terça-feira, 14 de novembro de 2017

QUANDO O FRUTO DO VENTRE NÃO É BENDITO
João Eichbaum

A paixão, como tudo na vida do animal humano, tem seu prazo de validade. Tanto a paixão de longo curso, que leva ao casamento, como a paixão efêmera, que arrasta para o acasalamento, depois de algumas cervejas num bailão da Scharlau.

E para cumprir a prazerosa missão de perpetuar a espécie, de que nos incumbiu a natureza, o tempo propício é o da paixão. Pouco importa se ela é acidental ou de longo curso. Só há uma condição fundamental: o cio da fêmea.

Estando no cio, a fêmea se entrega porque quer e sabe, de antemão, qual será o resultado. Mesmo que seja fruto de uma noite ou de um acaso qualquer, ela abraça, ama, amamenta, cria com dedicação esse resultado, a expensas próprias, ou à custa de uma pensão alimentícia.

Mas, se ela não se entregou e foi coagida, dominada, abusada, vilipendiada, sob ameaça de morte ou sob tortura, sua dignidade dá vazão ao nojo, à repulsa, à revolta e – por que não? – ao ódio contra o bandido que nela aninhou os dejetos de sua animalidade.

Em qualquer sociedade civilizada, nenhuma mulher pode ser obrigada a conviver com o vilipêndio. Mas, essa regra de respeito ao ser humano não tem força para se impor à mentalidade de energúmenos, que sucumbiram à lavagem cerebral de superstições religiosas.

Por 18 votos contra um, a comissão especial da Câmara dos Deputados aprovou texto de reforma constitucional que estabelece a concepção como “começo da vida”. Tal disposição, provinda da cachola de um tal de Jorge Muladen, do DEM, repercute diretamente no Direito Penal, transformando o aborto em “crime contra vida”.

Nessa comissão, composta de 33 membros, mais de vinte são evangélicos. O único voto contrário foi da deputada Erika Kokay, do PT. O projeto se destinava à extensão do período da licença-maternidade, para mães de prematuros. Mas foi estragado com água benta.

Para sustentar o disparate, o deputado pastor Eurico, do PHS, abriu a boca exaltada e cheia de dentes, expelindo adjetivos alusivos a folclóricos espíritos, criados pelo imaginário popular: “a defesa do aborto é diabólica, satânica, não queremos uma destruição em massa de inocentes”.

“Destruição em massa de inocentes”, segundo a mitologia cristã, ocorreu em Belém, (Mt, 2:16-18) por ordem de Herodes, enquanto o menino Jesus era levado, são e salvo, para o Egito, por sua mãe Maria e o padrasto José. E Javeh, o deus mitológico da bancada evangélica, nada fez para impedir a matança. Agora, que Jesus Cristo está rendendo dízimos, querem legalizar o imoral.



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