A DANÇA DAS CADEIRAS DOS RÉUS
João Eichbaum
No luxuoso STF, os réus dependem da sorte. O
ex-senador Delcídio do Amaral foi preso em 2015, em flagrante misturado com
prisão preventiva, engendrado por Teori Zawaski. Segregado numa cela sem banheiro
e sem vaso sanitário, experimentou as crueldades das funções fisiológicas
reprimidas e o desprezo de sua condição como representante do povo. Esteve 85
dias preso e só ganhou liberdade depois que lhe extorquiram uma delação.
Eduardo Cunha foi despojado não só do cargo de
presidente da Câmara dos Deputados pelo mesmo Teori Zawaski, como do mandato
parlamentar. Preso e condenado em primeira instância, não quis falar e até
agora está na cadeia. Já Eike Batista teve a sorte de não precisar entregar a
companheirada, para ficar livre, sob o patrocínio de Gilmar Mendes.
Luiz Edson Fachin suspendeu o mandato de Aécio
Neves, acusado de articular medidas contra a operação Lava Jato. O mesmo Fachin
mandou soltar Rodrigo Loures, dobrando-se às queixas de seus familiares. Preso
por ter carregado dinheiro em mala, e não em cueca, Loures estava na mesma cela
onde estivera o ex-senador Delcídio do Amaral, sem banho, sem vaso sanitário.
Saiu em estado de graca, sem abrir o bico.
No último dia antes do recesso do STF, Marco
Aurélio Melo mandou reintegrar Aécio Neves no exercício do mandato parlamentar.
Seu o argumento: a suspensão do mandato, ordenada por Luiz Edson Fachin, não
respeitava o princípio da independência e da harmonia entre os Poderes da
República.
Tal como está se apresentando ao país, o Supremo
Tribunal Federal não passa de uma corte de desgarrados, com vontades próprias.
Nesse teatro de variedades, cheio de contradições, onde cada um interpreta a si
mesmo, desaparece a missão maior do Tribunal, de atalaia da Constituição
Federal, destinada a resguardar a segurança jurídica.
Pusilânimes batem no peito, proclamando que as
decisões da Justiça merecem respeito. Não. Justiça trincada não merece
respeito. Ela pode até produzir medo, mas não respeito. Respeito não se impõe:
se conquista. Se o STF não consegue dotar seu Regimento Interno com normas que
impeçam de prevalecer sobre o Direito as paixões, a vaidade e os egos faceiros,
quando não o despreparo, ele jamais conquistará o respeito dos cidadãos. E está
sujeito a ficar no lado errado da História.
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