quinta-feira, 18 de novembro de 2010

COM A PALAVRA, JANER CRISTALDO

VULTUR ROCK


Que juízes brasileiros tenham um encontro num resort de luxo na ilha de Comandatuba, patrocinados por empresas como Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Eletrobras, Souza Cruz, Sindicom e Etco, nada de anormal. É a prova cabal da venalidade do Judiciário no Brasil. Não por acaso, nenhum político de alto coturno, envolvido em mensalão, quebra de sigilos ou tráfico de influência está na cadeia. Absolver a corrupção das altas esferas, esta é uma das funções prioritárias de nossa magistratura.

Cada juiz desembolsará apenas R$ 750, terá todas as despesas pagas (exceto passagens aéreas) e ocupará apartamentos de luxo e bangalôs com diárias que variam de R$ 900 a R$ 4.000. A diferença será coberta pelas empresas patrocinadoras. É o que leio na Folha de São Paulo.

Como dizia Swift, existe “entre nós uma sociedade de homens educados desde a juventude na arte de provar, por meio de palavras multiplicadas para esse fim, que o branco é preto e que o preto é branco, segundo são pagos para dizer uma coisa ou outra”.

Até aí, nada de novo. A prática é milenar. Entre nós, é denunciada quase todos os anos. E ano seguinte se repete. O que me deixou perplexo nas mordomias oferecidas aos meritíssimos foi a programação cultural, se assim podemos dizer, dos eventos. Neste encontro terão show com Elba Ramalho. Em outras ocasiões, a Ajufe (Associação dos Juízes Federais do Brasil) embalou os togados com Jorge Ben Jor e os grupos Titãs e Paralamas do Sucesso. Nossos tribunais estão ocupados, quem diria, por juízes roqueiros. Só faltou uma ervinha para animar o evento. Se é que faltou.

Você consegue imaginar o douto colegiado agitando os braços e rebolando ao som de rock? Se portassem a toga, o efeito seria melhor. Essa, acho que nem o Buñuel conceberia. Temos no Brasil um novo gênero, o rock dos vulturinos.

Que jovens curtam roqueiros, até que se entende. Mas a elite do Judiciário nacional? Homens que têm por função julgar os grandes conflitos da nação aplaudindo bandas vulgares?

Vergonha.

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