terça-feira, 16 de janeiro de 2018

O POÇO SEM FUNDO DA INTOLERÂNCIA
João Eichbaum
Chegamos ao fundo do poço? Não. Que esperança! Esqueçam que o poço tem fundo. Enquanto houver animais humanos sobre a face da terra, tudo será possível. Toda a sorte de barbaridades contidas nessa manta densa, incorpórea e difusa da insensibilidade, prevalecerá sobre os tênues fios de sensatez que privilegiam alguns indivíduos da espécie “homo sapiens”.
Isso é da natureza. Um dos elementos básicos do instinto de conservação, que garante a propagação da espécie animal, é o egoísmo. Sem ele, não haveria instinto de sobrevivência.
O instinto é sempre mais forte do que a vontade. E é o instinto e não a vontade que desperta e alimenta o egoísmo. Por isso, a virtude da sensatez é rara: ela deve ser trabalhada, forjada pela vontade, desafiando a lei da natureza, segundo a qual a sobrepujança deve ser do instinto. Mas faz uns volteios e torna à origem: o egoísmo.
Sim, senhores. O homem sensato, que foge da briga, dos xingamentos, das dissensões violentas, assim age, porque gostaria que todos os homens fossem como ele. Sem se dar conta disso, outra coisa ele não faz, senão oferecer o seu ego como molde da construção humana, como qualquer outro egoísta.
O monge que abraça a vida conventual, que renuncia aos prazeres do mundo e se entrega à oração e à meditação, o que deseja? Ora, bolas: a salvação de sua alma. Ou seja, ele cuida do seu ego, antes de mais nada.
Resumo da ópera: o egoísmo faz parte da natureza animal. O ego está na frente de tudo. Disfarçado em sensatez ou em amor à divindade, ele não larga a criatura humana, embora nessas circunstâncias seja um ego desarmado, avesso à agressão e à violência.
Infelizmente, a sensatez e a religiosidade profissional são exceções. O que predomina na maioria absoluta dos homens é a insensibilidade, provocada pela exacerbação do egoísmo. As redes sociais que o digam. Nelas, o ego é onisciente e onipresente. O mais corriqueiro é a grosseria. Mesmo os cristãos, que deveriam “amar ao próximo como a si mesmos”, se servem de execráveis adjetivos, para desqualificar a quem não pensa como eles. E a intolerância é alimentada todo o dia, a toda a hora: um poço sem fundo.



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