O SÉTIMO MANDAMENTO
João Eichbaum
Na hora do aperto, na hora do pega pra capar, o
cara apela para o primeiro santo que aparece. Tanto para curar câncer de
próstata, como para vestir a toga de ministro do Supremo Tribunal Federal. Seja
o que for, o sujeito até abre mão de sua crença, em troca de meio mais eficaz
do que reza pra santo.
O hoje ministro Edson Fachin, que é um homem de
oração e de sacristia, pegou carona, segundo as más línguas, no andor de um
padroeiro de carne e osso, o Ricardo Saud. Para quem não se lembra ou não sabe:
esse senhor era o executivo todo poderoso da JBS, encarregado das propinas.
Ao invés de se ajoelhar aos pés do altar e de fazer
promessas de missa, velas ou comunhão todas as primeiras sextas feiras de cada
mês, Fachin, acompanhado do executivo, peregrinou por gabinetes de
parlamentares que tinham o poder de recomendá-lo como ungido. E chegou lá. Todo
mundo sabe disso.
Quer porque sua vida tenha sido escolhida para
fazer parte de um roteiro assinado pelo destino, quer por razões que tramitem
secretamente entre o céu e a terra, o certo é que foi cair no colo do Fachin a
delação da JBS.
E a parte maldosa do enredo do destino, se é que
foi o destino, é a que inclui, na trama, o Rodrigo Loures como personagem
escalado para carregar uma mala com quinhentos mil reais, a serviço do já
mencionado Ricardo Saud. Fachin teve que mandar prender o dito personagem.
Loures passou por maus momentos. Primeiro o
ameaçaram de morte, no presídio da Papuda. Transferido para a carceragem da
Polícia Federal, foi jogado às traças. Trancafiaram-no numa cela sem chuveiro e
sem o buraco de boi, aquele que recebe as partes despachadas pela bexiga e
pelos intestinos.
Nesse interim, a rotina do STF levou para a Turma do ministro Edson Fachin o julgamento de “habeas corpus” em favor de uma mulher: uma infeliz, acusada de furtar desodorante e alguns chicletes num supermercado. Fachin negou-lhe a liberdade. Aplicou nela a letra fria do artigo sétimo dos dez mandamentos promulgados por Moisés: não furtarás.
Já a história de Rodrigo Loures teve outro
desfecho. Quando soube das condições a que ele estava sendo submetido, sem
banho e sem buraco do boi, Fachin o mandou para casa, com tornozeleiras.
Certamente o fez, inspirado na jurisprudência de Jesus Cristo: atire a primeira
pedra quem nunca pagou propina.
Antes de sumir no recesso de julho, soube-se que o
ministro chamou o bispo auxiliar de Brasília para lhe benzer o gabinete. Talvez
o mova a esperança de que seu anjo da guarda não faça carinha de nojo, ao ver,
de agora em diante, pobres mofando na cadeia e ricos nadando no dinheiro sujo.
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