sexta-feira, 14 de julho de 2017

ONDE PIOLHO NÃO TEM VEZ
João Eichbaum

Piolhos. Quem já não os teve? Quem já os não abrigou sob os cachos castanhos, caprichosamente enrolados pela natureza? Ou debaixo daquela cascata de ouro que, ao sol, lhe emprestava uma beleza de fada? Ou escondidos no labirinto do cabelo pixaim?

Piolho, um bichinho desprezível, que incomoda dia e noite, faz a gente fincar as unhas no couro cabelo e tirar sangue de uma parte tão protegida pela natureza...
Onde estava Deus com a cabeça, quando inventou o piolho? E para qual finalidade os desígnios divinos destinaram tão estúpida criatura? Só para incomodar a gente? Para tirar o sono da mamãe e atormentá-la com a dúvida atroz de mandar ou não o filho para escola?

Nem Tomaz de Aquino ou seu colega Santo Agostinho, festejados “doutores” da Igreja, teriam condições de escrever algumas linhas, nos seus imensos tratados de erudição teológica, sobre esse repelente ser, viscoso, a quem Deus concede a liberdade de incomodar mamães e crianças.  

Mas, sem falar nos chatos, há outros seres piores do que os piolhos propriamente ditos: as lêndeas. São essas que dão o maior trabalho. Elas se grudam nos fios de cabelo, se agarram ali, como se ali tivessem nascido e fossem donas do pedaço. E aí, coitadas das mamães ficam, fio por fio, catando lêndeas e praticando aborto de futuros piolhinhos, com as unhas dos polegares.

Para quem não sabe, os piolhos têm suma importância nas regras vigentes dentro do sistema penitenciário. É por causa deles que as cabeleiras são raspadas. Não é por maldade da polícia, nem por gozação da guarda carcerária. É para evitar a proliferação da espécie.

Entenderam, então, por que os protetores dos direitos humanos não chiam, nem piam, quando a careca dos políticos corruptos é mostrada no face, nos jornais, nas revistas e na televisão? Por que ninguém aparece vociferando contra o sistema?

Porque os piolhos são mais chegados ao princípio da isonomia do que o STF. Para aqueles bichinhos sem serventia não há diferença entre ladrões de galinha e ladrões do dinheiro público: todos são iguais perante eles.

Portanto, não foi por maldade que os carcereiros fecharam os olhos e fizeram ouvidos moucos, quando Geddel Vieira, com um chorinho de guri borrado, suplicou que não lhe abatessem a melena. Por estrita observância aos preceitos de moda vigentes no sistema carcerário – e antes que o desembargador de plantão lhe prestasse socorro -  Geddel foi encaminhado ao único carrasco que ainda tem serviço em Brasília: o barbeiro da Papuda.


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