, com o chip?
– Se o senhor quiser trocar de operadora, portabilidade, o senhor sabe.
– Sei, sim, portabilidade, não é?, claro que sei. Não ia saber uma coisa dessas, tão simples? Imagino, então que para ligar tudo isso, no meu celular, depois de fazer um curso de dois meses, eu só preciso clicar nuns duzentos botões...
– Nãão, é tudo muito simples, o senhor logo apreende. Quer ligar para o seu filho? Anote aqui o número dele. Isto. Agora é só teclar, um momentinho, e apertar no botão verde... pronto, está chamando.
Haroldo segura o celular com a ponta dos dedos, temendo ser levado pelos ares, para um outro planeta:
– Oi filhão, é o papai. Sim. Me diz, filho, o seu pen drive é de quantos... Como é mesmo o nome? Ah, obrigado, quantos gigas? Quatro gigas está bom? Ótimo. E tem outra coisa, o que era mesmo? Isso, nossa conexão é USB? É? Que loucura. Então tá, filho, papai está comprando o teu pen drive. De noite eu levo para casa.
– Que idade tem seu filho?
– Vai fazer dez em março.
– Que gracinha...
– É isto moça, vou levar um de quatro gigas, com conexão USB.
– Certo, senhor. Quer para presente?
Mais tarde, no escritório, examinou o pen drive, um minúsculo objeto, menor do que um isqueiro, capaz de gravar filmes? Onde iremos parar? Olha, com receio, para o celular sobre a mesa.
Máquina infernal, pensa.
Tudo o que ele quer é um telefone, para discar e receber chamadas. E tem, nas mãos, um equipamento sofistificado, tão complexo que ninguém que não seja especialista ou tenha mais de quarenta, saberá compreender.
Em casa, ele entrega o pen drive ao filho e pede para ver como funciona.
O garoto insere o aparelho e na tela abre-se uma janela. Em seguida, com o mouse, abre uma página da internet, em inglês. Seleciona umas palavras e um roque infernal invade o quarto e os ouvidos de Haroldo.
Um outro clique e, quando a música termina, o garoto diz:
– Pronto, pai, baixei a música. Agora eu levo o pen drive para qualquer lugar e onde tiver uma entrada USB eu posso ouvir a música. No meu celular, por exemplo.
– Teu celular tem entrada USB?
– É lógico. O teu também tem.
– É? Quer dizer que eu posso gravar músicas num pen drive e ouvir pelo celular?
– Se o senhor não quiser baixar direto da internet...
Naquela noite, antes de dormir, deu um beijo em Clarinha e disse:
– Sabe que eu tenho Bluetooth?
– Como é que é?
– Bluetooth. Não vai me dizer que não sabe o que é?
– Não enche, Haroldo, deixa eu dormir.
– Meu bem, lembra como era boa a vida, quando telefone era telefone, gravador era gravador, toca-discos tocava discos e a gente só tinha que apertar um botão, para as coisas funcionarem?
– Claro que lembro, Haroldo. Hoje é bem melhor, né? Várias coisas numa só, até Bluetooth você tem.
– E conexão USB também.
– Que ótimo, Haroldo, meus parabéns.
– Clarinha, com tanta tecnologia a gente envelhece cada vez mais rápido. Fico doente de pensar em quanta coisa existe, por aí, que nunca vou usar.
– Ué? Por que?
– Porque eu recém tinha aprendido a usar computador e celular e, tudo o que sei já está superado.
– Falar nisso temos que trocar nossa televisão.
– Ué? A nossa estragou?
– Não. Mas a nossa não tem HD, tecla SAP, sloamotion e reset.
– Tudo isso?
– Tudo. Boa noite, Haroldo, vai dormir.
Quando estava quase pegando no sono, o filho entra no quarto e diz:
– Pai, me compra um Playstation vinte e sete?