sexta-feira, 7 de abril de 2017

ENTRE EXCREMENTOS E TELINHAS
João Eichbaum

A coisa começou na Petrobrás, onde a polícia federal sentiu a fedentina. Era o excremento que adubava a política brasileira. Aí pegaram o Cerveró pra courinho, a fim de implantar no Brasil uma velha prática, com um novo nome, sob batuta do juiz Sérgio Moro. Desde então, a deduragem, como era chamada na gíria a alcaguetagem, passou a ser conhecida pelo pomposo nome de Delação Premiada.

Com o novo sistema, que teve origem na Santa Inquisição e foi aprimorado na Itália e nos Estados Unidos, a cadeia a perder de vista passou a substituir velhos métodos. “Pau de arara”, choque elétrico ou pontapé nos bagos e urtiga na bunda, já é coisa do passado. Mas alguns antigos indigitados jamais irão esquecer a figura daquele baita afrodescendente, espaçoso nos seus 1,95 de altura, de braguilha aberta, sorrindo sem dentes e mostrando o instrumento que seria usado, se não houvesse confissão espontânea...

A experiência deu certo. O Cerveró abriu o jogo. Também, pudera! Se com aquela cara não conseguia comer ninguém fora da cadeia, imaginem encarcerado. A coisa começou a ficar tão fácil, que o finado Teori Zawaski dizia, mostrando todos os dentes: a gente puxa uma pena e vem uma galinha.

Mal sabia o então futuro finado que o país ia ficar em clima de juízo final. Logo depois de sua morte, atrás de cada galinha passou a vir um galinheiro. E a cada dia surgem novos galinheiros, com gente graúda pendurada em artigos e parágrafos do Código Penal.

 O método medieval de colheita de provas, que acabou trazendo à tona o que há de pior no sistema político brasileiro, espalhou no povo o pânico das incertezas. Então se instaurou no país um cataclismo social. Ninguém respeita mais ninguém, salvo o Moro e a Polícia Federal. O Judiciário virou piada. Juízes, ministros e demais autoridades que nada fazem para desinfetar o país, pondo-o a salvo dos corruptos, caem na vala comum dos mal amados.

No seguimento de tantas barbaridades processuais e políticas, as redes sociais, no dizer de alguém, passaram a substituir os mictórios de rodoviária. Ao lado de piadas, recordações, notícias, fotografias de bebês e de quitutes, semeia-se a insatisfação, a repulsa, o ódio.

Elas podem não ser o que de melhor o homem inventou para se comunicar, desde que deixou as cavernas. Mas essas telinhas,      que desinibem tímidos, descontrolam valentes, e concedem a qualquer um o direito de ser maluco, são o único instrumento de que dispõe a população aflita e enganada. São a única forma de dar vez a quem nunca teve voz. E para se escrever sobre os excrementos que adubam a política brasileira, nada mais adequado do que porta de latrina.


Nenhum comentário: