terça-feira, 23 de novembro de 2010

CRÔNICAS IMPUDICAS

UNO, INDIVISÍVEL e INCRITICÁVEL

João Eichbaum


Dias atrás, num texto brilhante, recheado com ferina, mas, ao mesmo tempo, elegante ironia, o advogado Ricardo Giuliani, criticou ações do Ministério Público, tanto federal como estadual, que enchem as páginas dos jornais, se tornam manchetes em noticiários de emissora de rádio e televisão, mas não passam de pífias iniciativas, traques saídos de boca de canhão.
Mencionou o autor ridículas atitudes, como as da promotora que queria processar um caminhoneiro por ter atropelado duas galinhas e a da outra promotora que pretende, ou pretendia, censurar o filme Tropa de Elite, proibindo-o para crianças.
Em outras palavras, o autor do artigo afinou com este blogueiro na afirmação de que o Ministério Público não passa de uma montanha que só serve para parir camundongos.
Pra quê, minha gente! Agora vem o presidente da Associação do Ministério Público – estadual, penso eu – Marcelo Lemos Dornelles, defender a instituição com unhas e dentes.
No meio das obviedades, como, por exemplo, a de que os seres humanos estão sujeitos a erros, diz o senhor Marcelo que o Ministério Público é responsável pela preservação desse grande valor, que é a Justiça.
Mas, não é isso que se vê. A grande, a imensa maioria dos promotores não é de Justiça, mas de acusação. Muitos deles deixam transparecer, em todos os atos processuais, sem falar em suas aparições em público, na imprensa - de que toda a instituição gosta - que sentem verdadeiro orgasmo em acusar, porque o que lhes interessa é o número de condenações e não a da conquista da verdadeira justiça. A menos que, no seu nível intelectual e cultural, “justiça” seja sinônimo de condenação.
Demonstrando seu despreparo em matéria de silogismo, finalmente, o senhor promotor de justiça Marcelo Lemos Dornelles, depois de admitir “falhas humanas”, conclui que o Ministério Público é “incriticável”.
Ah, sim: uno, indivisível e agora, também, “incriticável”.
Olha, senhor Marcelo, quando uma instituição é “una e indivisível” o erro de um é o erro de todos, o erro da promotora perseguidora de honestos caminhoneiros é erro de toda a instituição. Se o senhor não quiser assim, lute, em primeiro lugar, para que sejam abolidos os adjetivos “uno e indivisível” com que se qualifica o Ministério Público. Aí talvez a instituição possa ser “incriticável”, conquanto não o sejam as cagadas particulares de muitos mocinhos e mocinhas, deslumbrados com o “poder de pedir e de opinar”, o único de que se pode orgulhar o Ministério Público.

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