A FEIRA DAS VELEIDADES
João Eichbaum
Antes que os livros impressos
desapareçam definitivamente, a sobrevivência da Câmara do Livro é garantida
pela vaidade. Em Porto Alegre, como em qualquer lugar do mundo, há uma
panelinha de muitos escrevinhadores e alguns escritores que sustentam aquela
instituição.
Entra ano e sai ano, são sempre
os mesmos. Do círculo fechado, que os separa do mundo, surgem os “patronos” da
Feira do Livro, os “escritores” convidados, os painelistas, conferencistas,
debatedores, contadores de histórias, etc.
Para a sorte da Câmara do
Livro, existe a vaidade. Quem é que não gosta de aparecer, de bancar o
intelectual, de dizer que escreveu um livro? Ou que participou de um “painel”
ou debate, nessa vitrine do charme intelectual?
Escrevinhadores, que se têm por
escritores, reúnem amigos e parentes para lhes mostrar seus dotes intelectuais.
Por mais indigestos que sejam os títulos ou o conteúdo dos livros, a amizade e
o parentesco garantem número na fila dos autógrafos.
Você aí, já leu algum livro de
um tal de Mia Couto, moçambicano?
Gostou? Ah, não sabe quem é? Pois, diz-se que havia um auditório lotado, para
vê-lo, ouvi-lo ou, quem sabe, se deixar bolinar pelo cara. Mas, na falta de
bons escritores brasileiros, qualquer um de fora ganha viagem, cama e comida,
por conta não se sabe de quem...
Você se lembra de um tal de “O
Pequeno Príncipe”? É. É exatamente aquele livrinho que tinha status de
enciclopédia para candidatas a miss. Não. O livro não tinha nada a ver com
bundas e peitos de silicone. Mas tinha uma frase cheia de charme: “o essencial
é invisível aos olhos”, que ninguém consegue explicar pra que serve na vida.
Pois esse livro, ultrapassado,
com uma linguagem pueril escrita para adultos, nos dias de hoje serve mais para
distrair a parvoíce do que para destravar a sabedoria. Mas encontrou espaço num
“painel”, ou coisa que o valha, na Feira.
Pois assim é a Feira do Livro,
esse teatro multifário de veleidades, onde aparecem Assembléia Legislativa,
Tribunais, Senado Federal, Bancos, emissoras de rádio...Mas lá está também o
povo, que não costuma entrar em livrarias, dando um empurrãozinho nas letras.
Ele ignora as vaidades que
sustentam a Feira. Mas, os belos fins de tarde primaveris, na praça da
Alfândega, oferecem paisagem e clima para encontrar amigos e entornar um
chopinho que, como se diz, faz parte. Isso tudo garante a sobrevivência da
Câmara do Livro, pelo menos até o próximo ano, enquanto os livros não sumirem
do mapa.
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