sexta-feira, 12 de novembro de 2010

COM A PALAVRA, JANER CRISTALDO

UM HEREGE NOPAÍS DO ROCK

Em meus dias de juventude, sempre imaginei que comunismo fosse coisa da China, União Soviética, Vietnã, Cuba, coisas assim. Ou ideologia de meus colegas de faculdade. Foram necessários muitos anos para descobrir que o Brasil era, majoritariamente, comunista. Chez nous, o fundo do ar era vermelho. Estamos cercados de pessoas que sequer sabem o que é marxismo, mas pensam como marxistas, agem como marxistas, votam como marxistas. Não por acaso, o país elegeu como presidente uma velha marxista impenitente. Sim, temos, como diz a imprensa, a primeira presidente mulher do país. Mas isto é o de menos. O mais surpreendente é que temos o primeiro presidente comunista do Brasil. Isso decorridos vinte anos da queda do Muro de Berlim, da dissolução da União Soviética e do desmoronamento do comunismo. Vanguarda no Terceiro Mundo é assim mesmo.
A vida é uma caixinha de surpresas. Não bastasse ter descoberto que vivo num país comunista, percebo agora que vivo num país roqueiro. Sempre imaginei que rock era uma modinha passageira de meninos que adoravam puxar um fumo enquanto se sacudiam ao ritmo de músicas ianques ou por aí. Estava completamente enganado. Quarenta, cinqüenta ou mais anos após a emergência do rock, o país continua roqueiro. Pelo jeito, cometi grave heresia ao escrever que não gostava do gênero. Até a Primeira-Namorada, lá de Londres, chiou:
Ai, pai! Rock não é doença, não! Senão eu já teria conseguido te passar...Ninguém é obrigado a gostar só de opera ou mariachis. Nao sou fã de Paralamas do Sucesso ou Titãs, mas gosto de varias músicas deles. Não tô querendo sair em defesa de bandas que hoje não me dizem muito, mas tenho certeza que tu criticas sem nunca ter ouvido nada deles. Não acho que irias gostar, mesmo assim. Só que me parece muito mais uma questão de costume. E o rock propriamente dito surgiu por volta da década de 1950. Ou seja, já não é mais uma "coisa de jovem". Pessoas que gostavam de rock naquela época, provavelmente ainda gostam. Muitas já são sexagenárias...Deixo aqui meu protesto contra teu post!
Isa querida, nunca disse que rock é doença. Tampouco pretendo que as pessoas gostem de ópera ou mariachis. Jamais afirmei isto. Cada um com seu cada qual. Apenas não gosto de rock. São coisas que não me interessam ouvir. Nada que atraia multidões me interessa. Acho ridículo sexagenários se pretendendo jovens. É essa gente de cabelo branco, com rabinho de cavalo. A meu ver, não amadureceram. Um velho curtindo rock para mim é tão ridículo quanto um velho puxando fumo. “Envelheçam, jovens, envelheçam. Antes que seja tarde” – dizia o Nelson Rodrigues. Sexagenário eu também sou e rock não me diz nada. Nunca me disse. Sem falar que sou imune a muitas doenças do século passado.
Outro leitor, colega de coluna do Baguete, me contesta:
O primeiro item que notei neste artigo foi a afirmação "Slogans não provocam revolução alguma, apenas servem para conduzir fanáticos". Em suas colunas, Janer Cristaldo sempre critica comportamentos que ele considera fanatismo. Em uma rápida busca no próprio site do Baguete, ao procurar pela palavra "fanático" retornaram 11 colunas recentes deste autor.Ao criticar tanto o fanatismo, Janer Cristaldo realiza o que se chama na psicanálise de projeção. Ao negar tão veementemente a opinião alheia, ele acaba por se tornar um fanático contra fanáticos, projetando seus anseios e sentimentos na contra-opinião de seus semelhantes. Acredito que para ser um bom escritor, o autor precisa respeitar e considerar a opinião alheia, procurando ser o mais aberto possível.Ora, meu caro, você encontrou apenas onze vezes a palavra fanático? Busque então por islamismo, cristianismo, marxismo, Paris, Estocolmo ou Madri. Vai encontrá-las repetidas muito mais vezes. Estarei projetando algum anseio ou sentimento na contra-opinião de meus semelhantes, ao falar de islamismo, cristianismo, marxismo, Paris, Estocolmo ou Madri?Pelo jeito, você é chegado à psicanálise. Receba minhas condolências.

