ONDE
PIOLHO NÃO TEM VEZ
João
Eichbaum
Piolhos.
Quem já não os teve? Quem já os não abrigou sob os cachos castanhos,
caprichosamente enrolados pela natureza? Ou debaixo daquela cascata de ouro
que, ao sol, lhe emprestava uma beleza de fada? Ou escondidos no labirinto do
cabelo pixaim?
Piolho,
um bichinho desprezível, que incomoda dia e noite, faz a gente fincar as unhas
no couro cabelo e tirar sangue de uma parte tão protegida pela natureza...
Onde
estava Deus com a cabeça, quando inventou o piolho? E para qual finalidade os
desígnios divinos destinaram tão estúpida criatura? Só para incomodar a gente?
Para tirar o sono da mamãe e atormentá-la com a dúvida atroz de mandar ou não o
filho para escola?
Nem
Tomaz de Aquino ou seu colega Santo Agostinho, festejados “doutores” da Igreja,
teriam condições de escrever algumas linhas, nos seus imensos tratados de
erudição teológica, sobre esse repelente ser, viscoso, a quem Deus concede a
liberdade de incomodar mamães e crianças.
Mas,
sem falar nos chatos, há outros seres piores do que os piolhos propriamente
ditos: as lêndeas. São essas que dão o maior trabalho. Elas se grudam nos fios
de cabelo, se agarram ali, como se ali tivessem nascido e fossem donas do pedaço.
E aí, coitadas das mamães ficam, fio por fio, catando lêndeas e praticando
aborto de futuros piolhinhos, com as unhas dos polegares.
Para
quem não sabe, os piolhos têm suma importância nas regras vigentes dentro do
sistema penitenciário. É por causa deles que as cabeleiras são raspadas. Não é
por maldade da polícia, nem por gozação da guarda carcerária. É para evitar a
proliferação da espécie.
Entenderam,
então, por que os protetores dos direitos humanos não chiam, nem piam, quando a
careca dos políticos corruptos é mostrada no face, nos jornais, nas revistas e
na televisão? Por que ninguém aparece vociferando contra o sistema?
Porque
os piolhos são mais chegados ao princípio da isonomia do que o STF. Para
aqueles bichinhos sem serventia não há diferença entre ladrões de galinha e ladrões
do dinheiro público: todos são iguais perante eles.
Portanto,
não foi por maldade que os carcereiros fecharam os olhos e fizeram ouvidos
moucos, quando Geddel Vieira, com um chorinho de guri borrado, suplicou que não
lhe abatessem a melena. Por estrita observância aos preceitos de moda vigentes no
sistema carcerário – e antes que o desembargador de plantão lhe prestasse
socorro - Geddel foi encaminhado ao
único carrasco que ainda tem serviço em Brasília: o barbeiro da Papuda.
Nenhum comentário:
Postar um comentário