ENTRE EXCREMENTOS E TELINHAS
João Eichbaum
A coisa começou na Petrobrás, onde a polícia federal sentiu a fedentina.
Era o excremento que adubava a política brasileira. Aí pegaram o Cerveró pra
courinho, a fim de implantar no Brasil uma velha prática, com um novo nome, sob
batuta do juiz Sérgio Moro. Desde então, a deduragem, como era chamada na gíria
a alcaguetagem, passou a ser conhecida pelo pomposo nome de Delação Premiada.
Com o novo sistema, que teve origem na Santa Inquisição e foi aprimorado
na Itália e nos Estados Unidos, a cadeia a perder de vista passou a substituir
velhos métodos. “Pau de arara”, choque elétrico ou pontapé nos bagos e urtiga
na bunda, já é coisa do passado. Mas alguns antigos indigitados jamais irão
esquecer a figura daquele baita afrodescendente, espaçoso nos seus 1,95 de
altura, de braguilha aberta, sorrindo sem dentes e mostrando o instrumento que
seria usado, se não houvesse confissão espontânea...
A experiência deu certo. O Cerveró abriu o jogo. Também, pudera! Se com
aquela cara não conseguia comer ninguém fora da cadeia, imaginem encarcerado. A
coisa começou a ficar tão fácil, que o finado Teori Zawaski dizia, mostrando
todos os dentes: a gente puxa uma pena e vem uma galinha.
Mal sabia o então futuro finado que o país ia ficar em clima de juízo
final. Logo depois de sua morte, atrás de cada galinha passou a vir um
galinheiro. E a cada dia surgem novos galinheiros, com gente graúda pendurada
em artigos e parágrafos do Código Penal.
O método medieval de colheita de provas, que acabou trazendo à tona o que
há de pior no sistema político brasileiro, espalhou no povo o pânico das
incertezas. Então se instaurou no país um cataclismo social. Ninguém respeita
mais ninguém, salvo o Moro e a Polícia Federal. O Judiciário virou piada.
Juízes, ministros e demais autoridades que nada fazem para desinfetar o país,
pondo-o a salvo dos corruptos, caem na vala comum dos mal amados.
No seguimento de tantas barbaridades processuais e políticas, as redes
sociais, no dizer de alguém, passaram a substituir os mictórios de rodoviária. Ao
lado de piadas, recordações, notícias, fotografias de bebês e de quitutes,
semeia-se a insatisfação, a repulsa, o ódio.
Elas podem não ser o que de melhor o homem inventou para se comunicar,
desde que deixou as cavernas. Mas essas telinhas, que desinibem tímidos, descontrolam valentes, e concedem a
qualquer um o direito de ser maluco, são o único instrumento de que dispõe a
população aflita e enganada. São a única forma de dar vez a quem nunca teve
voz. E para se escrever sobre os excrementos que adubam a política brasileira,
nada mais adequado do que porta de latrina.
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