Respeito e considero a opinião alheia. Disse eu alguma coisa contra quem gosta de rock? Não disse. Apenas deixei claro que eu não gosto e nunca gostei - direito meu - e afirmei que os Beatles foram os grandes apologistas da droga no século passado. Disse algo errado? Todo show de rock sempre foi sinônimo de drogas. Sob o olhar complacente da polícia.
Outro leitor me fala de um amigo que chegou a meus textos através dos Beatles:
Esse meu amigo vinha de família católica tradicional. Com o tempo, contudo, de tanto ouvir Imagine, God e outras letras dos Beatles (coisas feitas principalmente pelo John) ele começou a ficar curioso por discutir o assunto. Dessa curiosidade, que baixou as defesas iniciais desse amigo, introduzi ele a gente de leitura tranqüila feito o Dawkins e o Harris. Depois de mais algum tempo, começou a ler Nietzsche e se tornou leitor e fã assíduo teu, Janer. Vinha animado comentar alguma nova polêmica tua ou citar algum argumento teu nas nossas discussões during the lunch break. Não parou por aí. Influenciado por ti, começou a ler Dom Quixote, introduziu o pai a Cervantes e tudo o mais. Nada disso, em todo caso, teria acontecido não fossem os Beatles lançarem o germe desse espírito de curiosidade, questionamentos e romantismo nele.
Pode ser. Mas diria que chegou até mim por ínvios caminhos. Até pode acontecer que a letra de uma canção desperte alguma curiosidade intelectual. Mas canções não levam a pensamento. Se assim foi, o rapaz em questão, apenas por acaso, chegou a meus textos. Só o que faltava os Beatles induzirem à leitura de algo mais profundo. Foi um equívoco que acabou dando certo. Acontece. Continua o leitor:
Quem dá solidez a uma revolução são os livros. O povo, contudo, é imbecil ou preguiçoso, portanto não lê. Coisas simples como músicas, penso eu, são necessárias para inspirá-lo e movimentá-lo. A diferença nos Beatles é que eles serviam tanto para inspirar as massas como para aqueles que queriam ou querem ir um pouco mais longe. Não é incomum você estar no bar com amigos e alguma música deles dar início a uma conversa que vai começar na guerra do Vietnã e terminar numa discussão um pouco mais acalorada envolvendo Marx e o conceito de “guerras justas”.
Vá lá! Mas eu muito discuti a guerra do Vietnã e Marx em minha juventude – e perdi não poucos amigos por tais discussões – sem jamais ter passado por cançonetas de britânicos. Ora, eu não gosto de rock nem de brócolis, nem de coca-cola ou Chico Buarque. Muito menos de Machado de Assis. Será pecado não gostar de algo?Mas o melhor está por vir. Um outro leitor me escreve: “Janer, aqui no RS tem uma banda de rock só de juízes, chama-se "The Judges". No youtube tem vários videos deles tocando”.
Bom, ça me dépasse. Morro e não vejo tudo. Uma banda de rock chamada The Judges só pode ser coisa de tupiniquim deslumbrado com o universo ianque. Duvido que magistrados montem bandas de rock nos Estados Unidos ou Reino Unido. Juízes tocando rock? Pelo jeito, os meritíssimos não conseguiram escapar da adolescência.Que o bom deus dos ateus me livre de suas alçadas.

Meu bedelho: assino em baixo.
João Eichbaum

Nenhum comentário: